Evergrande declarada em incumprimento após falhar pagamento
Agência Fitch reduziu rating da construtora chinesa, mergulhada numa crise de dívidas que já se estende a outras empresas do sector.
O promotor imobiliário Evergrande está oficialmente em incumprimento, diz a agência de notação Fitch, que reduziu o rating para “restricted default”, depois de aquele gigante chinês ter falhado o reembolso de obrigações emitidas no estrangeiro.
A Evergrande já tinha avisado na sexta-feira passada que poderia não ter capacidade para saldar títulos de dívida no valor de 82 milhões de dólares (73 milhões de euros). Esses títulos já tinham atingido a sua maturidade no início de Novembro. O mercado costuma dar um mês de carência até à declaração de incumprimento (default), período que já passou.
O corte no rating “reflecte o não pagamento de cupões [juros] vencidos a 6 de Novembro de 2021 (...) findo o período de carência, que terminou a 6 de Dezembro”, afirma a Fitch, em comunicado divulgado nesta quinta-feira.
Na mesma nota, a Fitch diz que a Evergrande não prestou informações até ao momento sobre o destino desses cupões e não respondeu aos pedidos da própria Fitch. “Assumimos por isso que a dívida não foi paga”, afirmam os responsáveis da agência.
A classificação “restricted default” significa que a empresa falhou obrigações financeiras~, mas que ainda não accionou mecanismos de bancarrota, insolvência ou protecção contra credores e que continua, apesar de tudo, a operar, explica a mesma nota.
A Evergrande, cotada na bolsa de Hong Kong, é o construtor mais endividado do mundo, com uma dívida que ascende a 274 mil milhões de euros, um valor próximo do da dívida pública portuguesa (cerca de 275 mil milhões de euros).
As obrigações em causa neste incumprimento foram emitidas pela Tijian, uma subsidiária da Evergrande. Até ao momento, a notícia ainda não contagiou o mercado, ao estilo falência do Lehman Brothers, mas a situação pode ainda piorar para a Evergrande, avisa a Fitch. As restantes obrigações em dólares podem ser resgatadas de imediato, caso 25% dos seus titulares assim o exijam.
A Evergrande já falhou uma mão-cheia de pagamentos desde Setembro e continua fortemente pressionada. Nalguns casos conseguiu renegociar com credores à última hora, evitando assim a classificação de incumpridora.
A carteira da Evegrande inclui cerca de 800 projectos em todo o território chinês, dos quais cerca de metade foram suspensos devido à periclitante crise financeira. O presidente e fundador do grupo, Hui Ka Yan, tem manifestado a sua oposição à venda de alguns dos activos mais valiosos, com vista a obter encaixes financeiros que permitiriam servir a dívida.
Na segunda-feira, foi anunciada a constituição de um comité de avaliação da gestão financeira, para ponderar a reestruturação de dívida. Quatro dos sete lugares desse comité estão reservados a representantes do Estado chinês.
Nesta quinta-feira, em Hong Kong, o governador do banco central da China, Yi Gang, garantiu que serão respeitados os direitos dos investidores estrangeiros, segundo noticia o jornal Financial Times. Na segunda-feira, o Banco do Povo da China injectou 188 mil milhões de dólares de liquidez no sistema financeiro, com a expectativa de atenuar a ansiedade causada pela crise que abala a indústria imobiliária naquele país.
A crise de liquidez da Evergrande, que durante anos a fio cresceu à custa de crédito bancário na China e de emissões de dívida em solo nacional e internacional, não é a única a situação preocupante na outrora florescente indústria da construção chinesa. Nesta mesma quinta-feira, outra empresa desse sector, a Kaisa, também viu a sua classificação afectada pela mesma redução para restricted default, depois de falhar o reembolso de títulos de dívida no valor de 400 milhões de dólares (353 milhões de euros), que venceram na passada terça-feira.