Viste um periquito-de-colar na tua cidade? Avisa

SPEA desafia os portugueses a olharem para o céu ao final do dia durante o mês de Novembro. A iniciativa, integrada no projecto Ciência Cidadã, vai fornecer informação valiosa para servir de base ao censo nacional da espécie.

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Machos distinguem-se das fêmeas pelo seu colar preto e rosa Nicolas Renac

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) desafia os portugueses a procurarem periquitos-de-colar ao final do dia durante o próximo mês. De acordo com o comunicado divulgado pela organização, as aves exóticas, que sobrevoam várias cidades portuguesas, serão provavelmente antigos animais de estimação que fugiram do cativeiro ou os seus descendentes. Esta iniciativa da SPEA, à semelhança da do ano passado, vai fornecer informação importante para servir de base ao censo nacional da espécie, que será realizado este Inverno.

O periquito-de-colar (também conhecido por periquito-rabijunco) é uma espécie gregária e muito social, que se reúne em dormitórios comunais que podem chegar a juntar centenas de aves. É para identificar os locais em que estas aves se agrupam para dormir que a SPEA pede a ajuda de cidadãos, independentemente da experiência que tenham (ou não) como observadores. Citado na nota de imprensa enviada ao P3, Hany Alonso, técnico da SPEA responsável por esta acção, pede que “as pessoas dêem um passeio depois das 16h30” e que registem os periquitos que observarem em periquitos.spea.pt, incluindo se se estão a alimentar ou se estão juntos numa árvore para descansar.

Originário da África subsaariana e do sul da Ásia, o periquito-de-colar (Psittacula krameri) começou a aparecer em Portugal no final dos anos 70. Em 2008, a população nacional desta espécie foi estimada em 270 indivíduos. Desde então tem aumentado substancialmente, principalmente em Lisboa, onde, segundo uma estimativa mais recente, haveria cerca de 650 periquitos. Na capital, de acordo com a SPEA, a Quinta das Conchas e o Jardim da Estrela são bons locais para observar a espécie. Existem também populações estabelecidas de periquito-de-colar no Porto, em Coimbra, nas Caldas da Rainha e nos Açores.

A espécie tem-se fixado em várias cidades europeias, onde encontra alimento, refúgio e sítios adequados para nidificar nas áreas verdes dos centros urbanos, comprovando assim a sua grande capacidade de adaptação. É necessário garantir a sua monitorização, pois se a população crescer em demasia, pode vir a tornar-se uma ameaça para espécies autóctones. Apesar de ainda não existirem dados sobre o impacto do periquito-de-colar na biodiversidade nativa de Portugal, em certos locais de Espanha compete já com morcegos e mochos pelas cavidades das árvores, onde nidifica, e com aves frugívoras pelo alimento. 

Este periquito de coloração geral verde distingue-se de outras espécies através da parte superior do seu bico, que é vermelha, e da sua longa cauda pontiaguda, com as penas centrais verde azuladas. Se a ave tiver um colar preto e rosa significa que é macho. Outras características que ajudam a identificar os periquitos-de-colar são as suas penas de voo mais escuras que o resto do corpo, visíveis apenas quando estão a voar, e o ruído que fazem. Comem por norma frutos, grãos, sementes, bagas e flores. Em Portugal, sabe-se que há periquitos-de-colar a alimentarem-se de citrinos, figos, azeitonas, como também de frutos do lódão-bastardo e da catalpa. 

Este desafio decorre no âmbito do projecto Ciência Cidadã, que mobiliza os cidadãos para participarem de forma voluntária e activa na monitorização das populações de aves em Portugal. É financiado pelo Programa Cidadãos Activos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto. O projecto tem como parceiros a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA).

Texto editado por Amanda Ribeiro

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