China critica apelo dos EUA para a participação de Taiwan na ONU
Embaixada chinesa em Washington diz que a organização mundial reconheceu o princípio “uma só China” há 50 anos e denuncia “declarações irresponsáveis e erradas” de Blinken.
A República Popular da China reagiu nesta quarta-feira de forma muito crítica aos apelos feitos na véspera pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, aos membros das Nações Unidas, no sentido de se permitir a participação “robusta” de Taiwan na organização. Pequim garantiu que “não aceitará de nenhuma maneira” essa possibilidade.
Através de um longo comunicado, a embaixada chinesa nos Estados Unidos denunciou as “declarações irresponsáveis e erradas” do chefe da diplomacia norte-americana e acusou Washington de estar a “distorcer intencionalmente” e a “enganar a opinião pública” ao “dar relevância” aos assuntos relacionados com a ilha que disputa a sua soberania com a China.
A representação diplomática da China nos EUA lembrou que a aprovação da resolução 2758 pela Assembleia Geral da ONU, há 50 anos, transformou o princípio da existência de “uma só China” num “consenso comum na comunidade internacional”.
“Taiwan é parte inalienável do território chinês. Cento e oitenta países, incluindo os Estados Unidos, estabeleceram relações diplomáticas com a China depois de aceitarem o princípio ‘uma só China’”, disse a embaixada.
“Pedimos aos Estados Unidos que reconheçam os factos, que mantenham os seus compromissos, que se cinjam ao princípio ‘uma só China’ e aos comunicados conjuntos, e que respeitem a resolução 2758 da Assembleia Geral da ONU”, acrescentou.
A resolução em causa, de 25 de Outubro de 1971, “restaurou” os “direitos jurídicos” da República Popular da China, “reconhecendo os representantes do seu Governo como os únicos representantes legítimos da China nas Nações Unidas” e decretando que Taiwan – representada na ONU e no Conselho de Segurança como República da China (ROC) desde 1945 – deixava de ter direito ao lugar que “ocupou ilegitimamente nas Nações Unidas e em todas as organizações a ela ligadas”.
Desde essa altura que a China tem bloqueado todas as tentativas de Taiwan para participar ou para ter acesso às agências da ONU e a outras organizações internacionais, denunciando aquilo que considera serem aspirações “independentistas” da ilha.
Blinken considera, porém, que a exclusão de Taiwan das iniciativas da ONU “prejudica o importante trabalho” da organização e das suas agências, defende que a ONU “ficaria a ganhar” com a participação do território e dá o exemplo da “resposta de nível mundial” de Taipé à pandemia de covid-19 como “prova do valor que a comunidade internacional dá às contribuições de Taiwan”.
Conflito antigo
A disputa entre a Pequim e Taipé começou em 1949, quando o governo nacionalista chinês de Chiang Kai-shek fugiu para Taiwan, acossado pelas tropas comunistas de Mao Tsetung. Desde essa altura que o Partido Comunista Chinês trata o território como uma província chinesa “temporariamente ocupada”.
Nos últimos anos, porém, Pequim tem intensificado os discursos e tomadas de posição públicas sobre o seu desejo de reunificação da ilha com a China continental. O governo taiwanês diz mesmo que a China terá capacidade para invadir o território até 2025.
Apesar de só ter relações diplomáticas oficiais com 15 países, Taiwan conta com o apoio e a solidariedade de países como os Estados Unidos, o Japão ou a Austrália, que têm investido na ilha e demonstrado publicamente a sua oposição aos exercícios militares chineses cada vez mais recorrentes no Estreito de Taiwan.
No seu comunicado, a embaixada chinesa nos EUA sublinhou que a “tentativa dos EUA de criarem ‘uma China, uma Taiwan’ ou ‘duas Chinas’ na ONU terminou num completo fracasso” e criticou os norte-americanos por “continuarem a apoiar abertamente as forças independentistas de Taiwan, desafiando o Direito Internacional e as normas básicas que regem as relações internacionais”.
E rebateu o apelo dos EUA sobre a participação de Taiwan na ONU: “Ponham fim aos contactos oficiais com Taiwan, deixem de fazer declarações irresponsáveis e erradas e adoptem acções reais para manter o estado actual das relações entre China e EUA, e a paz e a estabilidade no Estreito [de Taiwan]”.