Com as imagens e a voz de Julião Sarmento, no mistério do desejo

No Mudas Museu de Arte Contemporânea da Madeira, a primeira exposição póstuma de Julião Sarmento encena uma narrativa em que os corpos, as imagens fixas e em movimento envolvem o visitante num jogo de revelações e ocultações. Entre silhuetas, fragmentos e ecos de vozes.

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Retrato fotográfico de uma mulher (interpretada pela actriz Maria João Bastos), o enquadramento é neutro, frontal. Dir-se-ia que identifica alguém (a actriz, certamente) mas, a partir do momento em que colocamos os auscultadores, a imagem passa a ser uma pessoa que nos diz coisas gregório cunha
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Curador Benjamin Weil jogou com a narrativa do espaço, com pontos de vista e perspectivas, numa cenografia em que uma sala conduz a outra sala, um corredor aponta a outro corredor. gregório cunha
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gregório cunha

Comece-se por o que parece ser a conclusão. Na última sala da exposição (Un)disclosed, ouve-se a voz de Julião Sarmento (1948-2021). Descreve, na peça sonora intitulada Tribu, uma exposição que não chegou a existir. Ou que existe ali, na condição de som, a dizer qualquer coisa. Qualquer coisa, sublinhe-se, nunca tudo. É aceitando esse jogo de escondidas que o visitante percorrerá a primeira exposição póstuma do artista Julião Sarmento, que estará no Mudas Museu de Arte Contemporânea da Madeira até 31 de Agosto de 2022. Pelo espaço, entre salas, por corredores, sobre as paredes ou no chão encontram-se obras: um filme que não se pode ver, imagens fixas animadas pelo movimento dos passos, um retrato fotográfico que fala, uma escultura que parece um corpo. Fragmentos, ecos, silhuetas, aparições que formam uma narrativa. A trama não é linear, perdemo-nos pelas salas, não temos a certeza do caminho. Se estamos a ver ou a ser vistos.

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