Putin recebe apoio de Xi para enfrentar a NATO
Os dois líderes aliados mantiveram um encontro virtual numa altura de elevada tensão geopolítica na Europa de Leste. Moscovo entregou aos EUA um pedido para que a NATO não se expanda a Leste.
O Presidente russo, Vladimir Putin, recebeu o apoio público do seu homólogo chinês, Xi Jinping, no braço-de-ferro entre Moscovo e a NATO que está a aprofundar a tensão no Leste da Europa.
Os dois líderes falaram por videoconferência esta quarta-feira e teceram vários elogios às boas relações entre os seus países, enquanto apontaram críticas aos EUA e aos seus aliados.
“Um novo modelo de cooperação foi formado entre os nossos países baseado, entre outras coisas, em princípios como a não- interferência nos assuntos internos, respeito pelos interesses do outro, e determinação de fazer da fronteira partilhada uma cintura de paz eterna e boa vizinhança”, declarou Putin, no início da reunião com Xi.
Xi, por seu turno, disse apreciar muito o “forte apoio” de Putin “aos esforços da China em proteger os seus interesses nacionais fundamentais” e mostrou “oposição firme às tentativas em afastar os dois países”.
O líder chinês criticou “certas forças internacionais que ao abrigo da ‘democracia’ e dos ‘direitos humanos’ estão a interferir nos assuntos internos da China e da Rússia”, segundo uma citação divulgada pela agência estatal Nova China. “A China e a Rússia devem intensificar os seus esforços conjuntos para assegurar de forma mais eficiente os interesses de segurança das duas partes”, acrescentou.
Os laços entre os dois países, embora nem sempre totalmente pacíficos, têm sido reforçados nos últimos tempos. Em Junho, o tratado de cooperação e amizade firmado há 20 anos foi oficialmente prolongado por mais cinco.
O encontro virtual entre os dois aliados acontece numa altura em que ambos estão na mira de fortes críticas por parte dos EUA, da União Europeia e da NATO. A Rússia quer garantias de que a Aliança Atlântica não irá continuar a expandir-se para as antigas repúblicas soviéticas, o que Moscovo vê como um risco à sua segurança nacional, e, para as obter, tem deixado a Ucrânia sob pressão – há várias semanas que milhares de tropas russos estão estacionados na fronteira ucraniana e há receios de que se esteja a planear uma invasão, embora Moscovo negue qualquer intenção nesse sentido.
A China tem sido muito criticada, sobretudo pelos EUA, pelas violações de direitos humanos sobre a minoria uigur em Xinjiang, pelas ameaças veladas a Taiwan e pelas reivindicações territoriais no Mar do Sul.
Putin pôs Xi ao corrente dos temas do encontro, também virtual, que manteve na semana passada com o Presidente dos EUA, Joe Biden, em que a Ucrânia foi abordada, disse o assessor do Kremlin, Iuri Ushakov. O Presidente chinês manifestou apoio às garantias de segurança requeridas por Putin face à NATO e ambos expressaram uma “opinião negativa” em relação a novas alianças militares, como a recente parceria entre a Austrália, os EUA e o Reino Unido, conhecida como AUKUS.
Putin também disse que pretende encontrar-se pessoalmente com Xi em Fevereiro, por altura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que os EUA já disseram vir a boicotar.
Na antecipação da reunião entre Xi e Putin, o Kremlin admitiu que a situação internacional é “muito tensa”.
Esta quarta-feira, a secretária de estado adjunta dos EUA, Karen Donfried, foi recebida em Moscovo para receber por escrito a lista das garantias de segurança que a Rússia quer ver cumpridas pela NATO. “Estamos preparados para iniciar negociações neste tema crucial imediatamente”, afirmou Ushakov.