Agora, (ainda) na hora das nossas mortes
“A pandemia levou a uma emergência de grupos conservadores online”, diz uma socióloga. Vade retro, que a liberdade não tenciona ir de férias.
Viramos a página e lemos: “Este ano de 21 ficará na História”. E logo a seguir esta frase: “O autoritarismo conservador tem agora uma voz”. Não é um jornal nem é recente, é um livro. E o episódio nele relatado, na página 49, é a eleição de um homem para deputado. Era provedor da Misericórdia de Coimbra, e aceitou, contrariado, ser nomeado deputado por Guimarães. Foi até Lisboa, assistiu à sessão de abertura do Parlamento (em Julho) e decidiu não voltar lá. A um colega de bancada terá dito (a citação é biográfica): “Ature-os por cá, que eu vou de férias”. E foi. Portugal, esse, estava em polvorosa. A República agonizava. Em Outubro, revoltosos foram à caça de líderes republicanos e assassinaram vários. O Parlamento foi dissolvido e não tardaria nova revolta militar com mão-de-ferro. Foi então que chamaram o senhor deputado que tinha ido de férias. E ele, mostrando-se relutante, voltou. Negociou, pôs condições. Ficou ministro, com o gongórico título (exibido nos jornais) de “Ditador das Finanças”. Chamava-se António de Oliveira Salazar e não voltou a ir de férias. A liberdade é que fez as malas. Por 48 anos.
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