Cheias do Canadá deixam 18 mil pessoas isoladas em localidades com acessos cortados
A tempestade, descrita como “única num século”, provocou cheias que vão ser “de longe o desastre natural mais caro da História do Canadá”. Autoridades garantem que não vai faltar comida, mas já houve compras em quantidade e prateleiras vazias em supermercados.
O chefe do Governo do estado canadiano de Colúmbia Britânica, John Horgan, comoveu-se na conferência de imprensa sobre as cheias na zona à volta de Vancouver, depois de explicar o quadro e o que está a ser feito – 18 mil pessoas em localidades sem acesso depois de estradas serem cortadas ou destruídas pelas cheias, com dificuldade em encontrar alimentos, e com buscas ainda a decorrer para encontrar sobreviventes, ou mesmo vítimas. “O positivo que tiro daqui é como isto mostrou como os habitantes da Colúmbia Britânica se uniram para se ajudarem uns aos outros”, disse Horgan.
As chuvas torrenciais que caíram em poucas horas desde domingo na Colúmbia Britânica causaram deslizamentos de terras que destruíram estradas e deixaram cidades inteiras debaixo de água. Uma mulher morreu e as autoridades previam que houvesse mais vítimas. Ainda havia três pessoas desaparecidas. Milhares de pessoas ficaram sem abrigo, outras em casas sem energia quando as temperaturas estão gélidas em alguns dos locais.
A região já tinha sido fortemente afectada pelos incêndios no Verão, quando as temperaturas subiram para extremos. Os especialistas sublinham que tanto a chuva actual como o calor e os incêndios do Verão são fenómenos climáticos extremos, consequência do aquecimento global.
A tempestade, que foi descrita como “um acontecimento único num século”, levou a chuva torrencial durante um dia. O cientista especializado em furacões, Jeff Masters, explicou que o fenómeno se deveu a uma espécie de “rio no céu”, um corredor de humidade concentrada na atmosfera, “que funciona como um cano transportando grandes quantidades de vapor de água dos trópicos”.
Depois da queda de água, que começou no fim-de-semana passado, as cheias foram piores por causa do abate de árvores, que normalmente ajudam na estabilização de terras e na maior velocidade de absorção de água pelo solo. Sem árvores e com pouca vegetação – que tinha sido queimada pelos incêndios do Verão –, a água desliza mais facilmente, e chega mais rapidamente a rios e cursos de água, arrastando consigo sedimentos que, por sua vez, impedem a água de rios de continuar o seu curso, fazendo-a transbordar.
O exército está desde quarta-feira na região, a ajudar com o reforço de mantimentos em localidades isoladas, onde a escassez se deve, também, ao pânico das pessoas, que acumularam mantimentos, o que as autoridades já tinham pedido para não fazer.
A ministra da Agricultura, Lana Popham, garantiu que não havia ameaça ao fornecimento de alimentos. “Estamos só a refazer as rotas para fazer com que cheguem às pessoas, mas não vamos ficar sem comida”, garantiu.
Entre os grandes prejuízos estão além da destruição, a morte de animais de pecuária, que os criadores tentaram salvar.
“Vai ser sem dúvida o desastre natural mais caro da História do Canadá. De longe”, disse o professor de Economia da Universidade de Calgary. Blake Shaffer.
A chuva recomeçou entretanto a cair, mas com menos intensidade.
Em Abbotsford, a cerca de 70 km a sudeste de Vancouver, o presidente da câmara Henry Braun disse não estar preocupado com a chuva desta semana, mas sim com a da próxima semana. “Esperamos entre 80 e 100 mm” de precipitação, disse. A cidade está “longe de estar fora de perigo”.
Quase 600 pessoas, de entre os 162.000 habitantes da cidade, foram retiradas, somando-se a centenas nos últimos dias na região.