Apesar de já se terem passado quase três décadas, Jorge Palma lembra-se vividamente dos dias de azáfama em que escreveu a música A gente vai continuar, que, nos últimos dias, se tornou o hino de batalha adoptado pelo primeiro-ministro António Costa na luta pela aprovação do Orçamento do Estado.

“Gravei esse tema pela primeira vez no Acto Contínuo, um disco que saiu em 1982. Já lá vão quase 30 anos. Estava na estrada, tocava em Paris, pela Europa fora. Julgo que escrevi essa música na Suíça. Andava em viagem, portanto a letra do tema fazia todo o sentido para mim”, explica o músico em conversa com o PÚBLICO.

Em conferência de imprensa, no Parlamento ou até em publicações no Twitter, António Costa utilizou por diversas vezes a música A gente vai continuar, da autoria de Jorge Palma, durante as negociações do Orçamento do Estado. Parafraseando excertos do refrão, o primeiro-ministro procurou mostrar até ao último momento esperança de que os parceiros de esquerda não chumbariam o documento apresentado pelo Governo: “Ainda há estrada para andar e devemos continuar. Da parte do Governo, enquanto houver ventos e mar a gente não vai parar.”

Entre risos, Jorge Palma não esconde o regozijo com a utilização da música dos debates no Parlamento, que também foi utilizada pelos adversários do primeiro-ministro: “Acho-lhe piada, mas não foi só o António Costa, também foi o Telmo Correia, do CDS. Você não viu o Inimigo Público? Disseram que eu ia formar um Governo. Acho tudo isto engraçado, ajuda a tornar esta música ainda mais conhecida.”

O aumento de popularidade do tema, usado como música de encerramento dos concertos de Jorge Palma, já foi sinalizado pelos assistentes do músico. Contudo, este crescimento também já tinha sido registado nos meses mais difíceis da pandemia de covid-19.

“As televisões pegaram nesse tema como fundo musical para as reportagens que estavam a ser feitas nos hospitais, com as imagens dos médicos e enfermeiros. O aumento de visualizações teve início nesse momento”, detalha.

Tanto no caso da pandemia como no do primeiro-ministro, Jorge Palma não tem dúvidas: a letra da música faz todo o sentido para a mensagem que pretende ser veiculada.