Cortes rasos de árvores na Serra da Lousã motivam queixas às autoridades
Em causa está possível “gestão danosa” de Zona Especial de Conservação da Serra da Lousã, diz organização não-governamental Milvoz. Município também está preocupado.
A operação de corte de árvores está a decorrer há semanas e há já vários hectares de terreno desflorestado na Zona Especial de Conservação da Serra da Lousã. A denúncia partiu da Organização Não Governamental Milvoz, que levanta a hipótese de haver “gestão danosa” desta área que está classificada como sítio de Rede Natura 2000.
“A intervenção mais agressiva e em maior escala situa-se entre o Vaqueirinho e o Talasnal”, duas aldeias da Lousã, explica o biólogo Manuel Malva, da Milvoz. “Depois existem outras zonas de corte dispersas um pouco por toda a serra, sendo que a grande maioria delas ainda está em curso” diz ao PÚBLICO. O mesmo acontece em pontos como Casal Novo, Topo das Bruxas ou Cabeço da Urtiga.
No sábado, dia 6, a Milvoz publicou um texto nas redes sociais em que denuncia a “extracção de grandes quantidades de madeira de pinho, tendo sido também verificado o corte de folhosas com elevado interesse de conservação como castanheiros, carvalhos e vidoeiro”. A ONG dá também conta de relatos de moradores da zona e apela ao envio de exposições ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e à Inspecção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT). A própria Milvoz enviou denúncias ao ICNF e ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), que está sob alçada da GNR, mas não recebeu ainda respostas, diz o responsável.
“Em si, o corte [das árvores naquela área] não é ilegal”, explica Manuel Malva. Mas o terreno livre serve como “porta de entrada a uma quantidade significativa de espécies invasoras, particularmente a acácia, que já representa um problema” naquela zona. “O que denunciamos é uma gestão danosa, uma vez que tem que haver cautela na gestão do espaço florestal e esse controlo compete ao ICNF”, aponta.
Este aspecto é particularmente preocupante uma vez que o corte sistemático de árvores na Zona Especial de Conservação da Serra da Lousã não é de agora, nota. “[Os cortes] estão em curso desde 2017, mas têm vindo a intensificar-se”, diz. E acrescenta: “Não tem havido controlo de invasoras, o que impede a regeneração natural destes terrenos”.
O PÚBLICO enviou questões sobre o abate ao comando distrital da GNR de Coimbra e ao ICNF, mas não foi possível obter respostas até agora.
“Intervenção urgente”
A Câmara Municipal da Lousã também já manifestou a sua preocupação. Numa nota publicada no site da autarquia, a câmara informa que, estando consciente do impacto causado por esta “acção de desbaste em terrenos privados na zona das aldeias do Talasnal e Casal Novo”, efectuou diversas diligências ao longo das últimas semanas.
O executivo presidido por Luís Antunes comunicou o que se estava a passar à directora regional do Centro do ICNF, pedindo a “intervenção urgente” da responsável, uma vez que os cortes estão a decorrer numa área incluída na Rede Natura 2000. A autarquia enviou também uma denúncia ao SEPNA pelos mesmos motivos e apresentou outra denúncia à GNR por causa da “circulação de viaturas pesadas não autorizada na estrada de acesso às aldeias”.
De acordo com esta nota que foi publicada na terça-feira, a CML recebeu a informação por parte das autoridades de que “foram levantados autos, estando os respectivos processos a decorrer”.
A autarquia lembra que tem procurado sensibilizar responsáveis políticos “para a necessidade urgente de medidas concretas para a gestão integrada da Serra da Lousã”. Têm sido várias as notícias de cortes nesta área, nos últimos anos.
Em Setembro de 2020, a mesma Milvoz denunciou que estaria iminente o abate de várias árvores na Serra da Lousã, com milhares de carvalhos, castanheiros e bétulas a serem marcados para corte. O ICNF respondeu então que a marcação era “indevida e extemporânea” e anunciou que iria abrir um inquérito.