Operação policial na Alemanha após plano para assassinar chefe de governo da Saxónia

Michael Kretschmer seria o alvo de um grupo de extremistas por causa das medidas para controlo da pandemia. Detido um de seis suspeitos.

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Polícia detém um dos suspeitos de envolvimento no plano de assassinar o chefe do governo do estado federado da Saxónia MATTHIAS RIETSCHEL/Reuters

A polícia do estado federado da Saxónia levou a cabo esta quarta-feira buscas em vários locais em Dresden e Heidenau relacionadas com um plano para assassinar o chefe do governo do estado federado, Michael Kretschmer (CDU), por causa das medidas de contenção da pandemia.

Em causa estavam inicialmente seis locais ligados a cinco suspeitos, segundo o porta-voz da polícia Tom Bernhardt, membros de um grupo chamado “rede offline de Dresden” no canal de mensagens Telegram. Na troca de mensagens, era sugerido que tinham em sua posse armas de fogo e bestas, como tinha sido noticiado num programa da emissora pública de televisão ZDF, cuja equipa se infiltrou na rede de mais de cem pessoas.

A operação envolveu 140 elementos das forças de segurança e aconteceu depois de uma semana de planeamento, segundo a outra emissora pública de televisão, a ARD.

“As suspeitas iniciais foram confirmadas”, disse a polícia no Twitter, dizendo que foram encontradas bestas, armas e partes de armas, estando ainda por determinar se teriam capacidade para serem disparadas. Foi detido um homem.

Entretanto, segundo a ARD, juntou-se mais uma pessoa à lista de suspeitos, que eram seis ao final do dia: cinco homens e uma mulher, com idades entre os 32 e os 64 anos, segundo as autoridades.

Michael Kretschmer disse que o plano para o matar “não o deixava indiferente”, mas que não iria “deixar-se intimidar”. “Claro que fico preocupado. Mas vou retirar daqui força e energia”, disse à agência de notícias alemã DPA. “Quando for deste modo que lidarmos uns com os outros, este país está perdido. E não está”, declarou.

Kretschmer disse que é preciso “lutar com todos os meios jurídicos” contra estas ameaças e tentativas de intimidação, e que esta não é uma questão individual que o afecte apenas a si. “As pessoas em cargos públicos não podem ter medo de dar a sua opinião e fazer o seu trabalho. O mesmo para grupos como jornalistas”, declarou ainda. “Estas pessoas têm de ser protegidas.”

A ARD noticiou na véspera que houve uma campanha concertada de envio de ameaças a uma série de políticos, sedes de media e de instituições, prometendo “resistência sangrenta” à vacinação obrigatória, com pedaços de carne e uma carta a acompanhar que dizia que estes tinham “vírus covid-19 radioactivo e Zyklon-B”, a substância usada pelos nazis nas câmaras de gás.

Não foi indicado quem recebeu as cartas, embora haja informações de que o presidente da câmara ainda em funções de Berlim, Michael Müller, seja um dos visados das ameaças, doze no total.

Desde muito cedo na pandemia que houve ameaças de morte a cientistas, como o virologista Christian Drosten, ou ao actual ministro da Saúde, Karl Lauterbach, que como porta-voz do SPD (Partido Social-Democrata) para questões de saúde falava frequentemente em programas televisivos sobre a covid-19.

A Saxónia, no Leste da Alemanha, tem visto cada vez mais protestos, incluindo um, no mês passado, em que manifestantes com tochas se juntaram à porta da casa do ministro do Interior, no que foi visto como uma tentativa de intimidação.

Este é neste momento o segundo estado federado com maior taxa de infecção pelo vírus da covid-19 (a Turíngia, também no Leste, é o primeiro) e o que tem a menor taxa de vacinação (59,1%).

Tem havido protestos contra medidas de contenção da pandemia e contra planos de tornar a vacinação obrigatória, e grupos anti-vacinas e de extrema-direita têm-se juntando nestas acções.

Na Alemanha, as ameaças a políticos são um problema, especialmente depois da morte, em 2019, de Walter Lübcke, da CDU, por causa do seu apoio à política de integração a refugiados da então chanceler Angela Merkel. O assassino era um confesso apoiante da extrema-direita.

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