Museu do Vitral abriu portas no Porto
O Porto tem um novo museu, onde está patente uma selecção das obras do artesão de vitrais João Aquino Antunes.
Junto à Sé do Porto, na requalificada Casa da Vandoma, agora propriedade da família Antunes, abriram ao público, a 30 de Julho, as portas do Museu do Vitral. O espaço, com vista privilegiada sobre a cidade do Porto, acolhe uma selecção de 46 obras do pintor João Aquino Antunes.
Apesar da curadoria e da exploração do museu estarem a cargo do grupo The Fladgate Partnership, a escolha das obras expostas foi feita pelo próprio artista, “consoante as que ele preferia”, refere João Faria Dias, sobrinho neto e afilhado do artista, porta-voz da família. Fazem parte da exposição obras-primas em vitrais tradicionais, painéis decorativos, instalações de arte abstracta e um caleidoscópio de 400 cores de vidro. Esboços e maquetes também podem ser apreciados num espaço que recria parte do estúdio do artista.
Apesar de o espaço estar, neste momento, inteiramente dedicado às obras de João Aquino Antunes, o porta-voz não descarta a possibilidade de vir a existir “um espaço para exposições temporárias de outros artistas, e de outras artes para além do vitral, como pintura ou escultura”.
O pintor, diplomado pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde foi professor de vitral e mosaico durante décadas, começou a sonhar com o Museu do Vitral “há mais de 30 anos - altura em que o mestre Júlio Resende o convenceu de que tinha espólio para tal”, confidencia Faria Dias. Foram necessárias três décadas para o artista, hoje com 82 anos, concretizar o sonho.
Foi um processo muito lento, como revela o afilhado do artista. Apesar da vontade ser antiga, o verdadeiro impulso só ocorreu em 2008, quando João Aquino Antunes enviuvou. “Desorientado com a morte da mulher”, o artesão decidiu avançar com o projecto que se encontrava adormecido, admite o familiar.
O primeiro passo, adianta, foi a busca do espaço ideal. Não foi tarefa fácil. A compra da Casa Vandoma pelo artista só ocorreu em 2014. Imóvel de referência na cidade do Porto, a Casa Vandoma encontra-se inserida no morro da Sé, área nuclear do Centro Histórico do Porto, que integra a lista do Património Mundial da UNESCO. Com esta opção, o museu beneficia de uma localização não só privilegiada, como estratégica, dada a proximidade com a Sé e a estação de São Bento.
Seguiram-se as obras para reabilitar o imóvel e a selecção das peças que integrariam o museu dentro do vasto espólio que se encontrava no antigo Atelier Antunes - o mais antigo de Portugal, fundado em 1906 por Plácido Antunes, avô do artista.
João Aquino Antunes representa a terceira e última geração de Antunes mergulhada no mundo colorido do vitral, uma das formas de pintura artística mais disseminadas desde o Renascimento. Historicamente, os vitrais estão associados ao simbolismo religioso e espiritual. Porém, são também um nobre elemento decorativo em muitos edifícios públicos e privados.
As obras da família Antunes e, como não podia deixar de ser, de João Aquino Antunes, estão presentes em igrejas, obras públicas e particulares pelos quatro cantos do mundo. Na cidade do Porto, onde se situa o museu, a Igreja de Santo Ildefonso, a Igreja dos Congregados, a Livraria Lello e o Hotel Infante Sagres, são alguns dos edifícios que beneficiam dos vitrais assinados pelo atelier Antunes.
Texto editado por Ana Fernandes