Hub do Beato tarda em abrir, mas já não há muito espaço para a “fábrica de unicórnios”
Carlos Moedas foi ao Beato ver se ainda há espaço para instalar a incubadora de grandes empresas que idealizou. O autarca está convicto que sim, embora quase todos os edifícios já estejam cedidos. Primeiras empresas devem começar a trabalhar no próximo ano.
Uma semana depois da Web Summit, Carlos Moedas deslocou-se ao Beato para ver em que ponto está o hub criativo que promete há cinco anos vir a tornar-se o pólo central do empreendedorismo em Lisboa. Depois de várias promessas de abertura não cumpridas, a expectativa agora é que os primeiros espaços estejam a funcionar em meados de 2022.
O atraso geral do projecto, anunciado em 2016 para aproveitar a onda trazida para a capital pela feira de startups e tecnologia, foi um tema omnipresente na visita do novo autarca, que se comprometeu a “agilizar” processos para conseguir resultados mais rápidos. “O grande problema da gestão é pôr as pessoas a trabalhar em conjunto, acho que é uma coisa que faço bem”, declarou Moedas aos jornalistas depois de referir que há coisas que não andam “por uma questão de comunicação entre os serviços”.
A visita propriamente dita acabou por ser curta. Mal o presidente da câmara chegou, o director da Startup Lisboa fê-lo sentar-se na antiga Fábrica do Pão da Manutenção Militar para explicar o bê-á-bá do Hub Criativo do Beato. “Toda a gente achava que isto era num estalar de dedos”, afirmou Miguel Fontes, demorando-se na descrição do modelo escolhido para o projecto e na cronologia dos acontecimentos.
À Câmara de Lisboa competia apenas, sublinhou, fazer as obras de infra-estruturas: novas redes de gás, água, esgotos, electricidade, iluminação e zonas verdes. Esses trabalhos começaram em Fevereiro do ano passado. “Não havia rigorosamente nenhuma informação disponível” sobre o estado das infra-estruturas, disse o gestor do projecto, José Mota Leal, para justificar a demora no arranque das obras camarárias. Que, tendo sido as últimas a iniciarem-se, foram as primeiras a ficar concluídas.
A bola está agora nas mãos das empresas às quais a Startup Lisboa cedeu a gestão dos edifícios. “O modelo que foi seguido é que cada entidade fosse responsável pela reabilitação”, disse Miguel Fontes. “Isto é um processo que tem avançado, assumidamente, a ritmos diferentes. A covid, obviamente, impactou a todos os níveis e atrasou alguns destes projectos”, afirmou. Defendeu, no entanto, que o hub “começou a criar valor para a cidade desde o primeiro dia” com a realização de eventos no local.
“Quando falamos de obras, ainda não foi descoberto um modelo em que não haja derrapagens. Por muita agilidade que haja, há coisas que não se conseguem encurtar. Ainda não se inventou um método para fazer obras num estalar de dedos”, comentou Miguel Fontes.
No passeio que se seguiu, a diferença de ritmos ficou evidente. O edifício de 11 mil metros quadrados cedido à incubadora de empresas Factory foi o primeiro a entrar em obras, mas só “a primeira parte” é que já está quase pronta, estimando Miguel Fontes que esteja aberta no primeiro trimestre do próximo ano.
Já os edifícios destinados à restauração estão bem adiantados. “Nós estamos a avançar, estamos prontos para arrancar na Primavera, mas precisamos de público”, avisou Cláudia Almeida e Silva, gestora da empresa Praça que ali se vai instalar. “Não podemos ser só nós. Cada promotor tem a sua responsabilidade, mas não pode ser isolada”, disse a Carlos Moedas, que lhe respondeu que o hub era “uma prioridade” para o seu executivo.
O autarca quer criar uma “fábrica de unicórnios” naquele local, embora os espaços disponíveis já não abundem, uma vez que quase todos estão contratualizados. “Aqui faz todo o sentido”, disse Moedas, pois essa fábrica “encaixa muito bem no conceito do hub”. Nuno Sebastião, fundador da Feedzai, uma das cinco empresas unicórnio – assim chamadas por alcançarem um valor superior a mil milhões de euros – foi nomeado alto-comissário da câmara para a inovação e tem a missão de desenvolver esse projecto.