Paulo Sousa já disse sim ao Flamengo. Falta o resto
O técnico português de 51 anos deverá ser oficializado no clube carioca em breve. Mas a federação polaca não o vai deixar sair de qualquer maneira.
O Flamengo queria um treinador português. Era mais do que óbvio. Por isso, o clube carioca enviou dois dos seus altos quadros, Marcos Braz (vice-presidente) e Bruno Spindel (director executivo para o futebol), a Portugal para fechar negócio. Jorge Jesus era a escolha sentimental, por tudo o que fez enquanto técnico dos rubro-negros, e era quem os adeptos queriam, e Carlos Carvalhal também estaria na lista. Carvalhal nem chegou a ser hipótese (António Salvador não deixou) e Jesus terá dito “talvez” – mas seria preciso esperar. E os dirigentes do Flamengo voltaram-se para Paulo Sousa, o único que tinha dito sim sem reservas.
O ainda seleccionador da Polónia será o próximo treinador do Flamengo e, segundo a imprensa brasileira, terá à sua espera um contrato de duas temporadas, sendo que o português terá assumido o pagamento da indemnização por quebra de contrato com os polacos – cerca de 300 mil euros. Mas a federação polaca não vai deixar Paulo Sousa ir para o Rio de Janeiro assim tão facilmente. Encara a decisão do técnico português de abandonar a selecção durante a qualificação para o Mundial 2022 – vai jogar com a Rússia na primeira ronda do play-off em Março do próximo ano – como uma traição, e tem agendada para quarta-feira uma reunião sobre como lidar com a situação.
Se parece claro que Paulo Sousa não irá continuar a orientar a selecção polaca, a grande dúvida será em que condições é que essa quebra de vínculo irá acontecer. Se será imediata ou apenas quando a selecção polaca disputar o play-off de apuramento para o Mundial, se haverá algum tipo compensação que Paulo Sousa ou o Flamengo tenham de pagar, e de quanto será. Tudo isto poderá ser esclarecido com a reunião desta quarta-feira. E disto poderá depender o timing da oficialização do português como novo técnico do Flamengo.
As primeiras notícias que davam conta do acordo do técnico português com o Flamengo surgiram no domingo, dia de Natal, e logo Cezary Kulesza, presidente da federação polaca, classificou o comportamento de Paulo Sousa como “extremamente irresponsável”, recusando de imediato o pedido de rescisão. No mesmo tom foi a reacção de Zbigniew Boniek, o ex-presidente da federação polaca e responsável pela contratação de Paulo Sousa em Janeiro deste ano, “incrivelmente enojado e um pouco desapontado”.
O PÚBLICO tentou contactar a agência que gere a carreira de Paulo Sousa, mas a única resposta que obteve foi de que não havia “nada a adiantar”. Em declarações reproduzidas pela agência noticiosa polaca PAP, Hugo Cajuda, o agente de Sousa (que também gere a carreira de Abel Ferreira, treinador bicampeão da Libertadores com o Palmeiras), disse que havia “muita informação no ar que não era verdade”, frisando que não havia acordo do técnico com o Flamengo.
Segundo divulgou o site Globo Esporte, Paulo Sousa foi até o primeiro treinador com que os dois enviados do Flamengo reuniram em Portugal. A notícia do “Globo” dá conta de uma reunião a 19 de Dezembro, em Fátima, que durou cerca de seis horas, em que o técnico português impressionou os dirigentes do clube brasileiro – mas Jorge Jesus continuaria a ser o nome prioritário. Houve uma sondagem de intenções entre o Flamengo e o técnico do Benfica, mas não houve nenhum compromisso assumido pelas duas partes.
Perante a indefinição da situação de Jesus no Benfica, mais o interesse do Internacional de Porto Alegre em Paulo Sousa, os dirigentes brasileiros avançaram para o seleccionador da Polónia. Paulo Sousa terá, então, dito sim ao desafio brasileiro e, por arrasto, não à possibilidade de estar no próximo Mundial, cujo apuramento polaco não está garantido. Como técnico da selecção de Lewandowski, Paulo Sousa disputou 15 jogos, com seis vitórias, cinco empates e quatro derrotas. Com ele, a Polónia não passou na fase de grupos no Euro 2020 disputado em 2021 e foi segunda no grupo de qualificação para o Mundial, atrás da Inglaterra e sem garantir o estatuto de cabeça-de-série no play-off.
Com a ida para o Flamengo, o antigo médio volta a treinar um clube, ele que, antes da selecção polaca, começou nas selecções jovens de Portugal, transitando depois para os clubes em 2008 – Queens Park Rangers (Inglaterra), Swansea (Gales), Leicester City (Inglaterra), Videoton (Hungria), Maccabi Telavive (Israel), Basileia (Suíça), Fiorentina (Itália), Tianjin Quanjian (China) e Bordéus (França).