Restaurantes: Comida de conforto, garrafeira a preceito
No tempo frio, as comidas de tacho são companhias altamente desejadas. Os restaurantes desta curta selecção sabem, como ninguém, os segredos dessas comidas de conforto que, ao longo dos séculos, foram sendo afinadas. Todos eles com boas garrafeiras onde não falta escolha em matéria de Vinho Verde.
Bem-Me-Quer
O restaurante Bem-Me-Quer nasceu em 1953, em Braga, num misto de pensão e casa de pasto, com Joaquina Maria Soares Gomes ao comando. Passados 68 anos, continua a senda de bem comer, com uma filha da fundadora à frente.
Já não há pensão, e o restaurante ocupa o piso de entrada, um espaço mais movimentado onde também fica a cozinha, e o primeiro andar, mais recatado e intimista.
No Bem-Me-Quer, a carta é desenhada tendo em conta um leque de pratos tradicionais e, muito importante, de temporada. Os destaques dos pratos de comida de conforto vão para as papas de sarrabulho, a meia desfeita e o bacalhau à moda de Braga (o conhecido bacalhau à Narcisa), onde a posta do fiel amigo é “vestida” com uma generosa cebolada e batatas fritas às rodelas. As iguarias tradicionais minhotas continuam com os rojões, as tripas enfarinhadas e o cabrito assado no forno.
No tempo dela (de Janeiro a Abril), há lampreia, em arroz ou à bordalesa e, também por essa altura, embora cerca de dois meses mais tarde, sável do rio Minho.
Nas sobremesas, merece destaque o pudim do abade de Priscos, vencedor de vários concursos, a sopa dourada ou o minhoto pão-de-ló com doce de ovos e amêndoa, numa bela ligação com gelado de baunilha.
A garrafeira tem um bom leque de opções com representantes de praticamente todo o país e uma alargada selecção de vinhos da região.
Bem-Me-Quer
Campo das Hortas, 6, Braga
Tel.: 253262095
Das 12h às 15h e das 19h às 22h
Encerra domingo ao jantar e à quinta
Preço médio: 25 euros
Santo Amaro
A Sertã fica fora das grandes rotas turísticas de Portugal, mas começa a ser um apreciado local de turismo, muito por obra e graça da “descoberta” dos segredos, durante muitos anos bem guardados, da Estrada Nacional 2.
Longe dos grandes centros, mas muito perto do centro geográfico de Portugal (no vizinho concelho de Vila de Rei), com as águas de várias ribeiras a banhá-la e com os enormes espelhos de águas formados pelas barragens de Castelo do Bode, Bouçã e Cabril dentro dos limites do concelho, a Sertã tornou-se nas últimas décadas um belíssimo destino para quem gosta de ar puro, lagos, floresta e boa mesa.
O destaque vai para o restaurante Santo Amaro, recentemente beneficiado com uma discreta, mas bem conseguida, remodelação. A zona da Sertã tem uma gastronomia muito própria, sendo de destacar os maranhos, o bucho recheado, o cabrito e, exclusiva deste restaurante, uma sopa de peixe a não perder. O Santo Amaro, nome inspirado numa capela com a evocação deste santo, que lhe fica à ilharga, pratica uma cozinha muito honesta, com produtos locais e da época.
Para os mais apressados existe uma sala de entrada mais descontraída. O outro espaço, um pouco mais formal, proporciona refeições com outro sossego.
Tem uma boa garrafeira, organizada com a colaboração do enólogo Aníbal Coutinho, que oferece vinhos das principais regiões, incluindo uma escolha criteriosa de produções da região dos Vinhos Verdes.
Santo Amaro
Rua 1.º de Dezembro, 15, Sertã
Tel.: 274604115
Das 12h às 15h e das 19 às 23h
Encerra terça ao jantar e à quarta
Preço médio: 20 euros
Fentelhas
São Torcato é uma freguesia de Guimarães, tendo por orago o dito santo. De Torcato, pertencente a uma influente família romana, diz-se ter sido homem de muita fé e sabedoria. As suas relíquias são veneradas no santuário que ostenta o seu nome, ex-líbris da vila.
Numa encosta próximo deste santuário, está localizado o restaurante Fentelhas, um lugar de bem comer, de cozinha regional, com uma sala de boas dimensões e decoração que denota bom gosto.
Depois das entradas onde brilham os enchidos integralmente feitos na casa – a saber: alheira, salpicão, chouriço de carne –, vêm os pratos principais, capítulo no qual a grande especialidade são os bacalhaus em várias confecções. O mais famoso é o bacalhau racheado (não é gralha, é mesmo esse o nome: o peixe abre-se em lascas, ou rachas). Brilham também rojões, galo de cabidela, cozido à portuguesa, bife especial folhado e vitela assada.
A garrafeira, escusado será dizer, está bem fornecida, em particular no que respeita aos vinhos da região.
Fentelhas
Rua Pedro Homem de Melo, 111, São Torcato (Guimarães)
Tel.: 253551292. Das 12h às 14h
Sexta e sábado, também 19h30 às 22h30
Encerra à segunda
Preço médio: 25 euros
Pedra Furada
Primeiro, foi uma “venda”, aberta em 1946. Em 1974 transformou-se em restaurante, tomando para si o nome da terra. Mantendo-se fiel à sua história, esta casa mantém as paredes de granito e a lareira na sala principal. Para os meses quentes, há uma simpática esplanada.
A localização do Pedra Furada, num dos caminhos seguidos pelos peregrinos que rumam a Santiago de Compostela, torna-o bastante frequentado por aqueles romeiros, que ao longo dos anos lhe vão divulgando as virtudes de “boca a orelha”. António Herculano e as irmãs Lina e Madalena gerem o negócio. O seu galo recheado assado no forno tem arrebatado o primeiro prémio num concurso promovido pelo município de Barcelos.
Trata-se de uma casa de boa comida, tipicamente minhota, e um exemplo para todos os restaurantes da região, porque sempre que possível os produtos confeccionados são provenientes das hortas e das capoeiras da terra. Mas nem só de galo recheado vive o Pedra Furada. Há arroz de cabidela, cozido à portuguesa, cabrito assado em forno a lenha e papas de sarrabulho que têm a particularidade de serem comidas como sopa.
Apresenta uma garrafeira de bom nível, a permitir a escolha certa para cada prato.
Pedra Furada
Rua de Santa Leocádia, 1415, Pedra Furada (Barcelos)
Tel.: 252951144
Das 12h às 15h e das 19h às 22h
Encerra ao jantar de domingo e de segunda
Preço médio: 20 euros
Saloio da Malveira
Começou em 1969 como modesta taberna e casa de pasto. Vinte anos volvidos, transformou-se num restaurante de referência. O Saloio da Malveira é um dos melhores restaurantes tradicionais de Portugal, com uma cozinha muito séria e uma garrafeira de qualidade absolutamente insuspeita.
Quem está no comando das operações deste restaurante de ambiente informal, sem grandes luxos mas muito acolhedor, é Amílcar Soares, que sabe muito bem aconselhar o vinho que melhor possa emparelhar com cada prato.
No tempo frio, a comida de tacho, reconfortante, é o forte da casa, com um delicioso arroz de perdiz (ou de coelho bravo) a embandeirar em arco lá bem no alto. Mão de vaca com grão, cabrito assado no forno, bochechas de porco no tacho, vários bacalhaus, posta de carne de touro laminada e, entre muitas outras iguarias, uma imperdível sopa de rabo de boi, quente, cheia de sabor e altamente retemperadora.
Nas sobremesas, dois destaques: uma belíssima (a adjectivação não é exagerada) pavlova de frutos vermelhos e um pudim de abóbora com gelado de coco.
A garrafeira é muito completa, não só com as principais marcas, mas também pequenos produtores, que Amílcar faz questão de dar a conhecer aos clientes. Os melhores Vinhos Verdes não poderiam deixar de estar presentes.
Saloio da Malveira
Rua Armando Lucena, 22, Malveira (Mafra)
Tel.: 219862563
Das 12h às 15h e 19h às 22h
Encerra ao domingo e à segunda
Preço médio: 28 euros
Este artigo foi publicado no n.º 3 da revista Singular.