China testa cem mil por um caso de infecção em Xangai e limita voos para Pequim

O país é dos poucos que mantém uma estratégia de “covid zero”. Cerca de metade dos voos desta terça-feira para Pequim foram cancelados depois de terem sido registados quatro novos casos de infecções na cidade. A Disney de Xangai foi encerrada no domingo.

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A Disney em Xangai foi encerrada no domingo e as 34 mil pessoas no recinto foram testadas antes de saírem para isolamento. No total, foram feitos testes às 100 mil pessoas que passaram pelo local durante o fim-de-semana Aly Song/Reuters

Um caso positivo foi o suficiente para as autoridades fecharem o parque de diversões da Disney em Xangai, no domingo, e não deixarem ninguém entrar ou sair, e começarem a testar todas as 34 mil pessoas no interior do recinto. Estas pessoas foram depois levadas em autocarros para casa, ou hotéis, para cumprirem dois dias de isolamento antes de serem testadas de novo. Ainda foram testadas mais pessoas que passaram pelo parque durante o fim-de-semana, ou seja, um total de cerca de 100 mil pessoas no total (o caso positivo terá estado no local no sábado). Até agora, nenhuma outra pessoa teve um resultado positivo no teste.

Na China continental foram reportados na segunda-feira 54 novos casos de transmissão local do vírus que provoca a covid-19, com o número total de casos a ultrapassar os 900, segundo a comissão nacional de saúde (entre 17 de Outubro e 1 de Novembro foram reportados 538 casos de transmissão local, segundo a agência Reuters). Pequim registou mais quatro casos de infecção na terça-feira de manhã.

Em Pequim, cerca de metade dos voos desta terça-feira para os dois aeroportos da cidade foram cancelados, e as autoridades de saúde aconselharam quem está em viagem em locais com casos confirmados para adiar o regresso. Neste momento, há 16 províncias chinesas com surtos de covid-19, com cerca de 500 pessoas infectadas.

Na cidade de Lanzhou (Noroeste), de mais de 4 milhões de habitantes, foi decretado um confinamento depois de serem registados seis casos de infecção pelo coronavírus num dia, há uma semana.

A China é um dos últimos países a insistir na política de “Zero covid”, a chamada estratégia de eliminação do vírus, que contrasta com outros países em que o objectivo é manter baixas hospitalizações e mortes, deixando, no entanto, alguma circulação do vírus que provoca a covid-19.

Esta política teve mais sucesso antes da variante Delta, que é mais transmissível e por isso causa especiais problemas a quem segue esta estratégia. Inclui, além das testagens em massa e isolamento mal apareça um caso, grandes restrições a quem chega ao país, com quarentenas em hotéis logo à chegada ao país.

E não há sinais de que vá mudar de estratégia tão cedo. “A política vai manter-se algum tempo”, disse Zhong Nashan, especialista em doenças respiratórias que ajudou a desenhar a estratégia da China contra a covid-19, citado nos media estatais chineses, segundo a agência Reuters. A taxa de letalidade actual no mundo – 2% de mortes entre infectados – não é admissível na China, disse o responsável, e mais, enquanto a política actual tem custos (económicos por causa dos confinamentos e paragens da actividade nos locais dos surtos), “deixar o vírus espalhar-se é ainda mais caro”, concluiu.

A afirmação parece ter posto um ponto final à especulação de que quando chegasse aos 85% de vacinados, a China pudesse flexibilizar as suas regras. Neste momento, a China vacinou mais de 75% da sua população. 

O aumento da vacinação está a ser invocado por outros países que seguiam esta estratégia de erradicação, da Coreia do Sul à Austrália, para flexibilizarem as restrições. Em Seul, com quase 73% da população vacinada, o primeiro-ministro anunciou “o primeiro passo em direcção a uma vida normal”, e depois de dois anos de um regime estrito que restringiu o número de entradas e as sujeitou a quarentenas, a Austrália vai começar a deixar entrar pessoas totalmente vacinadas.

Há várias razões para a China não abandonar já esta política, enumera a estação de televisão norte-americana CNN. Uma é a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno em Fevereiro, e o Governo chinês quer evitar uma repetição do que se passou com os Jogos Olímpicos de Tóquio. Depois, aponta Steven Tsang, director do China Institute da londrina SOAS, aponta ainda mais longe: o 20.º congresso do Partido Comunista Chinês, em Novembro, o encontro da liderança do partido que acontece duas vezes por década.

“Xi tem vindo a dizer que o sistema chinês é superior”, diz Tsang à CNN. “Como poderia parecer que não venceu o vírus?”, questiona.

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