Paulo Colaço, o “quase advogado” do PSD que regressou à universidade

O presidente do conselho de jurisdição nacional derrotou Nuno Morais Sarmento, o candidato em que Rui Rio apostou as fichas todas. Aos 46 anos, Paulo Colaço viu o congresso dar-lhe uma segunda vitória.

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Paulo Colaço Anna Costa

A Juventude Social-Democrata foi o seu primeiro berço em termos partidários. Tinha 16 anos quando ingressou na JSD, fazendo parte da concelhia de Rio Maior. Ainda na JSD, chegou a vice-presidente da jurisdição nacional e membro da comissão política nacional (como director de informação). A sua ligação ao PSD chegou mais tarde, já com um pouco mais de 18 anos. Os seus primeiros passos no partido foram dados como vice-presidente de Isaura Morais na concelhia do partido em Rio Maior.

A primeira vez que decidiu candidatar-se a membro da jurisdição foi em 2002, quando Carlos Encarnação era presidente do órgão. Exceptuando as lideranças de Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite e de Luís Filipe Menezes — nesse período foi vice-presidente do PSD de Rio Maior e era incompatível pertencer ao órgão jurídico e ao mesmo tempo aos órgãos partidários , Colaço foi sempre candidato a vogal daquele órgão, para a presidência do qual viria a ser eleito há dois anos, no penúltimo congresso do partido que decorreu em Viana do Castelo. Na altura tinha 44 anos e não afastava a possibilidade de voltar a candidatar-se ao cargo.

No congresso deste fim-de-semana, avançou com uma candidatura, mas a vitória foi suada, mais do que há dois anos. O recém-eleito presidente da jurisdição do PSD, de 46 anos feitos na sexta-feira, no primeiro dia da reunião magna dos sociais-democratas , regressou recentemente aos bancos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa que frequentou enquanto estudante. O facto de não ser formado em Direito e de presidir ao órgão que é considerado o tribunal do partido tem-lhe valido alguns amargos de boca, como aconteceu no congresso deste fim-de-semana.

“Não sei quando irei concluir o curso, não tenho nem muito tempo, nem muita pressa”, declarou ao PÚBLICO o dirigente nacional do PSD que, actualmente, trabalha em comunicação, dando formação sobre como falar em público e também sobre escrita criativa e campanhas eleitorais.

Em 2018, Paulo Colaço foi notícia ao renunciar ao cargo de membro no CJN do PSD (era primeiro vogal) na sequência de uma divergência em pleno conselho nacional extraordinário com Paulo Mota Pinto, presidente da mesa do congresso, contra quem apresentou uma acção disciplinar por “comportamentos graves” na gestão dos trabalhos dessa sessão que decorreu no Porto. No diferendo sobre o método de votação da moção de confiança à direcção de Rui Rio, Colaço acusou Mota Pinto de ignorar um parecer do órgão jurisdicional e de ter transformado a reunião numa “arruaceira RGA [reunião geral de alunos]”.

Na carta de renúncia, escreveu também que a acção disciplinar contra o presidente da mesa do conselho nacional visava a “destituição” de Mota Pinto, acusado de ter tentado impedir que o conselho de jurisdição nacional exercesse as suas funções, usando da palavra, e de ter ignorado um parecer vinculativo.

Este episódio com Paulo Mota Pinto foi a única “polémica grande” em que se envolveu na sua longa passagem pelo órgão jurisdicional, que começou em 2002, no 24.º Congresso do PSD, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, quando ainda era militante do “jota”. “Pela primeira vez, a JSD (na altura liderada por Pedro Duarte) apoiou uma lista à jurisdição do partido”, conta. O facto de ser pouco conhecido na altura no partido levou a que a lista fosse encabeçada pelo antigo deputado António Costa Rodrigues. A partir daí, nunca mais deixou de encabeçar uma candidatura ao CJN, apesar de nunca ter sido eleito presidente.

Há dois anos, o ex-vogal da jurisdição muniu-se da experiência que foi adquirindo ao longo destes anos e disse que estava em condições de assumir a presidência daquele órgão, liderado por Nunes Liberato. Concorreu e ganhou.

Nas penúltimas directas, Paulo Colaço não apoiou nenhum dos candidatos à liderança do partido. “Foi a primeira vez que não apoiei ninguém”, revelou na altura assumindo uma posição equidistante por considerar que aquela era a primeira vez que assumia verdadeiramente a sua candidatura a presidente do órgão jurisdicional.

A sua resiliência em ser candidato ao longo de vários anos aproximou-o muito dos militantes do PSD e, na sexta-feira, Paulo Colaço pediu aos congressistas um presente de aniversário. “Já não tenho idade para pedir prendas, mas peço na mesma: subscrições para a minha candidatura. Retribuirei com mais dois anos de rigor e coragem”, escreveu em tom de ironia na sua página na rede social Facebook. Olhando para os resultados fica a convicção de que os delegados parecem ter atendido ao seu pedido.

Quem o conhece enaltece-lhe os dotes culinários que fizeram dele o actual Grão-Mestre da Real Confraria do Cozido à Portuguesa, criada há um ano. “Era um crime não haver uma associação ligada ao prato mais icónico da nossa gastronomia”, diz, evidenciando o seu sentido de humor.

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