Cinco manifestantes mortos em protestos no Sudão contra regime militar
Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestarem contra o afastamento das autoridades civis do futuro político do país, depois do golpe militar de 25 de Outubro.
Cinco manifestantes foram mortos este sábado, em várias cidades do Sudão, em novas manifestações de protesto contra o afastamento das autoridades civis do futuro político do país.
Os protestos começaram a 25 de Outubro, quando o Exército sudanês derrubou o Governo interino que era responsável pela transição democrática no país, e que incluía civis e militares.
As organizações sudanesas pró-democracia condenaram a decisão dos militares, anunciada na quinta-feira, de excluir a coligação civil de integrar o próximo executivo interino.
À medida que os manifestantes se começaram a juntar em vários pontos da capital, ao início da tarde, as forças de segurança investiram contra a multidão para a dispersar com gás lacrimogéneo, disseram testemunhas ouvidas pela agência Reuters.
“As pessoas foram surpreendidas com o lançamento de gás lacrimogéneo logo no início [da manifestação]”, disse um manifestante na cidade de Omdurman, do outro lado do Nilo.
Segundo a Reuters, os protestos em Cartum e nos arredores da capital sudanesa contaram com a presença de dezenas de milhares de pessoas, um número que chegou às centenas de milhares em todo o país.
“Os manifestantes não têm nenhum outro objectivo a não ser apelar à democracia, de forma pacífica, e ao regresso das autoridades civis que nos foram tiradas por Burhan”, disse Mohamed Hamed, em Cartum, referindo-se ao líder do golpe, o general Abdel Fattah al-Buhran.
Em anteriores manifestações, incluindo nos gigantescos protestos de 30 de Outubro, as forças de segurança só investiram contra as multidões ao final do dia.
O Comité Central de Médicos Sudaneses, que está alinhado com o protesto, disse que os manifestantes estão a enfrentar “uma repressão excessiva que inclui o uso de munições reais em várias zonas de Cartum”.
Na capital sudanesa, quatro pessoas foram mortas por balas reais disparadas pelas forças de segurança, e uma outra pessoa morreu sufocada com gás lacrimogéneo. Segundo o comité de médicos, o acesso aos hospitais estava a ser dificultado e as forças de segurança invadiram o Hospital al-Arbaeen, em Omdurman, para espancarem o pessoal médico e deterem manifestantes que estavam a receber tratamento.
Num comunicado, a polícia sudanesa disse que não usou armas de fogo durante os protestos. Segundo a versão da polícia, os protestos começaram de forma pacífica e tornaram-se violentos.
Em Wad Madani, a sudeste de Cartum, ouviram-se cânticos a pedir o afastamento dos militares do poder. Em outras cidades, incluindo em Al Gadarif e Kosti, a polícia também investiu contra as multidões.
O golpe militar de 25 de Outubro fez descarrilar o processo de transição para a democracia que começou em Abril de 2019, com a deposição de Omar al-Bashir. As forças de segurança detiveram os responsáveis civis que tinham sido nomeados num acordo com os militares, e o primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, foi posto em prisão domiciliária.
Este sábado, os manifestantes exibiram nos protestos a imagem de Hamdok, símbolo da resistência contra os militares.