Fed muda de rumo na véspera da reunião do BCE
Reserva Federal já não vê inflação elevada como transitória e acelera fim das compras de dívida, abrindo o caminho para um início da subida das taxas de juro logo em meados de 2022.
Com a inflação nos 6,8% no passado mês de Novembro, o máximo registado nos Estados Unidos desde 1982, a Reserva Federal norte-americana viu-se forçada esta quarta-feira a operar uma viragem brusca no rumo da sua política monetária, antecipando um fim mais rápido das suas compras de dívida e marcando o início de uma série de subidas das taxas de juro logo para meados de 2022.
Um dia antes da reunião do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) desta quinta-feira, os líderes da autoridade monetária dos EUA reuniram-se para decidir o que fazer perante o cenário de persistência da escalada da inflação a que se tem assistido.
E se até agora Jerome Powell, o presidente da Fed, tinha vindo a destacar o facto de a subida de inflação se dever a factores extraordinários e temporários, como as perturbações nas cadeias de distribuição internacionais, esta quarta-feira o discurso mudou, conduzindo imediatamente a uma alteração do rumo da política.
Jerome Powell deixou de utilizar a palavra “transitória”, quando se referiu à inflação, dizendo antes que “os desequilíbrios entre a oferta e a procura relacionados com a pandemia e a reabertura da economia continuaram a contribuir para os elevados níveis da inflação”, e fazendo questão de deixar claro que “estes problemas têm sido maiores e mais duradouros do que o previsto”.
É isto que explica que a Fed tenha decidido duplicar o ritmo a que reduz o volume de compras de dívida pública que tem vindo a efectuar. Os cortes nas compras mensais passarão a ser agora de 30 mil milhões de dólares a cada mês, o que significa que, no final de Março, o programa de compras poderá ser dado por concluído.
As subidas de taxas de juro (que ainda estão coladas a zero), por sua vez, não deverão demorar muito mais tempo a surgir. Os membros do comité de política monetária da Fed prevêem agora que sejam realizadas logo três subidas de taxas de juro durante o próximo ano (antes estavam divididos em relação a se haveria alguma subida), com mais três subidas esperadas em 2023 e duas em 2024.
Jerome Powell, ao ser questionado sobre quando é que se poderia esperar a primeira subida de taxas de juro, deu sinais de que tal poderá acontecer já em meados de 2022. O presidente da Fed disse não prever “uma espera muito longa” entre o fim do programa de compra de dívidas (agendado agora para Março) e a primeira subida de taxas de juro.
“A economia está muito mais forte agora, mais perto do pleno emprego. A inflação está bem acima do objectivo e o crescimento acima do potencial. Não haverá necessidade de uma longa espera”, disse.
Esta mudança de rumo nos EUA, um dia antes da reunião do conselho de governadores do BCE, aumenta ainda mais a pressão sobre Christine Lagarde, à frente do BCE, para que defina a estratégia da instituição perante a persistência da subida da inflação registada nos últimos meses também na zona euro.
Os responsáveis do BCE têm mantido até agora o argumento de que a inflação está a subir devido essencialmente a factores temporários e que deverá começar a descer já no início de 2022. Defendem, por isso, que não faria sentido o banco central retirar rapidamente os seus estímulos, uma vez que tal só viria a produzir efeitos numa altura em que a inflação estaria já a descer.