Cerca de 40% dos idosos faltaram à chamada para a terceira dose contra a covid-19
Dificuldades em ler e responder à convocatória feita por SMS e problemas de mobilidade são apontados como causa. Cenário é semelhante ao do início do processo de vacinação da covid-19, no início do ano.
Cerca de 40% das pessoas com mais de 80 anos que foram convocadas para receber a vacina da gripe e o reforço da imunização para a covid-19 nas últimas semanas faltaram à chamada. O número é avançado esta quinta-feira pelo presidente Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar ao Jornal de Notícias (JN). Parte do problema prende-se com o facto de a comunicação com os utentes ser feita por SMS e muitos dos idosos têm dificuldades em ler e responder a mensagens. A situação já se tinha verificado no arranque da campanha de vacinação contra a covid-19, no início deste ano.
“Temos uma elevada taxa de faltas. Estamos a vacinar a 60% do que devíamos. Estão 40% a faltar, ou mais. Estamos atrasados”, afirma, ao JN, Diogo Urjais, presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar. “Muitas nem são faltas, porque as pessoas não sabem ler as mensagens, não sabem responder, não têm apoio, não têm transportes, com alguns locais de vacinação a 20/30 quilómetros de distância”, prossegue o mesmo responsável.
Os números avançados pelo presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar são confirmados pelo presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto. “O facto é que o telemóvel, na população mais avançada, é um meio que coloca dificuldades. Criando uma entropia no processo, fazendo com que vá ficando atrasado”, explica ao JN aquele clínico, estimando que apenas 20% a 23% da população elegível esteja vacinada contra a gripe.
O último balanço feito pela Direcção-Geral de Saúde, a 28 de Outubro, avança que foram administradas 385 mil vacinas contra a gripe e há 200 mil pessoas com reforço contra a covid. A meta anunciada era a de vacinar 80 mil pessoas por dia nesta fase.
A situação é semelhante à verificada no início do processo de vacinação contra a covid-19. No final de Fevereiro, quando se tinha iniciado a inoculação das pessoas com mais de 80 anos e das pessoas entre os 50 e 79 anos com doenças de risco, apenas 55% das mais de 30.000 mensagens enviadas tiveram resposta, como adiantava o PÚBLICO nessa altura, com base em dados dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS).
O presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar defende o agendamento local eda vacinação, nos centros de saúde. “As pessoas estão habituadas a ir ao centro de saúde, numa vacinação de proximidade”, afirma. Como a actual campanha decorre maioritairamente em centros de vacinação, os centros de saúde não têm vacinas contra a gripe.