Morreu o antigo ditador sul-coreano Chun Doo-hwan

Foi chefe de Estado durante boa parte da década de 1980, governando com “mão-de-ferro”. Chegou a ser condenado à morte pelo seu papel num massacre de activistas políticos.

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Chun à saída da prisão em 1997 Paul Barker / Reuters

Morreu esta terça-feira o antigo ditador sul-coreano, Chun Doo-hwan, aos 90 anos, que governou o país durante os anos 1980 e foi responsabilizado por um massacre de activistas pró-democracia.

O período em que governou a Coreia do Sul, a quase a totalidade da década de 1980, coincidiu com a implantação de uma ditadura militar que restringiu a maioria dos direitos civis e políticos da população, mas que, ao mesmo tempo, foi responsável por um acelerado crescimento económico.

A subida de Chun ao poder teve como rampa de lançamento o traumático assassínio do então Presidente Park Chung-hee, a 26 de Outubro de 1979, pelo director dos serviços secretos sul-coreanos. Chun foi nomeado para liderar as investigações ao caso e rapidamente passou a controlar o aparelho de segurança e informação do país.

“Num instante pareceu que ele se tinha tornado num gigante”, dizia, numa entrevista agora recordada pela Reuters, Park Jun-kwang, antigo colaborador de Chun.

Aproveitando o caos institucional e social em que a Coreia do Sul estava mergulhada desde a execução de Park, Chun encabeçou um golpe de Estado a 12 de Dezembro de 1979 que o consagrou como líder de facto do país. Ao seu lado estava Roh Tae-woo, a quem Chun iria passar a chefia de Estado uma década depois, e que morreu há menos de um mês.

O controlo ditatorial de Chun foi contestado sobretudo na cidade de Gwangju, onde foi fundado um movimento pró-democrático que organizava protestos contra as medidas cada vez mais autoritárias dos militares. Durante dois dias, em Maio de 1980, sob ordens de Chun, o Exército avançou sobre a cidade sem qualquer contenção. Segundo os dados oficiais, morreram 193 pessoas, mas os líderes do movimento dizem ter havido mais de duas mil mortes.

A partir desse momento, a liderança de Chun consolidou-se, mas nem por isso o regime se tornou mais brando. Porém, esta foi também a época da modernização da Coreia do Sul e na sua transformação em potência económica, que lhe valeu o lugar entre um dos “tigres” asiáticos (os restantes são Singapura, Hong Kong e Taiwan).

Uma nova onda de protestos em 1987 precipitou a sua demissão, permitindo a entrada no período democrático.

Em 1996, começou um dos julgamentos mais importantes da História sul-coreano, em que Chun e Roh se sentaram no banco dos réus pelo seu papel no massacre de Gwangju. O antigo chefe militar foi condenado à morte, mas viu a pena ser reduzida pelo Supremo Tribunal, que reconheceu mérito à governação de Chun pelo rápido crescimento económico durante os anos 1980 e por ter viabilizado a transição democrática de forma pacífica.

O Presidente Kim Young-sam acabaria por amnistiar os dois homens em 1997 em nome da promoção da “unidade nacional”.

As contas de Chun com a justiça não terminaram aí. Em 2003, o Estado acusou-o de estar a dever cerca de 220 mil milhões de won (cerca de 165 milhões de euros ao câmbio actual) em multas, mas a declaração de rendimentos apresentada dizia que possuía bens no valor de pouco mais de 200 euros. Os seus quatro filhos e outros familiares eram, no entanto, proprietários de vários terrenos em Seul e mansões nos EUA.

No ano passado, Chun foi condenado a uma pena suspensa de prisão de oito meses por injuriar um antigo activista pró-democracia no seu livro de memórias, e o julgamento de recurso estava marcado para a próxima semana.

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