De sushi xxl a uma verdadeira francesinha, esta exposição quis mostrar o amor nacional pela comida
Que os portugueses gostam de comer já não é novidade para ninguém, mas que comer é aquilo em que mais pensam, para além da família e o trabalho, pode surpreender alguns. Foi este o mote da exposição “Art&Delivery” organizada pela Takeaway.com.
Só há duas coisas em que os portugueses passam mais tempo a pensar do que em comida. A família ou o trabalho. De resto, sonhar acordado com o que vai comer ao longo do dia é um dos pensamentos mais recorrentes entre as cabeças dos portugueses, ultrapassando até o sexo e o futebol. Estas são as conclusões de um estudo recentemente comissionado pela Takeaway.com, empresa de entrega ao domicílio de comida, que reuniu numa exposição vários obras que reflectem a relação de amor que une o português a uma boa garfada.
Foi entre os dias 26 e 29 de Novembro, que o Palacete Gomes Freire, em Lisboa, serviu de galeria para os trabalhos de sete artistas, desafiados pela Takeaway.com a retratar com a sua arte o prato que mais gostavam de encomendar. E de sushi em ponto xxl, feito através de peças de Lego, a uma francesinha intrinsecamente portuense, foram vários os desejos representados.
A começar por Tiago Catarino, que tal como o próprio descreve na sua página de Instagram, constrói “coisas em Lego profissionalmente”. E isso sabemo-lo também pelos vários vídeos de montagem de Legos que publica no seu canal de Youtube - onde tem 228 mil subscritores -, podem ver-se casas, peças de mobiliário em miniatura ou até uma réplica do Titanic. Desta vez, lembrou-se de fazer dois rolos de sushi, um molho de soja, wasabi e ainda pauzinhos de quase um metro de comprimento para a exposição. “Quase todos brincámos com peças da Lego, só que enquanto artista, para mim estas são muito mais do um brinquedo, podem ser também uma forma de expressar arte e por que não juntar o melhor dois dois mundos: o sushi e a Lego?”, explica o artista ao PÚBLICO. “Neste caso, apostei numa escala pouco explorada. Pelo menos, nunca vi rolos de sushi deste tamanho, gostaria muito de os comer”, comentou sobre a peça que no total tem entre sete e oito mil tijolos da plástico e levou cinco dias a concluir. “Ainda me doem as mãos”, confessa.
“After Party” é o trabalho do ceramista João Valente, que se inspirou na sua paixão pelo arroz, que é na verdade um dos acompanhamentos mais consumidos pelos portugueses. “Portugal é um dos países que mais consome arroz na União Europeia”, contextualiza o artista, cuja peça se aparenta como um empilhamento de vários pratos sujos por lavar e arroz por varrer. “É um bocado aquele acumulado de loiça que toda a gente faz depois de uma festa, em que ficam sempre alguns restos de comida e de arroz”, descreve.
Rafael Amadeu, o mais novo dos artistas convidados e ainda estudante de design na Faculdade de Belas Artes na Universidade do Porto (FBAUP), assume-se como portuense de gema e não hesitou em escolher a francesinha como o prato a representar. “Além de ser a minha comida favorita, é a da maioria dos portugueses”, defende. “A ideia é muito simples, peguei em alguns elementos da cidade e tentei criar a azáfama que lhe é característica.”
Por sua vez, a comida mexicana foi a protagonista da pintura, que mais parecia uma fotografia, do grafiter Ivo Santos ou “Smile Artist”. Apesar de nunca ter feito nada sobre comida, lembrou-se da viagem que fez ao México com o filho Francisco, que aparece na obra. “Ele e a Joana [a filha] são grandes inspirações para mim e até calhou bem porque a primeira viagem do Francisco foi ao México e acho que uma das coisas que ele mais ficou a gostar foi dos tacos que comemos”, recorda.
“Pede noodles” não foi só pensada como ganhou vida com Wandson Lisboa, o designer e instagrammer que nasceu no Maranhão, Brasil, e se mudou para o Porto em 2010. Surgindo dentro de uma caixa gigante de noodles, Wandson explica que queria representar o amor aconchegante que a comida muitas vezes nos dá, especialmente nos tempos mais frios. “Tentei recriar o conceito da amizade, da comida quentinha e do conforto quentinho, então estou a adorar estar aqui dentro”, disse entre risos.
A peça de Joana Mendão também é sobre amor e relações. Em dez painéis, a arquitecta quis demonstrar o apego emocional que muitos têm com a comida, em particular, com um prato de esparguete. “A massa é um bocadinho o confort food para a maior parte das pessoas então retratei o começo e o fim de uma relação amorosa, da borboleta na barriga ao coração partido”, refere.
A última peça a ser apresentada foi a de Joana Rosa, ilustradora setubalense que sempre teve uma grande paixão pela animação e que acabou por demonstrar também em “AmericANNA Original Burger”. Recorrendo às origens americanas do prato e à popularidade durante a Segunda Guerra, a artista desenhou um hambúrguer, o prato em que pensou de imediato assim que lhe foi feito o desafio.
A exposição reflecte a ambição da Takeaway.com em querer entender as características do que é local. “A comunidade local no food delivery é urbana e o desafio era mostrar essa intersecção entre a arte, também urbana, e a comida”, explica André Reis, responsável máximo da empresa de entregas ao domicílio em Portugal. “Muito do nosso esforço, está na parte da relação continuada, perceber em como podemos ajudar nos restaurantes e o cliente”, acrescenta. Apesar de já ser líder a nível europeu, o serviço holandês ainda é novo em Portugal, tendo entrado no mercado em Janeiro de 2020, mas promete já marcar a diferença, sobretudo ao fazer contratos de trabalho com os estafetas e dar-lhes “condições iguais como trabalhadores normais”, informa André Reis.
Terminado o evento, as obras seguiram para a sede da Takeaway.com em Portugal.
Texto editado por Bárbara Wong