Hospital de Castelo Branco tem 92 médicos. Precisa de mais 44 para funcionar adequadamente, diz Ordem
A idade média dos clínicos é de 51 anos, o que significa que uma parte destes profissionais pode, por lei, pedir dispensa de realizar uma parte ou a totalidade das urgências.
O Hospital Amato Lusitano em Castelo Branco tem actualmente 36 médicos tarefeiros no serviço de urgência e precisa de mais 44 médicos para “funcionar adequadamente”, alertou esta quarta-feira o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), após uma reunião com o conselho de administração, direcção clínica e directores dos serviços de urgência, pediatria e medicina interna. A unidade tem 92 clínicos, com uma média de idades de 51 anos. A lei permite que a partir dos 50 anos os médicos possam pedir dispensa de realizar urgências nocturnas e a partir dos 55 todo o tipo de urgências.
“Nós percebemos nesta reunião que, efectivamente, havia grandes dificuldades, que têm sobretudo a ver com os recursos humanos médicos. E foi-nos dado aqui um número que é preocupante. Para o hospital seriam necessários 44 médicos para funcionar adequadamente, para suprir algumas das suas dificuldades, não todas as suas dificuldades. Este é um número mínimo para o funcionamento deste hospital”, afirmou o presidente da SRCOM. Carlos Cortes avançou ainda que o serviço de urgência “tem à volta de 36 prestadores de serviço”.
Em resposta ao PÚBLICO, a um pedido de retrato do Hospital Amato Lusitano, que está integrado na Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, a administração adiantou, em resposta por escrito, que “conta com 92 médicos”, dos quais 45 são homens e 47 mulheres. No que respeita aos horários, 89 destes profissionais trabalham em tempo integral, estando três em horário parcial. “A média geral de idades dos clínicos é de 51 anos, sendo que as médicas se situam no grupo etário médio de 47 anos e os médicos nos 56 anos”, o que significa que uma parte destes profissionais pode, por lei, pedir dispensa de realizar uma parte ou a totalidade das urgências.
Já no que diz respeito à enfermagem, o hospital “conta com 413 profissionais, sendo 322 mulheres e 91 homens”, respondeu a administração. “Do total de enfermeiros, 402 (88 homens e 314 mulheres) estão em regime de tempo integral e 11 (3 homens e 8 mulheres) têm o regime de tempo parcial. A média geral de idades dos enfermeiros é de 44 anos, sendo que entre as enfermeiras essa média é de 44 anos e a do género masculino de 43 anos.”
Questionada sobre as necessidades de profissionais e quais as especialidades mais deficitárias, a administração disse que “o número de médicos e enfermeiros, incluindo os prestadores de serviços, ainda que com o necessário empenho e esforço dos profissionais, consegue dar resposta às necessidades, não descurando nunca a segurança e o bem-estar dos utentes”. “Das especialidades que têm obrigatoriedade de fazer serviço de urgência, em presença física, sente-se maior dificuldade em medicina interna, ginecologia/obstetrícia, pediatria, anestesiologia e ortopedia”, acrescentou.
Novas visitas ao hospital
Estas são algumas das especialidades que vão ser alvo de novas visitas da Ordem dos Médicos. “Detectámos aqui algumas dificuldades em alguns serviços: na medicina interna, pediatria, na ginecologia obstetrícia e serão todos serviços que serão objecto de uma visita mais aprofundada da Ordem dos Médicos, inclusivamente com a presença dos colégios da especialidade”, frisou Carlos Cortes, referindo que o objectivo das visitas será avaliar as condições da prestação dos cuidados de saúde à população e a capacidade formativa do hospital.
“Devo dizer que este hospital é paradigmático daquilo que o Ministério da Saúde está a fazer de errado no Serviço Nacional de Saúde”, acusou o presidente da SRCOM, adiantando que o hospital tem 12 assistentes graduados seniores (topo da carreira médica). “Num diploma recente do Ministério da Saúde, em que abriram 250 vagas de assistente graduado sénior para todo o país, este hospital solicitou a abertura de 12 vagas. Destas 12, o Ministério da Saúde atribuiu zero. Isto diz muito, infelizmente, das intenções em resolver os problemas dos hospitais que têm dificuldades”, sustentou.
Carlos Cortes lamentou ainda que o Ministério da Saúde não tenha dado condições para os médicos se estabelecerem em Castelo Branco. “Basta ver, por exemplo, as vagas que têm sido abertas para este hospital, à volta de 6% de todas as vagas que foram abertas, nos melhores anos, na região Centro. Isso é muito insuficiente. E nós percebemos que, para o Ministério da Saúde, as dificuldades do hospital de Castelo Branco não são prioritárias, não são importantes. O hospital de Castelo Branco é um hospital esquecido do Ministério da Saúde.”