Cuba retira acreditações aos jornalistas da agência EFE na véspera de protesto da oposição

Numa declaração onde expressa preocupação com o “clima de tensão e confronto” no país, a Conferência de Bispos Católicos de Cuba pediu “mudanças necessárias” para melhorar a vida dos cubanos.

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Yunior García é um dos coordenadores do movimento que convocou a marcha Yander Zamora/EPA
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O Presidente Díaz-Canel numa visita a um bairro da capital cubana Alejandro Azcuy/EPA
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Dezenas de apoiantes do regime acampados no Parque Central, no centro de Havana Ernesto Mastrascusa/EPA

O Governo de Cuba retirou as acreditações aos cinco jornalistas que a agência de notícias espanhola EFE tem no país, sem explicar se a medida é temporária ou definitiva. A decisão surge quando a ilha se prepara para o que se prevê vir a ser mais um dia de contestação ao regime, depois da repressão aos protestos de 11 Julho, os maiores em décadas. Como fez no Verão, o Presidente, Miguel Díaz-Canel, disse que os seus apoiantes estão “prontos para defender a revolução”: desde sábado há alguns jovens apoiantes do Governo acampados no centro de Havana.

“Chamaram-nos urgentemente e pediram-nos que entregássemos as acreditações. Quando perguntámos o motivo invocaram a normativa sobre a imprensa estrangeira”, explicou à AFP Atahualpa Amerise, coordenador da redacção da EFE em Cuba. Questionados sobre o motivo exacto, os responsáveis do Centro de Imprensa Internacional não souberam responder. Os três redactores, um fotógrafo e um operador de câmara sabem apenas que estão impedidos de trabalhar. Amerise diz que é a primeira vez que uma equipa de imprensa estrangeira é sancionada assim na ilha.

Os sinais de aumento da tensão têm-se sucedido nos últimos dias, à medida que se aproxima a data da chamada Marcha Cívica pela Mudança, convocada pela plataforma Archipiélago para esta segunda-feira, e declarada ilegal pelo Governo. Numa declaração onde expressa preocupação com o “clima de tensão e confronto” no país, a Conferência de Bispos Católicos de Cuba pediu “mudanças necessárias” para melhorar a vida dos cubanos e “clemência” para os presos dos protestos de 11 de Julho – 1175 pessoas foram detidas e, segundo o grupo de direitos humanos Cubalex, 658 ainda estão na cadeia.

Os opositores têm denunciado pressões e ameaças, ao mesmo tempo que o jornalista e activista dos direitos humanos Guillermo Fariñas foi detido, diz a sua família. O histórico dissidente, que em 2010 recebeu o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, fez ao longo dos últimos 20 anos 23 greves de fome em protesto contra o Governo.

O principal líder do movimento Archipiélago, o dramaturgo Yunior García, descreve as pressões nos últimos dias como brutais. Temendo a reacção do regime, anunciou que se manifestará sozinho este domingo – sem desconvocar a manifestação, apela a que se “procurem soluções engenhosas para evitar pôr os manifestantes em risco”, explicou numa entrevista por telefone à BBC Mundo.

Os cerca de 30 membros coordenadores do Archipiélago começaram por pedir autorização para realizar a marcha, inicialmente prevista para dia 20 de Novembro em várias províncias, um passo inédito. O Governo anunciou então um “Dia Nacional da Defesa” e exercícios militares para a mesma data, altura em que os promotores decidiram adiantar a convocatória para dia 15.

Desde então, os media oficiais têm descrito a convocatória para o protesto como “provocação” e “tentativa de desestabilização”, acusando o próprio García de receber financiamento dos “amos do norte” e de procurar “um confronto do Exército com o povo”. Díaz-Canel foi à televisão assegurar que os cubanos “estão alerta” e “preparados” para “defender a revolução” face “à estratégia dos imperialistas” que a querem destruir.

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