Primeiro museu de BD em Portugal deverá nascer em Beja até 2025

Autarca do PS volta a comprometer-se com projecto do anterior executivo comunista e garante que tudo fará para ter o museu aberto até ao final do actual mandato. Colecção a instalar no novo equipamente conta já com uma vasta biblioteca, mais de mil pranchas de autores nacionais e outros manuscritos.

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O amor infinito que te tenho e outras histórias, de Paulo Monteiro DR

O primeiro museu em Portugal dedicado à banda desenhada deverá ser criado em Beja no actual mandato autárquico.

Paulo Arsénio, socialista que preside à câmara de Beja, admitiu esta sexta-feira à Lusa que a criação deste museu que contará a história da nona arte portuguesa até 2025 “não é [ainda] uma certeza absoluta”, mas lembrou que, em 2017, quando tomou posse para o primeiro mandato, disse que “só equacionaria avançar para um segundo com o museu da banda desenhada [no horizonte]”, projecto que fora lançado em 2016 pelo anterior executivo comunista. “Não me posso comprometer, nem seria justo, nem honesto da minha parte, com uma certeza absoluta, mas faremos o que estiver ao nosso alcance para avançar com o projecto”, assegurou.

Paulo Arsénio garante que o projecto de arquitectura, concebido para converter dois edifícios municipais em museu, da autoria de Manuel Faião, e a proposta museológica, da responsabilidade de Paulo Monteiro, director do histórico festival de banda desenhada da cidade, estão “praticamente concluídos”.

Só quando ambos estiverem terminados é que o município poderá apurar quanto custará a criação deste novo equipamento cultural e decidir se é viável construí-lo até 2025, explicou o autarca socialista. O novo museu poderá sair integralmente do bolso do município de Beja ou, caso o valor da empreitada seja considerado muito alto para o orçamento camarário, fazer parte dos projectos a candidatar a fundos comunitários, acrescentou: “Se o valor de instalação do museu não for muito elevado e pudermos fazer várias coisas internamente, com custos mais reduzidos, também assumiremos essa responsabilidade.”

Mais de 1000 pranchas

Da colecção que será mostrada no futuro museu fazem já parte mais de mil pranchas originais de autores portugueses tão importantes como Carlos Botelho, Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento, José Ruy, Vitor Péon, Fernando Relvas ou Filipe Abranches, disse à Lusa Paulo Monteiro, director da Bedeteca de Beja.

Este acervo é maioritariamente composto por pranchas doadas pelos próprios autores ou pelas suas famílias e por alguns coleccionadores, às quais se juntam livros, alguns “raros”, fotografias, cadernos de esboços, apontamentos, guiões e correspondência.

“A ideia é contar a história da BD portuguesa, desde 1850 até ao início do século XXI”, explicou Monteiro, também ele autor de BD, depois de apresentar o projecto para o novo museu, o primeiro do género no país, no Irudika - Encontro Profissional Internacional de Ilustração, no País Basco, Espanha, uma iniciativa que termina amanhã, sábado. 

De acordo com este responsável, o novo equipamento vai “ocupar um espaço que é importante preencher em Portugal”, país que é um dos poucos da Europa Ocidental a não ter um museu dedicada à nona arte.

“Basta pensar em nomes como Rafael Bordalo Pinheiro ou Stuart de Carvalhais para perceber que [a criação do museu] é uma lacuna que urge preencher”, defendeu Paulo Monteiro, frisando que Portugal foi um dos primeiros países do mundo a ter BD, com a primeira história do género, provavelmente da autoria de António Nogueira da Silva, a ser publicada em 1850 (tinha por título Aventuras Sentimentaes e Dramáticas do Senhor Simplício Baptista e saiu nas páginas da Revista Popular). “É um legado maravilhoso que devemos honrar, protegendo-o, em primeiro lugar, e, depois, partilhando-o com o público.”

Desde 1850, frisou Monteiro, têm aparecido em Portugal autores “incríveis, muito importantes no contexto da BD europeia e mundial”, protagonistas de “uma história riquíssima e com pouco paralelo noutros países da Europa”.

Um dos autores pioneiros da BD portuguesa e europeia é Rafael Bordalo Pinheiro, o criador da personagem satírica Zé Povinho, lembrou Paulo Monteiro.

O futuro museu deverá ter uma “forte componente multimédia” e receber a Bedeteca de Beja, que hoje funciona na Casa da Cultura, promovendo ainda workshops de BD, serigrafia e ilustração. Não é um equipamento pensado para servir apenas o concelho de Beja, sublinhou o director do festival, insistindo na sua vocação nacional.

O novo museu terá 12 salas - sete para a exposição permanente, três para a Bedeteca de Beja e o acervo bibliográfico e duas para exposições temporárias -, uma loja, um espaço para realização de workshops e um terraço com vista privilegiada para a planície alentejana, como convém.

Na cidade de Beja existe desde 2005 uma das poucas bedetecas portuguesas e decorre, anualmente, um festival internacional de BD, ambos projectos promovidos por Paulo Monteiro, autor de O Amor Infinito que te Tenho (Polvo, 2010), volume que já recebeu vários prémios e está editado em 15 países. Beja é também a casa do Toupeira, um singular colectivo de 30 autores de BD e de ilustração.