Irão mantém exigências na retoma das negociações sobre o programa nuclear
Conversações em Viena, que pretendem reanimar acordo de 2015, foram suspensas na semana passada por causa de um impasse em torno das posições iranianas.
O Irão garante que não vai desviar-se das suas exigências para que o acordo nuclear seja reatado, afirmou o chefe da equipa negocial no arranque de mais uma ronda de negociações em Viena, esta quinta-feira.
“O Irão sublinhou que está a continuar de forma séria estas negociações tendo por base a sua anterior posição”, afirmou Ali Bagheri Kani, o diplomata que chefia a delegação iraniana em Viena, numa conferência de imprensa antes do reinício das reuniões.
As conversações que têm como objectivo reanimar o acordo assinado em 2015 entre seis potências mundiais (EUA, França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China) e o Irão foram suspensas no final da semana passada. Na raiz da interrupção estava um impasse em torna das novas exigências iranianas, que os diplomatas dos países europeus consideram inaceitáveis.
O acordo fechado em 2015 foi rejeitado três anos depois pela Administração de Donald Trump, que o abandonou. Foram repostas sanções económicas contra o Irão, a que o regime de Teerão respondeu ao reactivar alguns procedimentos associados ao programa nuclear.
Desde então, os restantes signatários têm tentado persuadir Washington e Teerão a regressar à mesa de negociações – as rondas diplomáticas que se têm organizado contam com a participação indirecta dos EUA, por exigência do Irão.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, tem mostrado intenção de regressar ao acordo, mas as conversações têm sido particularmente difíceis. As reuniões de Viena foram retomadas na semana passada depois de mais de cinco meses em suspenso por causa das eleições iranianas.
Com a eleição do novo Presidente, o ultraconservador Ebrahim Raisi, a posição iraniana radicalizou-se, de acordo com os diplomatas ocidentais. Teerão quer a remoção imediata e “verificável” das sanções aplicadas desde que os EUA se afastaram do acordo, incluindo algumas que não estão ligadas ao programa nuclear, mas sim a comportamentos considerados hostis por Washington e pelos seus aliados no Médio Oriente.
O representante da União Europeia nas negociações, Enrique Mora, disse ter saído do primeiro dia de negociações com um “sentimento renovado de propósito quanto à necessidade de se trabalhar e alcançar um acordo”. “Se isso será confirmado e apoiado pelas negociações sobre os detalhes, é algo que iremos ver nos próximos dias”, afirmou o diplomata.
Cenário de guerra
Enquanto o jogo diplomático se vai travando em Viena, outros actores tentam encontrar outras fontes de pressão. Duas delegações militares norte-americanas e israelitas encontram-se esta quinta-feira para definirem um roteiro de intervenção armada contra as instalações militares iranianas, de acordo com uma fonte dos EUA, citada pela Reuters.
Israel tem no Irão o seu principal adversário regional e receia que um hipotético arsenal nuclear iraniano possa vir a ser usado contra si. Teerão nega que o seu programa nuclear tenha objectivos bélicos.
Entretanto, os EUA querem mais garantias quanto à efectividade do cumprimento das sanções impostas ao Irão. O Departamento de Estado revelou esta quinta-feira que vai ser enviada uma delegação, que inclui responsáveis do Tesouro, ao Dubai na próxima semana para pressionar o governo dos Emirados Árabes Unidos a apertar o controlo aos negócios bancários entre instituições locais e iranianas.
Washington diz ter provas de incumprimento por parte de bancos dos EAU que estariam a contornar as sanções actualmente impostas pelos EUA e pelos seus aliados, diz a Reuters.
Apesar de partilhar os receios de outros países da região quanto à possibilidade de o Irão vir a desenvolver armas nucleares, o governo dos Emirados tem procurado igualmente melhorar as relações com Teerão de forma a apaziguar a tensão no Médio Oriente.