Jerónimo diz que única porta que PCP abriu foi para tirar direita do Governo

Na apresentação dos candidatos da CDU pelo distrito de Viana do Castelo, o secretário-geral comunista voltou a avisar que o PS “já está a estender a mão ao PSD”.

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Líder comunista considera que PSD o PSD "quer voltar" a ser governo "mas não vai conseguir" LUSA/TIAGO PETINGA

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse esta terça-feira que a "única porta” que o partido abriu foi para que PSD/CDS saíssem do Governo, referindo-se às consequências do chumbo da proposta de Orçamento de Estado para 2022.

“Achei curioso que mesmo camaradas e amigos nossos, disseram: cuidado, assim sem Orçamento de Estado estão a criar condições para abrir a porta à direita, mas a única porta que o PCP um dia abriu foi para que o PSD/CDS saíssem do Governo. A vida o dirá”, afirmou Jerónimo de Sousa, em Viana do Castelo, referindo-se ao Governo de Pedro Passos Coelho.

O secretário-geral do PCP, que falava no Casino Afifense, durante a apresentação da lista de candidatos da CDU pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo às eleições, disse ter encontrado “grandes dificuldades” quando, na última legislatura, o partido tinha contactos com o PS.

“Só muito mais tarde é que descobrimos que o Partido Socialista não queria soluções, queria ir para eleições. Queria eleições para, com base nesta ou naquela medida, procurar com ânsia a maioria absoluta. Se isso não resultar, já está a estender a mão ao PSD”, apontou. Jerónimo de Sousa disse ainda que as eleições legislativas de Janeiro de 2022, “são para eleger deputados, e não o primeiro-ministro”.

“Aliás, esta teoria de que o partido mais fraco constituiu o Governo não é assim porque o PSD e o CDS tinham maioria, não tinham maioria absoluta na Assembleia da República e, no entanto, a correlação de forças entre os 230 deputados não permitia que essa solução passasse, por isso o Governo PSD/CDS foi ao charco”, explicou.

O secretário-geral do PCP acrescentou que a “ilusão” de que as próximas eleições legislativas vão servir para eleger o primeiro-ministro é para “criar a ideia que os portugueses só têm duas alternativas, ou PS ou o PSD, para depois se completarem um ao outro”. “A bipolarização serve claramente ao PS, em primeiro lugar, mas naturalmente também ao PSD. Volto a dizer. O tempo o dirá”, sustentou.

No discurso proferido, perante mais de uma centena de pessoas, Jerónimo de Sousa disse que “conhece bem” o PSD.

“Por muito que queira cavalgar alguns descontentamentos, disfarçando as suas reais intenções, não passa de uma versão nova de um programa já velho. É o partido dos que mandaram os jovens emigrar porque cá não havia lugar para eles. É o partido dos que diziam que o País estava melhor embora os portugueses estivessem pior. Estava certamente melhor para os grandes grupos económicos, mas pior para a generalidade da população”, atirou.

Segundo o líder comunista, “o PSD quer voltar, mas não vai conseguir e já anunciou estar disposto a dar a mão ao PS se este não tiver maioria absoluta, mão que aceita, certamente, não para aplicar uma política de esquerda”. “Quer uns quer outros o que ambicionam é fugir da intervenção do PCP e da CDU e do que ela significa de avanço. O que querem é ficar de mãos livres e assim fugir à solução dos problemas”, sustentou.

Na intervenção, Jerónimo de Sousa falou das principais preocupações do partido relacionadas com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), os transportes públicos, água, ambiente e na educação, a propósito das normas de prevenção da covid-19, insistiu que “se o Governo decretou o encerramento das escolas e obriga pais e encarregados de educação a ficar em casa com os filhos à sua guarda, tem a obrigação de garantir a todos, e sem condições, o pagamento dos salários a 100%”.

“Não é admissível que o Governo volte a cometer em 2022 as injustiças que cometeu em 2020 e 2021 com as limitações que impôs a esses apoios”, especificou.