Trabalhadores da Efacec em greve parcial para exigir condições para laborar

Trabalhadores não têm informação sobre alegado novo empréstimo a conceder ou a garantir pelo Estado, maior acionista da empresa.

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Concentração de trabalhadores junto à Efacec, em Matosinhos, durante a paralisação de duas horas LUSA/JOSÉ COELHO

Os trabalhadores da Efacec realizaram esta quarta-feira uma greve, de apenas duas horas, para exigir ao Governo a compra de matérias-primas para que a empresa possa continuar a laborar. Actualmente, e como foi noticiado pelo PÚBLICO, a empresa encontra-se praticamente parada, por falta de pagamento aos fornecedores, que suspenderam os fornecimentos à empresa, actualmente propriedade do Estado.

Com a paralisação, que decorreu entre as 14h00 e as 16h00, os trabalhadores também reivindicaram a demissão da administração, e que a empresa, nacionalizada em 2020, se mantenha na esfera do Estado.

No final da greve, fonte sindical disse à Lusa que a adesão à greve foi “maciça” e levou à paragem total da produção.

“Houve uma adesão maciça dos trabalhadores, nunca vi nada igual. Conseguimos abrir [o protesto] a trabalhadores que nunca participavam, como pessoal de escritório, administrativos, engenheiros e chefias”, avançou Miguel Moreira, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte (Site-Norte).  A mesma fonte adiantou ainda que o nível de adesão registada representa “um acto de grande responsabilidade por parte dos trabalhadores”.

Recorde-se que, no corrente ano, o Estado garantiu um financiamento à empresa da ordem dos 70 milhões de euros, que já foi gasto, abrindo-se nova crise de tesouraria.

O Expresso noticiou recentemente que o Estado se preparava para garantir novo financiamento, entre 30 a 40 milhões de euros, mas a administração da empresa ainda não informou os trabalhados desse empréstimo, apurou o PÚBLICO.

A concretizar-se esse novo financiamento, alguns trabalhadores temem que essa verba seja rapidamente esgotada em salários e subsídio de Natal, e ao pagamento a fornecedores, voltando a tesouraria da empresa novamente à estaca zero.

A situação económica e financeira da Efacec agravou-se nos últimos meses, com o surgimento de “surpresas negativas” nas contas de Julho e Agosto, ainda não esclarecidas totalmente.

Em declarações recentes à Lusa, Miguel Moreira, dirigente do Site-Norte, defende que “o Estado, como dono da empresa, deve assumir o controlo da empresa com transparência e deve comprar matérias-primas para pôr a Efacec a trabalhar e a satisfazer as encomendas que tem em carteira”.

Segundo a Lusa a administração da Efacec afirma que quarta-feira, em comunicado, que a empresa “está na fase final do processo de reprivatização”, garantindo que continua “a responder aos pedidos de clientes, a prestar serviço e a desenvolver novos projectos”.

“A empresa tem sentido o impacto global em todos os sectores e áreas, devido à disrupção nas cadeias de abastecimento, causada pela pandemia, mas a produção mantém um ritmo variável dependendo das encomendas que tem em curso”, sustenta.

A administração liderada por Ângelo Ramalho diz ainda que “a confiança no futuro está assegurada, desde logo, pela carteira de clientes, dado que estão em curso novos projectos, resultado de novos contratos celebrados em 2021, para lá da carteira global que detém e que está a executar”.

A empresa detida em 71,73% pelo Estado, desde Julho de 2020, já deveria ter sido reprivatizada, mas três dos cinco candidatos iniciais, neste caso grupos internacionais, desistiram do processo, mantendo-se na corrida apenas os grupos nacionais DST e Sing SGPS.

O Governo tem-se manifestado optimista no encerramento do processo até ao final do ano.

A nacionalização de 71,73% das acções detidas pela empresária angolana Isabel dos Santos na Efacec ocorreu após o “congelamento” das contas da empresária, no âmbito de processos judiciais desencadeados pela justiça angolano, no âmbito das revelações do “Luanda Leaks”.

Notícias actualizada com declarações do dirigente sindical Miguel Moreira e comunicado da Efacec

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