Putin lembra que o Ocidente é que está sempre a falar em “guerra, guerra, guerra” na Ucrânia

Na sua habitual conferência de imprensa anual, o Presidente russo responsabilizou os EUA e a NATO pelas tensões na Europa de Leste e a Alemanha pela crise energética.

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Conferência de imprensa de final de ano já é uma tradição do Presidente Putin YURI KOCHETKOV/EPA

Vladimir Putin valeu-se da tradicional conferência de imprensa de final de ano, realizada nesta quinta-feira, para defender a Federação Russa das acusações que lhe têm sido feitas pelos países Ocidentais, sobre uma série de temas que marcam a actualidade: a instabilidade na Ucrânia; a crise energética; a rivalidade com a NATO; a detenção do opositor político Alexei Navalny; a gestão da pandemia; ou o desempenho da economia russa.

Sobre a questão ucraniana e os receios de um conflito militar de larga escala no Leste do país, o Presidente russo garantiu que se trata de uma narrativa que está a ser promovida pela NATO e, particularmente, pelos Estados Unidos.

Putin recusou responsabilidades da Rússia na escalada de tensão e da retórica sobre a região, criticou a ameaça de sanções vinda de Washington e exigiu garantias aos norte-americanos antes do início das negociações entre os dois países, em Janeiro do próximo ano.

“Estão sempre a dizer: guerra, guerra, guerra. Fica a impressão que talvez se estejam a preparar para uma terceira operação militar [na Ucrânia] e que nos estão a avisar: não intervenham, não protejam estas pessoas; mas se intervierem e as protegerem, haverá novas sanções”, zombou o chefe de Estado russo.

“Não fomos nós que chegámos às fronteiras dos EUA ou do Reino Unido. Não. Foram eles que chegaram às nossas”, atirou, citado pela BBC, numa referência à contínua expansão da NATO para Leste.

“Foram os Estados Unidos que trouxeram os seus mísseis até à nossa casa, até à soleira da nossa porta”, insistiu Putin. “E agora exigem-nos algumas garantias. Vocês [EUA] é que têm de nos dar garantias. Vocês! Imediatamente, sem demoras!”

No centro do furacão estão as denúncias das forças de segurança e dos serviços de informação ucranianos e norte-americanos de que a Rússia enviou mais de 100 mil soldados, tanques e peças de artilharia para a fronteira com a Ucrânia e que está a preparar uma ofensiva militar já em 2022.

Moscovo exige que a NATO ponha fim às actividades e exercícios militares no Leste europeu e que se comprometa publicamente de que não vai encetar esforços para admitir a entrada da Ucrânia – palco de uma violenta e duradoura guerra civil, entre o Exército ucraniano e forças separatistas pró-russas, desde a anexação russa da Crimeia, em 2014 –, ou de países como a Geórgia, na aliança militar, como Estado membro.

“A bola está do lado deles [países Ocidentais], são eles que têm de nos dar algumas respostas”, concluiu Putin.

Gás, Nalvany e interferências

Outros dos temas tratados por Vladimir Putin na conferência de imprensa foi a polémica em redor do aumento do preço do gás natural, que provocou recentemente uma crise energética na Europa, e cujo fornecimento é visto há muito pelos principais beneficiários europeus como uma arma de pressão política russa.

O Presidente da Rússia garantiu que a Gazprom está a cumprir com todas as suas obrigações contratuais e disse que o aumento do preço do gás não foi causado pela empresa energética russa ou pelo Estado russo.

Putin lançou ainda acusações graves à Alemanha, dizendo que está a revender gás russo à Polónia e à Ucrânia para obter lucro.

“Colocaram esta rota [o gasoduto Yamal] em modo de inversão, ou seja, da Alemanha para a Polónia. E têm estado a bombear [gás natural] da Alemanha para a Polónia há vários dias. Porquê? Simplesmente porque nós fornecemos gás à Alemanha através de contratos de longa duração que são quatro, seis e sete vezes mais baratos do que aquilo que existe [no mercado]. Só por revender um bilião de metros cúbicos, é possível ganhar 1 bilião de dólares”, explicou o líder russo.

Sobre as acusações dos países Ocidentais de que o envenenamento, a detenção e a condenação do activista anticorrupção e opositor político Alexei Navalny foram patrocinadas pelo Kremlin, Putin voltou a rejeitar responsabilidades e pediu que se “vire a página” desse assunto.

“Condenados, sempre houve. Não devemos cometer crimes”, disse o Presidente. “Enviámos vários pedidos do Ministério Público russo para se entregarem provas para confirmar que houve, de facto, envenenamento. E nada. Não há uma única prova”.

E o mesmo se aplica aos assassínios do opositor político Boris Nemtsov, em 2015, e da jornalista Anna Politkovskaya, em 2006, afiançou: “Fiz tudo para esclarecer esses assassínios. As respectivas ordens foram dadas. Várias pessoas foram presas por esses crimes”.

Sobre aquilo que considera serem tentativa de influência estrangeira na Federação Russa, utilizando opositores e dissidentes políticos russos, Vladimir Putin recordou a lógica que esteve por trás do processo que levou à desintegração da União Soviética, no início dos anos 1990: “Lembro o que os nossos adversários dizem há séculos: ‘A Rússia não pode ser derrotada, só pode ser destruída por dentro’”.

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