Duas pessoas morreram durante os novos protestos no Sudão contra o golpe militar
Os protestos na capital sudanesa foram recebidos com um forte aparato militar e há relatos do uso de munições reais e gás lacrimogéneo.
Centenas de milhares de pessoas voltaram a sair às ruas do Sudão neste sábado contra o golpe militar da passada segunda-feira, apelando à restituição de um governo civil. Pelo menos duas pessoas foram mortas pelas forças de segurança, segundo um grupo de médicos, escreve a Reuters.
Também durante a semana milhares saíram em protesto contra a tomada de poder dos militares e pelo menos 10 pessoas foram mortas pelas forças de segurança sudanesas. Mas isso não impediu os sudaneses de voltarem a protestar.
Apesar da presença militar e do corte da Internet e dos serviços de comunicação, os manifestantes apoderaram-se da capital sudanesa, Cartum, e do resto do país, menos de uma semana depois de o Exército ter derrubado o governo interino – que geria o país há mais de dois anos e que presidia à transição democrática – e ter declarado o estado de emergência, sob pretexto de evitar uma “guerra civil” entre a facção civil e a militar.
Mesmo afirmando o seu compromisso com a transição democrática, com eleições previstas para Julho de 2023, o golpe motivou a condenação da comunidade internacional.
Os manifestantes levavam bandeiras do Sudão e entoavam “Não ao Governo militar” e “Somos revolucionários livres e vamos continuar no caminho” da transição democrática. Outros pediam que o líder do golpe, o general Abdel Fattah al-Burhan, fosse enviado para a prisão sudanesa de Kobar.
Duas pessoas foram mortas depois de os militares terem disparado contra os manifestantes na cidade ao lado da capital, Omdurman, informou o comité de médicos sudaneses, e mais de 30 pessoas ficaram feridas.
“Milícias aliadas [aos militares] do golpe estão agora a usar munições reais contra os manifestantes em Omdurman e noutras áreas da capital rebelde”, disse o grupo no Twitter.
Para o centro da capital foi enviado um forte destacamento de militares. Nos bairros, grupos de manifestantes bloquearam estradas para impedir a passagem das forças de segurança. Mas os militares também bloquearam a grande maioria das vias e pontes de Cartum e montaram postos de controlo.
Enquanto isso, várias organizações da sociedade civil lançaram uma campanha de desobediência civil, levando ao encerramento de bancos, escolas e comércio.
As manifestações acontecem depois de Burhan ter anunciado que iria nomear um primeiro-ministro tecnocrata para liderar o país juntamente com os militares. Muitos continuam a apoiar o gabinete do primeiro-ministro destituído, Abdalla Hamdok, considerando-o o legítimo governo. Aliás, ao contrário do que aconteceu nos protestos anteriores, muitos manifestantes levavam imagens de Hamdok, que permanece popular apesar da crise económica que se agravou durante a sua liderança.
“Não seremos governados pelo Exército. Essa é a mensagem que vamos transmitir nos protestos”, disse Tahani Abbas, activista sudanesa, citada pelo Guardian. “As forças militares são cruéis e injustas e estamos a antecipar o que vai acontecer nas ruas. Mas já não temos medo.”