Agressão russa à Ucrânia pode levar a sanções da UE, avisa Merkel
Chanceler alemã preocupada com o destacamento de tropas russas junto à fronteira ucraniana e com a crise fronteiriça entre a Bielorrússia e a Polónia.
A chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu esta quinta-feira a possibilidade de a União Europeia impor novas sanções contra a Rússia se as situações de tensão junto ao limite oriental da Ucrânia ou na fronteira polaca com a Bielorrússia escalarem.
A motivação para as eventuais medidas contra Moscovo relaciona-se com o destacamento em grande escala de tropas russas junto à fronteira ucraniana e com a recusa da Rússia em dialogar com a Ucrânia, França e Alemanha para reduzir as tensões na região de Donbass, no Leste da Ucrânia – onde grupos separatistas lutam contra Kiev desde 2014 –, referiu Merkel.
“Qualquer novo ataque contra a soberania da Ucrânia teria um preço elevado”, alertou a líder alemã em Berlim, numa conferência de imprensa ao lado do primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki. Merkel mencionou também a “instrumentalização” de migrantes por parte da Bielorrússia contra a Polónia.
“Temos de deixar claro que, se a situação escalar, podemos introduzir mais sanções”. E, para fazer frente a estas crises, Merkel sublinhou que a União Europeia deve estar unida nestas matérias. Deixou, ainda assim, o apelo para diminuir as tensões e para a “porta do diálogo ficar sempre aberta”.
A chanceler alemã falou também, por telefone, com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, para discutir a tensão na fronteira ucraniana com a Rússia, tendo garantido o seu apoio em relação à independência e integridade territorial da Ucrânia, disse no Twitter o seu porta-voz, Steffen Seibert. Qualquer tentativa de ultrapassar esses limites “teria consequências”, continuou.
“Sairia demasiado caro”
As tensões entre Kiev e Moscovo têm aumentado nas últimas semanas e são mais de 92 mil os soldados russos mobilizados ao longo da fronteira com a Ucrânia – segundo os números das autoridades ucranianas –, levantando preocupações entre responsáveis norte-americanos, a UE e a NATO sobre uma possível incursão. Aliás, as secretas ucranianas apontam para um ataque da Rússia em Janeiro ou em Fevereiro do próximo ano. Porém, Moscovo nega ter em vista uma invasão e acusa a Ucrânia e a aliança transatlântica de provocarem as tensões.
Com a possibilidade de um ataque a pairar sobre Kiev, o principal objectivo é evitar que a Rússia tome “mais acções agressivas”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba. “Para isso, Moscovo tem de entender claramente quais são as perdas políticas, económicas e humanas que estariam em causa”, se desencadeasse uma ofensiva militar.
“Não estamos a tentar adivinhar o que vai na mente do [Presidente russo, Vladimir] Putin”, disse Kuleba. “Estamos a trabalhar para o fazer entender de forma clara que um ataque contra a Ucrânia sairia demasiado caro, então seria melhor não o fazer”.
E, apesar das acusações, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russos, Maria Zakharova, disse esta quinta-feira que Moscovo não rejeitou o diálogo com a França – o Presidente francês também manifestou o apoio de Paris na defesa da Ucrânia –, com a Alemanha e a Ucrânia para chegar a um acordo para a paz no Leste da Ucrânia.
O agravamento das relações entre os dois países remonta a 2014, quando a Rússia anexou a península da Crimeia. A tensão começou a aumentar em Abril deste ano, depois de a Rússia ter reunido um forte aparato militar junto à fronteira com a Ucrânia.