Rio admite dialogar com Costa para viabilizar um governo PS
À RTP3, Rio disse que Rangel não está preparado para ser primeiro-ministro. Apesar de ter “simpatia pessoal” pelo ministro da Defesa, o líder do PSD defende que a omissão de informação a Costa sobre o caso judicial que envolve militares é uma “situação grave”.
O líder do PSD, Rui Rio, admitiu vir a viabilizar um governo do Partido Socialista depois das próximas legislativas em nome do interesse do país e acusou Paulo Rangel de incoerência ao ser intransigente em fechar a porta ao diálogo cóm o PS.
“Se o PS ganhar e não tiver maioria absoluta, estou disponível para negociar à minha esquerda, com PS, e à minha direita com o CDS e IL. Com CDS e IL pode ser com integração de partidos no governo; com o PS não é integração de membros no governo – seria bloco central, não vejo necessidade nisso. Mas acho que deve haver negociação para haver governabilidade”, afirmou Rui Rio na RTP3, no programa Grande Entrevista, esta quarta-feira.
Ao mesmo tempo, o líder social-democrata criticou o seu adversário interno por ter colocado uma linha vermelha no diálogo com António Costa depois de 30 de Janeiro, considerando que tem criticado o PS de ter ficado refém da esquerda e de, com esta atitude, o atirar novamente para os braços do BE e PCP. “É uma contradição do meu adversário [Rangel]”, disse, rejeitando ainda ser vice-primeiro-ministro num governo socialista. “Não, porque isso é o bloco central”, justificou.
Rui Rio assumiu que, se conseguir uma maioria com partidos como o CDS e a Iniciativa Liberal, pode repetir a solução da região Autónoma dos Açores. Já quanto ao Chega, o líder do PSD referiu ter rejeitado coligações pré ou pós-eleitorais, mas lembra que André Ventura tem posto a exigência de ter ministros num eventual governo. “Por isso, o problema desapareceu”, rematou.
Não informar Costa? “Muito esquisito”
Logo no arranque da entrevista, o líder do PSD foi questionado sobre a sua posição em torno da omissão de informação do ministro da Defesa Nacional, João G. Cravinho, sobre a investigação judicial a militares e que se tornou conhecida agora como a Operação Miríade. Rio admitiu que tem “simpatia pessoal” pelo ministro da Defesa Nacional, mas considerou que o facto de não ter informado o primeiro-ministro (e assim a informação não ter chegado ao Presidente da República) sobre a investigação a militares por tráfico de diamantes “é uma situação grave”.
O líder do PSD também estranhou a existência de pareceres jurídicos que desaconselharam Gomes Cravinho a não informar o chefe de governo. “Acho isso muito esquisito. Uma história mal contada. É uma situação grave, porque o Presidente da República não foi informado e é particularmente grave o primeiro-ministro ter membros do Governo que não o ponham a par de uma situação destas”, disse, depois de questionado sobre a Operação Miríade.
Rangel “não” está preparado
O presidente do PSD foi, depois, confrontado com o seu anúncio de dispensar a campanha interna. Não considera que esteja a desrespeitar os militantes. “De forma alguma, é o contrário”, disse, defendendo que quer evitar “expor o partido a guerras internas”, dado que, logo de seguida, a 30 de Janeiro, há umas legislativas.
Admitindo que se quer preparar para as legislativas, Rui Rio colocou-se como o melhor candidato a primeiro-ministro. Paulo Rangel também está preparado para essa função? “Acho que não. O doutor Paulo Rangel não sabia que íamos ter eleições, e ainda por cima achava que não havia crise nenhuma”, respondeu, referindo que o eurodeputado estava a pensar ser candidato a primeiro-ministro só “daqui por dois anos”.
Ao assumir esta posição, o líder do PSD foi confrontado com a sua própria ideia de que as eleições directas são terreno fértil para dar a António Costa um argumento para atacar Paulo Rangel na campanha das legislativas, caso venha a ser líder do partido. Rio hesitou por momentos e concordou: “Está a ver como eu tenho razão? Acabei de dar um argumento. E por isso é que eu queria fugir a isso ao máximo. Eu não tenho culpa nenhuma.”
O líder do PSD argumentou ainda que tem melhores condições para ganhar as legislativas por estar no cargo há quatro anos em contraste com o seu adversário interno. “O que está em causa é estabelecer um paralelo – um candidato que está há quatro anos, ou alguém que aparece agora”, disse, recordando que, sempre que isso aconteceu, esses protagonistas perderam as legislativas seguintes, referindo os casos de Carlos Mota Pinto, Almeida Santos e Ferro Rodrigues.
Questionado sobre se se perder as eleições internas terminará a sua carreira política, Rio respondeu com elevado grau de certeza: “É sempre difícil fazer afirmações peremptórias, mas tenderia [a dizer] que acabou.”