Tribunal alemão diz que Rússia ordenou assassínio de antigo militante tchetcheno em Berlim

A morte de Tornike Khangoshvili em plena luz do dia no coração de Berlim foi um acto de “terrorismo de Estado” da Rússia. Alemanha chama embaixador russo em Berlim e expulsa dois funcionários da embaixada da Rússia.

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Sessão do Tribunal em que foi julgado o caso do "assassínio do Tiergarten" CHRISTOPHE GATEAU/Reuters

Um tribunal alemão considerou que a Rússia ordenou o assassínio de um antigo militante tchetcheno, condenando esta quarta-feira a prisão perpétua o agente russo que executou o crime, dizendo tratar-se de um acto de “terrorismo de Estado” da parte da Rússia.

Pouco depois, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, declarou que o caso mostra que houve “uma violação grave da lei e soberania da Alemanha” que iria “ter consequências” na relação entre os dois países. Por isso, anunciou que dois membros da embaixada russa em Berlim iriam ser expulsos. A Rússia declarou pouco depois que iria retaliar, remetendo detalhes para mais tarde.

As autoridades alemãs já tinham expulsado dois diplomatas russos após o crime, acusando as autoridades russas de não cooperarem com a investigação, e a Rússia retaliado na mesma medida, expulsando dois diplomatas alemães.

O veredicto foi enunciado quando o Governo alemão acabou de tomar posse, na semana passada, com uma ministra dos Negócios Estrangeiros dos Verdes, defensores de uma linha muito mais crítica com a Rússia (assim como os liberais, que também integram o Governo), e um chanceler do SPD, tradicionalmente muito mais próximo de Moscovo. Isto numa altura em que o envio de tropas e material da Rússia para a sua fronteira com a Ucrânia está a causar medo de que haja uma invasão militar.

Zelimkhan “Tornike” Khangoshvili​, cidadão da Geórgia de etnia tchetchena e que comandou uma milícia tchetchena entre 2000 e 2004, foi morto em Agosto de 2019, num parque não muito longe da chancelaria, no que ficou conhecido como “o crime do Tiergarten” (o parque chama-se Kleiner Tiergarten). Foi especialmente notado pela localização e por ter sido cometido em plena luz do dia.

Khangoshvili foi morto com três tiros disparados de uma pistola Glock. O suspeito agora condenado, Vadim Krasikov, foi detido pouco depois – tinha atirado a bicicleta em que seguia, a pistola e um disfarce ao rio, mas a polícia deteve-o e recuperou a arma do crime graças a testemunhas que viram o crime e contactaram a polícia.

O juiz justificou a pena agravada de prisão perpétua, e não doa típica pena máxima de 15 anos de prisão, pela “natureza especialmente grave de culpa” neste caso, cita a agência Reuters.

A acusação mostrou como o suspeito viajou por vários países europeus com o nome de Vadim Solokov, e documentos emitidos pelas autoridades russas nesse nome, e milhares de euros em dinheiro, um mês antes do crime.

“No máximo em Junho de 2019, órgãos de Estado do Governo central da Federação Russa tomaram a decisão de liquidar [a vítima] em Berlim”, disse o juiz Olaf Arnoldi.

Khangashvili tinha sido descrito pelo Presidente russo, Vladimir Putin, como um “terrorista”. Putin disse que era culpado de vários crimes incluindo um atentado no metro de Moscovo em 2004 em que morreram dez pessoas.

“Khangashvili tinha deixado a luta contra a Federação Russa há anos. Não tinha uma arma na mão desde 2008”, continuou o juiz, citado pela Reuters. “Esta não foi uma acção de auto-defesa da Rússia. Isto não foi nada mais nada menos do que terrorismo de Estado”, declarou.

Os advogados do condenado dizem que ele não é Krasikov mas sim Vadim Solokov, engenheiro de São Petersburgo, e anunciaram que vão recorrer da decisão. A embaixada da Rússia em Berlim disse que o veredicto não era objectivo e tinha “motivações políticas”, segundo a agência TASS.

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