Num mundo que parece cada vez mais fora do controlo, e que fica cada vez mais quente, normaliza-se a retórica de que nada está a ser feito e os governos estão a falhar em todas as metas. Quase dois terços dos jovens portugueses acreditam que a humanidade está condenada — e, segundo um inquérito feito recentemente em dez países, mais de metade dos portugueses entre os 16 e os 25 anos acreditam ter menos oportunidades do que os pais.
É legítimo que seis em dez jovens estejam muito ou extremamente preocupados com a crise climática, e que se sintam traídos pelas gerações mais antigas e entidades governamentais. Antes de alguns deles nascerem já os cientistas alertavam que as alterações climáticas são um dos maiores problemas que a humanidade enfrenta. E, embora seja perigoso ignorar os progressos feitos nos últimos anos, a redução de emissões de gases com efeito de estufa continua longe do objectivo exigido (cerca de 7% por ano, até 2030, para o objectivo de 1,5 graus).
Mas se o discurso apocalíptico pode ser uma estratégia activista válida, principalmente para incitar a urgência e ambição que até agora não foram conseguidas, e de que objectivamente dependemos, também pode conseguir o contrário.
A ecoansiedade não é uma patologia, mas tem afectado cada vez mais a saúde mental dos jovens que se sentem a gritar para o vazio, sem ninguém a reagir do outro lado. Ao mesmo tempo, há jovens que se sentem cada vez mais esperançados. Esta esperança rebelde e racional não é motivada por cenários catastróficos, por uma positividade tóxica ou por um optimismo numa liderança salvadora e nas mudanças conseguidas até agora. Antes, é impulsionada pela acção. Há muito que podemos fazer ainda não é demasiado tarde para evitar os piores impactos de décadas de emissões desregradas. E eles sabem que quando se juntam e começam a agir, “a esperança está em todo o lado”.
Mitzi Jonelle Tan, uma activista das Filipinas, nascida quando a concentração de CO2 na atmosfera era de 365 partes por milhão (ppm), resumiu bem esta mensagem, enquanto se preparava para ir para a COP26: “Uma parte crucial da luta pela justiça climática é a alegria, o amor, a solidariedade, e a construção da comunidade. Este é o mundo pelo qual lutamos: um mundo onde possamos dançar, partilhar culturas, cantar e estar juntos — um mundo onde sejamos livres para ser felizes”.
Esta semana, o destaque vai para o stress hídrico em Portugal. Um alerta para uma mudança rápida “antes que caia a última gota”: foi assim descrito o estudo encomendado à Agência Portuguesa do Ambiente sobre a água que temos e que gastamos ou perdemos em Portugal, que conclui que nos últimos 20 anos a disponibilidade de água reduziu-se cerca de 20%. Sem surpresas para muitos agricultores, que são os principais consumidores de água (70%), é “preciso uma gestão mais criteriosa da água” e das licenças actuais e futuras, diz o autor, com menos desperdício (e lembrando que o uso de água para consumo humano tem um “peso relativamente pequeno”, de cerca de 10%).
Regressamos para a semana, com os Pés na Terra. Ideias e sugestões são bem-vindas, através dos endereços acoentrao@publico.pt e renata.monteiro@publico.pt. Até lá, fica uma mão cheia de sugestões de leitura.
- As árvores mantêm realmente as cidades europeias mais frescas;
- Reciclar não é suficiente para conter a crise do plástico;
- Baterias impossíveis de substituir aumentam desperdício e gastos, alertam ambientalistas;
- Uma fotogaleria pela preservação da natureza: Cem fotógrafos unidos pela conservação da vida selvagem;
- Em mês de balanços: o ano de 2021 foi marcado por incêndios intensos e prolongados.