Combates filiais e lutas contra a ausência
Vários foram os espectáculos extraordinários que nos fizeram testemunhas de conflitos geracionais e de histórias com protagonistas pouco habituais. Ivo Van Hove, Ali Chahrour, Sarra Barros Leitão e Victor de Oliveira não nos deixarão esquecer 2021.
Em Julho deste ano, o encenador belga Ivo Van Hove dizia ao Ípsilon que ao ler Quem Matou o Meu Pai, de Édouard Louis, se vira confrontado com uma voz que entendia ter desaparecido (ou ter sido soterrada por tantas outras) na literatura do século XX. A voz do operariado, a voz dos trabalhadores anónimos que aguentam a infernal máquina do quotidiano e para quem raramente olhamos e que poucas vezes escutamos. Aquilo que então assistimos no D. Maria II, em programação do Festival de Almada, era precisamente a queda livre em direcção ao sofrimento pessoal de um homem (o pai do escritor) esmagado pelo trabalho, habitante de um corpo usado, quebrado e cuspido, que o Estado ajudara a enterrar ainda mais com umas pazadas suplementares de desprezo e desconsideração.
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