Rebeldes de Tigré dispostos a avançar até à capital etíope
FLPT diz que se o primeiro-ministro não “aceitar as suas condições” levará o conflito até Adis Abeba. Perigo de guerra civil na Etiópia é cada vez maior, diz a ONU
A Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT) garantiu esta terça-feira que continuará a avançar em direcção a Adis Abeba “a menos que o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, aceite as nossas condições” para pôr fim ao conflito que dura há pouco mais de um ano.
“O único obstáculo à solução pacífica do conflito é a obsessão de Abiy com a solução militar para aquilo que é, na sua essência, um problema político”, afirmou Getachew Reda, porta-voz dos rebeldes, em declarações à BBC. “Depende de Abiy dizer ‘sim’ às nossas exigências. Foi Abiy quem começou a guerra e depende dele aceitar as nossas condições para pôr fim ao conflito.”
Getachew garantiu que a FLPT “não procura aterrorizar a população” e acusou as forças governamentais de estarem a cometer “um genocídio” contra a população tigré. Os combates são consequência, garante, do facto “das forças de Abiy não se terem retirado da maior parte de Tigré”.
A FLPT conseguiu alguns avanços nos últimos dias na região de Amhara, no Norte da Etiópia, numa escalada do conflito, que incluiu uma aliança com o Exército de Libertação de Oromia, uma facção da Frente da Libertação Oromo, que se afastou desta depois dos acordos de paz de 2018.
Com o país em estado de emergência e a expansão do conflito para lá das fronteiras da região de Tigré, as Nações Unidas (que esta terça-feira denunciaram a detenção de nove funcionários e colaboradores em Adis Abeba) alertaram que o conflito “alcançou proporções desastrosas” e que o “risco da Etiópia se afundar numa guerra civil é muito real”, afirmou a subsecretária-geral da ONU para Assuntos Políticos e Construção da Paz, Rosemary DiCarlo.
“Num país com mais de 100 milhões de pessoas, mais de 90 grupo étnicos e 80 idiomas ninguém pode prever o que a continuação dos combates e a insegurança provocará”, mas é certo que a possibilidade de uma guerra civil generalizada aumenta de dia para dia, na opinião da diplomata, que pediu “o fim imediato das hostilidades” e lembrou que há mais de sete milhões de pessoas a necessitar de ajuda humanitária no Norte do país, 400 mil delas em risco de fome porque a ajuda humanitária não consegue chegar até elas.