João Rendeiro só vai ser ouvido amanhã. Ministério Público sul-africano já disse que não aceita libertação mediante pagamento de caução

O ex-banqueiro devia ser ouvido esta seguna-feira por um juiz de instrução para avaliar o pedido de extradição para Portugal. No entanto, a sua defesa solicitou um adiamento.

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João Rendeiro LUSA/LUÍS MIGUEL FONSECA

O ex-banqueiro João Rendeiro chegou muito cedo ao tribunal de Verulam, nos subúrbios de Durban, onde devia ser ouvido esta segunda-feira por um juiz pela primeira vez desde que foi detido no sábado, mas a audiência foi adiada para amanhã.

Um advogado pertencente à sociedade de advogados June Marks, que faz a defesa do ex-banqueiro, solicitou um adiamento para poder estudar melhor o processo com o seu cliente. João Rendeiro não foi ouvido hoje, mas o seu advogado falou e o procurador que representa Ministério Público sul-africano também, dando ambos já a entender o que pretendiam defender na audiência de amanhã.

Ao que o PÚBLICO apurou junto de Natasha Ramkisson Karam, porta-voz da National Prosecuting Authority (NPA), equivalente à nossa Procuradoria-Geral da República, o representante do Ministério Público deu a entender que quer a prisão provisória de João Rendeiro, enquanto decorre o processo de avaliação do pedido de extradição para Portugal, e também disse que se iria opor a um pedido de libertação mediante o pagamento de uma caução.

O procurador está já, de certa forma, a prever que essa vai ser a estratégia da defesa: pedir a libertação de João Rendeiro, mediante o pagamento de uma caução.

Também se ficou a saber, segundo declarações de June Marks à SIC, que o seu escritório foi contratado por João Rendeiro há cerca de três meses.

Segundo a agência Lusa, à entrada do tribunal de magistratura de Verulam, o conselheiro da embaixada de Portugal na África do Sul, Manuel Grainha do Vale, disse que importa, neste momento, confrontar o ex-banqueiro João Rendeiro com as autoridades sul-africanas, adiantando que “a justiça tem os seus tempos”.

“O Governo português acompanha este assunto com o interesse que merece, uma vez que se trata de um cidadão português que está foragido da justiça” e, acrescentou: “o que nos parece é que temos de o levar à actuação das autoridades sul-africanas”.

“A justiça tem os seus tempos, aí não podemos fazer nada”, disse quanto à “rapidez do processo”, e as vias que se seguirão, nomeadamente quanto à extradição.

Também de acordo com a agência Lusa, João Rendeiro “chegou cedo” ao Tribunal. A audiência estava marcada para as 11h locais (9h em Portugal), altura em que, no tribunal com oito diferentes juízos, começam a ser distribuídos os novos casos.

João Rendeiro estava fugido à justiça há três meses e as autoridades portuguesas reclamam agora a sua extradição para cumprir pena Numa entrevista à TSF, a advogada sul-africana de Rendeiro, June Marks, não adiantou detalhes sobre o que irá alegar: “É um procedimento normal esta manhã. Infelizmente não posso dar detalhes sobre o que penso, preciso de ir para o tribunal.​”

A propósito da publicação de uma fotografia de João Rendeiro na imprensa desta manhã, fez saber que não tenciona processar a comunicação social. “A minha única estratégia e preocupação esta manhã é tratar do meu caso”, afirmou.

“Não estou interessada em processar a imprensa, seja a imprensa em Portugal ou na África do Sul. Não falei com ele [João Rendeiro] sobre isso, não recebi instruções, mas ele está a lidar com um assunto específico. Quando receber instruções, tratarei disso”, acrescentou.

O ex-banqueiro João Rendeiro foi preso no sábado, num hotel em Durban, na província sul-africana do KwaZulu-Natal, numa operação que resultou da cooperação entre as polícias portuguesa, angolana e sul-africana.

O ex-presidente do extinto Banco Privado Português (BPP) foi condenado em três processos distintos relacionados com o colapso do banco, tendo o tribunal dado como provado que João Rendeiro retirou do banco 13,61 milhões de euros.

O colapso do BPP, em 2010, lesou milhares de clientes e causou perdas de centenas de milhões de euros ao Estado.