Blinken acusa Rússia de preparar “ataque em larga escala” à Ucrânia antes de encontro com Lavrov
Reunião entre os responsáveis da diplomacia dos Estados Unidos e da Rússia segue-se a trocas de acusações e avisos sobre acções na fronteira com a Ucrânia. Crise nas fronteiras da Bielorrússia com a UE também estará na agenda.
Os Estados Unidos estão preocupados com a postura da Rússia em relação à Ucrânia e garantem estar prontos a apoiar o país em conjunto com os aliados da NATO, reafirmou esta quinta-feira o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. Um dia depois de ter afirmado que Moscovo fez planos para um “ataque em larga escala” contra a Ucrânia, Blinken esteve reunido com o homólogo ucraniano antes de se encontrar com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, em Estocolmo, onde participa na reunião anual de ministros da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa).
Em caso de invasão da Ucrânia, a NATO está “preparada para impor custos graves” à Rússia, afirmou o responsável norte-americano em Riga, durante a reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, na quarta-feira. De acordo com o ministro ucraniano, Dmitro Kuleba, na sua discussão desta quinta-feira com Blinken foi debatida a possibilidade de impor “graves sanções económicas” para desencorajar novas agressões russas: Blinken falou de “uma série de medidas económicas de grande impacto que evitámos usar no passado”.
Kiev e vários responsáveis ocidentais acusam Moscovo de ter reunido perto de 100 mil soldados e equipamento pesado junto à fronteira ucraniana. “Não sabemos se o Presidente [Vladimir] Putin já decidiu invadir. Sabemos que está a reunir a capacidade para o fazer em pouco tempo, caso tome essa decisão”, disse o chefe da diplomacia dos EUA.
Enquanto Blinken deverá aproveitar o encontro com Lavrov para expor esta ameaça de novas sanções, é provável que o ministro russo repita a mensagem que Vladimir Putin deixou na véspera, durante uma recepção no Kremlin aos novos embaixadores. “A nossa diplomacia tem uma tarefa de prioridade máxima: obter garantias sólidas, fiáveis e de longo prazo para a nossa segurança. Ao dialogarmos com os Estados Unidos e com os seus aliados insistiremos em conseguir acordos específicos que excluam qualquer movimento futuro da NATO em direcção a Leste”, afirmou o líder russo.
Ao mesmo tempo, Moscovo insiste em apontar o dedo à retórica “agressiva” de Kiev e ao que diz serem “acções de provocação crescentes”, respondendo aos receios ucranianos de invasão russa com o medo de uma acção militar da Ucrânia no Leste do país, onde as tropas ucranianas combatem forças separatistas apoiadas pela Rússia desde 2014.
O porta-voz do Kremlin voltou esta quinta-feira a acusar Kiev de estar a planear avanços na região, ao mesmo tempo que apontou a promessa do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, de “devolver” a Crimeia (anexada pela Rússia em 2014) como uma ameaça directa. “Esta formulação significa que Kiev pode usar qualquer opção, incluindo a força, para tentar invadir uma região russa”, afirmou Dmitri Peskov.
Do ponto de vista de Putin, o seu país precisa de travar um processo em curso há “mais de 20 anos”, sinónimo de ameaça crescente à soberania russa. “Apesar dos nossos avisos, a sua infra-estrutura [da NATO] chegou às nossas fronteiras. Os sistemas antimísseis estão mobilizados na Polónia e na Roménia, há lá [sistemas de lança-mísseis] MK-41, podem equipar-se com [mísseis] Tomahawks e outros sistemas de ataque, isto gera uma ameaça contra nós”, recordou. “Se aparecerem novos complexos de mísseis em território ucraniano, o seu tempo de voo a Moscovo será de sete a dez minutos, e no caso de armas hipersónicas, de cinco”, avisou, estabelecendo assim os seus limites.
Para enfrentar estas preocupações, o Presidente russo defendeu “negociações substanciais” com a NATO que previnam o seu alargamento a Leste e tenham em conta “os interesses da Rússia e de todos os Estados euro-atlânticos”, algo que poderia começar já esta quinta-feira no encontro entre Lavrov e Blinken.
"Política imprudente"
Em antecipação do encontro, Lavrov, que está há 17 anos à frente da diplomacia russa, comentou a sugestão do Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, sobre a possível colocação de armas nucleares russas no seu território: “Eu consideraria essa declaração como um aviso muito sério, desencadeado principalmente pela política imprudente seguida pelo Ocidente”, disse quarta-feira, durante uma intervenção na câmara alta do Parlamento.
A par da Ucrânia, é a Bielorrússia que tem estado no centro das divergências entre a NATO (e a União Europeia) e a Rússia, que apoia incondicionalmente Lukashenko, acusado pelos países europeus de provocar uma crise nas fronteiras da UE ao incentivar as tentativas de passagem de milhares de requerente de asilo a partir do seu país para a Polónia e, em menor número, para a Lituânia e a Letónia.
A Ucrânia aumentou nos últimos dias o número de forças de segurança junto à fronteira com a Bielorrússia para evitar ser arrastada para esta crise, receando igualmente que Moscovo possa usar o território bielorrusso para uma incursão.