Web Summit arranca com os fundadores em disputa legal

Web Summit reclama perdas de 8,6 milhões de euros. Paddy Cosgrave acusa o seu antigo parceiro de negócios e co-fundador da Web Summit, David Kelly, de criar um fundo de investimento secreto para beneficiar com o nome do evento.

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Paddy Cosgrave e David Kelly conhecem-se desde os tempos de escola Nuno Ferreira Santos

Há semanas que os criadores da Web Summit estão envolvidos numa disputa legal. David Kelly, um dos três co-fundadores da empresa e amigo dos tempos de escola de Paddy Cosgrave, está a ser processado pelo presidente executivo da feira de tecnologia nos Estados Unidos e na Irlanda. Em causa está um fundo de capital de risco secreto que usava o nome, marca e contactos da Web Summit sem autorização. Cosgrave, por sua vez, é acusado de perseguir Kelly desde a sua saída da Web Summit. 

O processo inicial foi aberto em Setembro em nome da Manders Terrace, a empresa-mãe que gere a Web Summit. Os documentos legais referem perdas de dez milhões de dólares (8,6 milhões de euros).

A história começou há três anos. Em 2018, Paddy Cosgrave, David Kelly e Patrick Murphy, um ex-gestor da Goldman Sachs, juntaram-se para criar o Amaranthine, um fundo de capital de risco para investir em startups. A Web Summit entrou com dois milhões de euros, tendo direito a 30% dos lucros do fundo. 

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A Amaranthine (logótipo à esquerda) foi criado em 2018 DR

“A Web Summit tinha um papel fundamental em atrair investidores, apresentar startups como potenciais investimentos e usar os seus recursos, dados, trabalhadores e propriedade intelectual para fazer com que o fundo fosse bem-sucedido”, lê-se no depoimento que Cosgrave entregou na Irlanda, um longo documento de 16 páginas que foi enviado ao PÚBLICO.

Kelly, que detém 12% da Manders Terrace e em 2018 ainda trabalhava como director na Web Summit, tinha o papel de “representar os interesses da feira” na Amaranthine. 

No começo, as coisas correram bem: dois anos após a criação, a equipa dizia que o fundo tinha uma taxa interna de retorno de 102%. Só que quando o trio começou a falar da possibilidade de criar um segundo fundo, os empresários não conseguiam chegar a um acordo sobre o papel da Web Summit.

Em Abril de 2021, David Kelly afastou-se da conversa e demitiu-se da Web Summit, notando, em mensagens enviadas a Cosgrave, que planeava começar um negócio próprio “ou trabalhar para outra pessoa”.

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“As partes determinaram que, relativamente a qualquer futuro fundo, a Web Summit conservaria todos os direitos de utilizar o nome Amaranthine”, lê-se nos documentos entregues no Tribunal Superior da Califórnia, nos EUA. “Kelly e Murphy não teriam tais direitos.”

Em Maio, o site da Amaranthine começou a redireccionar os visitantes para uma página de um novo fundo de capital de risco onde se lia “Amaranthine é a Semble” (o site já não está activo). Cosgrave alega que não sabia de nada.

Agora, Kelly é acusado de usar a Semble como uma marca da Web Summit para atrair interesse. Cosgrave quer que a sua empresa seja indemnizada pelas perdas de investidores que escolheram a Semble por acharem que era um fundo da Web Summit. 

O outro lado da história

A perspectiva de David Kelly é diferente. Um porta-voz do empresário, citado na imprensa irlandesa, nota que a Web Summit era apenas “um de muitos contribuidores” da Amaranthine que era gerida por David Kelly e Robert Murphy. Ou seja, segundo Kelly, o fundo Amaranthine, que antecede o Semble, também não era um fundo da Web Summit. 

"Desde a separação, Cosgrave tem mostrado a intenção de perturbar as vidas e os negócios de David e Patrick. O processo [em tribunal] é o culminar disto”, disse um porta-voz de Kelly ao jornal Irish Times. 

“Está nas mãos da justiça”, frisou Paddy Cosgrave quando questionado pelo PÚBLICO. “Ele [Kelly] tem dito que vai ripostar devido a problemáticas de 2017. Estamos a aguardar desenvolvimentos, mas passaram-se semanas e ainda não aconteceu nada”, acrescentou.

Paddy Cosgrave e David Kelly conhecem-se desde os tempos da escola. Em 2010, quando a Web Summit dava os primeiros passos, Cosgrave convidou Kelly para se juntar ao projecto. Meses mais tarde, juntava-se o antigo jornalista Daire Hickey. Em 2012, a Manders Terrace nasceu para gerir o negócio da Web Summit: como fundador original, Cosgrave detém 81% das acções, Kelly 12% e Hickey 7%.

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