Bruxelas mobiliza 300 mil milhões para apoiar investimentos em países terceiros
UE quer tornar a “Global Gateway” na grande marca de qualidade do financiamento internacional e oferecer uma alternativa transparente e democrática aos empréstimos da China.
A União Europeia vai mobilizar 300 mil milhões de euros, nos próximos cinco anos, para apoiar o investimento em projectos ligados à digitalização, clima, energia, transporte, saúde, educação e investigação desenvolvidos por países terceiros, no âmbito da sua nova estratégia “Global Gateway”, que Bruxelas pretende tornar uma “marca de qualidade, transparência, e elevados critérios sociais e ambientais” para o financiamento internacional, em alternativa à Nova Rota da Seda promovida pelo Governo da China.
“Na UE, estamos focados em acelerar a dupla transição verde digital, e por isso decidimos investir fortemente para ter infra-estruturas modernas, sustentáveis e resilientes, e para melhorar as competências e a qualidade de vida dos nossos cidadãos. E agora, decidimos alargar esse investimento ao exterior, porque sabemos que os nossos parceiros têm grandes necessidades de financiamento e escolhas bastante limitadas”, justificou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na apresentação da nova estratégia, aprovada pelo colégio de comissários esta quarta-feira, em Bruxelas.
Sem nunca mencionar a China, a líder do executivo comunitário disse que, frequentemente, os países em desenvolvimento que recorrem a Pequim para promover importantes obras públicas são confrontados com condições e contratos “com muitas letras pequenas mas que têm grandes consequências económicas, sociais e políticas”. Com a “Global Gateway”, contrapôs, terão “parceiros de confiança para desenhar projectos que são sustentáveis e de elevada qualidade, com a garantia de transparência e de resultados tangíveis que beneficiam as comunidades locais”.
“Isto é a Comissão geopolítica em acção. A ‘Global Gateway’ mostra que a UE tem as mesmas prioridades internas e externas” vincou a comissária europeia para as Parcerias Internacionais, Jutta Urpilainen, a quem coube detalhar o modelo de financiamento da nova estratégia.
A Comissão vai recorrer ao orçamento comunitário para assegurar um bocadinho mais do que metade do envelope total: 135 mil milhões de euros do Fundo Europeu para o Desenvolvimento Sustentável Mais (FEDS+), e 18 mil milhões de euros de programas de assistência financeira geridos pelo Serviço de Acção Externa.
As instituições financeiras nacionais e europeias, como o Banco Europeu de Investimento e o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, contribuem com pelo menos 145 mil milhões de euros. E o restante será o mercado — como referiu Ursula von der Leyen, “o envolvimento do sector privado na ‘Global Gateway’ é essencial, “não só para atrair capital, mas também tecnologia e conhecimento” para a execução de projectos.
A presidente da Comissão Europeia avançou alguns exemplos de projectos que Bruxelas poderá financiar: a exploração de energias renováveis para produzir hidrogénio verde; a instalação de cabos de fibra óptica para o transporte de dados; a modernização de unidades de saúde ou a definição de quadros regulatórios da concorrência e criação de ambientes favoráveis ao investimento.
“Naturalmente, são os países que vão definir quais são os projectos que são importantes para eles e que nós podemos apoiar, dada a sua natureza estratégica e a nossa prioridade da dupla transição”, observou. A presidente da Comissão destacou o valor acrescentado da “Global Gateway”, uma vez que a chancela da UE dá a credibilidade e confiança aos investidores para apostar nos projectos, ao esmo tempo que alarga as oportunidades de negócio das empresas europeias.
A intenção de Bruxelas é “testar” esta nova estratégia durante a próxima cimeira entre a União Europeia e a União Africana, na Primavera.
O comissário da Vizinhança e Alargamento, Olivér Várhelyi, não tem dúvidas de que será um sucesso. “Os planos económicos e de investimento que lançámos recentemente para os Balcãs Ocidentais e os países da vizinhança oriental e meridional foram todos elaborados em torno da conectividade — com a Europa e dentro das regiões”, assinalou, destacando o projecto da chamada “auto-estrada para a paz” que vai ligar todos os países da antiga Jugoslávia.
Algumas das obras previstas desses planos serão candidatas naturais a financiamento através da “Global Gateway”. “Já estamos a discutir com os nossos parceiros como podemos desenvolver estes projectos”, revelou.