Música contemporânea, criação e tecnologia, eis o Música Viva 2021

O festival organizado pela Miso Music Portugal decorre no O’Culto da Ajuda, em Lisboa, até dia 20. Em cartaz, entre muitos outros, o Sond’Arte Electric Ensemble, o ensemble vocal Neue Vocalsolisten e até um festival dentro do festival, através da presença da European Art-Science-Technology Network for Digital Creativity.

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O Sond'Arte Electric Ensemble, aqui em actuação no festival Terras Sem Sombra, protagonizará o concerto de abertura do Música Viva 2021 DR

São já 27 edições, 27 demonstrações do que é e do que pode ser a criação musical contemporânea, principalmente a que fervilha em Portugal, e sempre com a atenção posta, ou não falássemos, precisamente, de contemporaneidade, na forma como a tecnologia interage e estimula novas criações. O festival Música Viva 2021, uma organização da Miso Music Portugal, com direcção de Miguel Azguime, tem início este sábado, no O’Culto da Ajuda, em Lisboa.

O objectivo do Música Viva, e assim é desde o seu nascimento, passa pela defesa da “criação musical em toda a sua liberdade, fora das lógicas do mercado que não têm a ver com o exercício da criação artística”, como dizia Miguel Azguime ao PÚBLICO em 2017. A programação deste ano reflecte, uma vez mais, essa preocupação. Até dia 20 de Novembro, passarão pelo festival os Sond’Arte Electric Ensemble, o ensemble vocal Neue Vocalsolisten, o Duo Sigma e aquilo que será um festival dentro do festival, através da presença da plataforma European Art-Science-Technology Network for Digital Creativity (EASTN-DC), que agrega várias instituições dedicadas à exploração tecnológica no campo da criatividade artística.

O concerto de abertura do festival acontece este sábado, às 19h30 (horário de todos os concertos, salvo assinalado), com uma formação alargada do Sond’Art Electric Ensemble, que tem como directores artísticos Miguel Azguime e Pedro Neves e que se dedica a interpretação de música do nosso século e à criação de novo repertório. Para a ocasião, a formação preparou um programa especial, 50 Anos de Música Espectral. Sob a direcção do maestro sueco Petter Sundkvist, o ensemble recuará a 1970 para daí resgatar o Concerto de Câmara para 13 Instrumentistas de György Ligeti, avançando uma década para chegar a Gérard Grisey (Talea) e, naturalmente, ao presente português de Miguel Azguime (Águas Marinhas, 2005) e João Madureira (Ausgraben und Erinnern, 2006). Caberá também ao Sond’Arte o encerramento do festival, a 20 de Novembro, neste caso através de um duo dele emanado. Sob o nome A Correr à Frente do Relâmpago, Sílvia Cancela (flauta) e Elsa Silva (piano) interpretarão peças de Doina Rotaru, Jonathan Harvey, Rui Penha, Miguel Azguime e Sara Carvalho.

Antes, já neste domingo, o programa será dedicado a Sul e Sueste, álbum do compositor Filipe Esteves que, no Música Viva, será apresentado com a Orquestra de Altifalantes, ou seja, o sistema sonoro criado por Miguel Azguime no seio da Miso Music especificamente para a interpretação e correcta fruição de música electroacústica. A semana seguinte será marcada, primeiro, pela actuação do septeto alemão Neue Vocalsolisten, cujo protagonismo no meio musical nasce da abordagem experimental, exploratória, da música de câmara vocal em articulação com as novas potencialidades do mundo digital: no dia 11, às 19h30, apresentarão no festival, em estreia, uma encomenda do Miso Music Portugal, Rosto, de João Madureira (texto extraído de Mensagem, de Fernando Pessoa), a par de peças de Carola Bauckholt, José-Mária Sánchez-Verdú, Oscar Bianchi e Miguel Azguime.

A 16 de Novembro será conhecido o vencedor do Concurso de Composição Electroacústica Música Viva 2021. Nessa mesma noite, o belga Todor Todoroff e o brasileiro Flo Menezes, nomes de relevo da música electroacústica contemporânea (e que, com Miguel Azguime, formam o júri do concurso), apresentarão em palco os resultados da sua criatividade mais recente (no caso de Todoroff, recuando também aos seus anos 1990 e à década seguinte). Depois, passarão pelo festival o Laboratório de Música Mista José Luís Ferreira, da Escola Superior de Música de Lisboa (dia 17), o Duo Sigma de Ana Cláudia Assis, piano, e Miguel Rocha, violoncelo (dia 18), e o Lisbon Ensemble XX/XXI com um concerto dedicado à obra de Emmanuel Nunes (dia 19, 21h, emitido em directo pela Antena 2).

Antes, entre os dias 12 e 15, o festival será tomado pela supracitada EASTN-DC. O festival dentro do festival apresenta em cartaz o guitarrista italiano Davide Ficco (dia 12), um programa em que música, dança e artes visuais dialogam entre si através de peças e performance de Henrik Frisk, Rui Penha, Iannis Zannos, Claude Cadoz, Tadej Droljc e o duo formado por Alexandros Kontogeorgakopoulos e Odysseas Klissouras (dia 13). A instalação Rave Scéance, protagonizada pelo croata Marko Ciciliani (dia 14), encerra a programação da EASTN-DC no Música Viva, que contempla também workshops de Claude Cadoz e Nicolas Castagné (dia 14, 9h30), de Marko Ciciliani (dia 15, 14h30) e de Iannis Zanos (dia 15, 17h).

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