Excedente no terceiro trimestre põe Governo perto de superar meta para 2021

Saldo positivo nas contas públicas foi de 1904 milhões de euros, com ajuda de uma receita extraordinária de 1114 milhões. Défice nos primeiros nove meses do ano está bem abaixo da estimativa do Governo para o total do ano.

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O ministro das Finanças, João Leão, registou uma receita extraordinária no terceiro trimestre. Reuters/PEDRO NUNES

Apesar da persistência dos efeitos negativos da pandemia, Portugal parece agora estar a caminho de um défice público em 2021 inferior aos 4,3% previstos pelo Governo em Outubro e já mais próximo da regra europeia dos 3% que está suspensa até ao final de 2022.

Durante o terceiro trimestre deste ano, revelou esta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE), as contas públicas portuguesas interromperam uma série de défices trimestrais que durava já desde 2019 e registaram um excedente muito significativo, que faz com que apenas um saldo negativo nos últimos três meses deste ano como já não se vê desde a injecção de 4900 milhões de euros no Novo Banco em 2014 possa evitar que o défice fique abaixo da estimativa do Executivo.

Durante o terceiro trimestre, o excedente foi de 3,5% do PIB, ou 1904 milhões de euros, o que colocou o défice durante os primeiros nove meses deste ano em 2,5%. É um valor que é menos de metade dos 5,5% que se registaram na primeira metade de 2021 e que fica também bem abaixo do défice de 4,3% que o Governo estima, deste Outubro, para a totalidade de 2021.

Fazendo as contas – e mesmo assumindo que o valor do PIB no quarto trimestre se mantém igual ao do terceiro – seria agora necessário um défice superior a 5000 milhões de euros, ou mais de 9% do PIB trimestral, para que no total do ano se chegasse à estimativa de 4,3%. Para encontrar um resultado trimestral tão negativo é necessário recuar ao terceiro trimestre de 2014, período em que o Estado realizou a capitalização de 4900 milhões de euros no Novo Banco.

No segundo trimestre de 2020, no auge da pandemia, com as receitas fiscais em queda e com uma percentagem muito elevada de trabalhadores em layoff, o défice foi de 4800 milhões de euros.

Numa conferência de imprensa em que comentou os dados das contas nacionais publicados esta quinta-feira pelo INE, o ministro das Finanças, contudo, não reviu em baixa a sua estimativa para o défice de 2021. João Leão afirmou que o regresso a um saldo negativo no quarto trimestre é inevitável, destacando mesmo a existência de alguns factores que irão influenciar negativamente o resultado, como a injecção de capital na TAP ou as medidas tomadas para conter a subida do preço da electricidade, que João Leão estima que poderão representar despesas próximas de 500 milhões cada uma.

Para o total do ano, disse apenas que Portugal irá “cumprir pelo sétimo ano consecutivo o objectivo do défice”. “É uma tradição nova que ajudou Portugal a conquistar credibilidade nos mercados internacionais e a ter os juros mais baixos de todos os países do Sul da zona euro”, destacou.

Tentando justificar como é que foi possível o Estado registar um excedente numa altura em que o país ainda sente os efeitos sanitários, económicos e sociais negativos da pandemia, João Leão fez questão de salientar que se continua a registar um aumento em despesas como as do investimento ou com o Serviço Nacional de Saúde, lembrando ainda o efeito positivo nas contas que se verificou no terceiro trimestre por causa da entrada de uma receita de carácter extraordinário.

De facto, na divulgação dos dados das contas nacionais, o INE assinala que o resultado do terceiro trimestre é influenciado por uma receita extraordinária - já prevista pelo Governo no OE – de 1114,2 milhões de euros: o reembolso recebido pelo Estado português do Fundo Europeu de Estabilização Financeira de um adiantamento feito pelo país no momento em que recebeu o empréstimo da troika.

É um contributo muito positivo para as contas do terceiro trimestre, mas, ainda assim, mesmo sem este valor, o saldo orçamental nesse período seria igualmente positivo, em cerca de 800 milhões de euros.

João Leão explicou ainda que “o terceiro trimestre é um trimestre tipicamente mais positivo das contas públicas”, já que é um período em que o Estado não tem de suportar nem subsídio de férias, nem subsídios de Natal.

No entanto, também a ajudar de forma muito significativa as contas está, até este momento, uma evolução das receitas fiscais que é mais positiva do que aquilo que era estimado pelo Governo há apenas três meses. Nos primeiros nove meses do ano, revelam os números publicados pelo INE, a receita fiscal cresceu 7,6% face a igual período do ano passado. Para a totalidade de 2021, o Governo apresentou em Outubro (na proposta de OE para 2022), uma estimativa de aumento da receita fiscal de 5,4%.

Uma justificação para esta evolução tão positiva na cobrança de impostos (e também das contribuições sociais) foi dada pelo ministro, que assinalou o facto de o emprego estar a surpreender pela positiva, encontrando-se “ao nível mais elevado dos últimos 10 anos”.

Do lado do investimento público, é possível verificar que, ao contrário do que vinha acontecendo nos anos anteriores, a execução dos valores orçamentados está a ser cumprida e mesmo superada. Os dados do INE mostram que o investimento realizado pelas Administrações Públicas cresceu 31,2% nos primeiros nove meses de 2021, um valor que é superior ao aumento de 27,3% que era estimado em Outubro na proposta de OE para 2022.

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