Em Lisboa, ministro brasileiro da Saúde diz que Governo tudo fez para combater a pandemia

Numa conferência sem direito a perguntas ou a presença de estudantes, Marcelo Queiroga evitou os temas que mancham a estratégia de Bolsonaro face à covid-19.

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Manifestação contra a presença de Marcelo Queiroga na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa ANTÓNIO PEDRO SANTOS / LUSA

O ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Queiroga, esteve esta terça-feira em Lisboa para enaltecer a actuação do Governo federal face à covid-19, garantindo que foram tomadas “todas as providências para minimizar o impacto da pandemia”. No entanto, deixou de lado todos os pormenores que mancham a resposta brasileira.

No mesmo dia em que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado sobre a pandemia vota o relatório final em que Queiroga figura entre uns responsáveis pela má gestão da pandemia, o ministro esteve na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a convite da instituição, para elencar os pontos fortes da estratégia do Governo federal.

O relatório da comissão indicia Queiroga pelos crimes de epidemia com resultado morte e prevaricação.

O médico cardiologista, que assumiu o cargo no final de Março, focou-se praticamente nos últimos meses, destacando que se verificou “uma redução de 90% dos casos e de 90% dos óbitos” desde então. Para esse resultado, disse Queiroga, a “principal política” tem sido a campanha de vacinação em curso.

No entanto, o ministro deixou de fora todo o historial de desvalorização e de recuos do Governo liderado por Jair Bolsonaro na compra de vacinas. A CPI mostrou, por exemplo, que dezenas de propostas da Pfizer ficaram meses sem resposta e há estudos que concluem que milhares de mortes poderiam ter sido evitadas caso as negociações com as farmacêuticas tivessem sido concluídas mais atempadamente.

Ainda esta semana, Bolsonaro voltou a divulgar mentiras acerca das vacinas, ao relacionar casos de sida com a administração do imunizante. 

A apresentação exposta por Queiroga punha o Brasil no quarto lugar entre os países mais vacinados do mundo, embora em termos proporcionais o país, com 73% da população com pelo menos uma dose, não esteja sequer entre os dez primeiros. Congratulando Portugal pelo progresso na campanha de vacinação, o ministro brasileiro sublinhou que “o esforço para vacinar 10 milhões não é o mesmo esforço para vacinar 180 milhões”.

De fora da sua apresentação também ficaram as suas considerações sobre a estratégia inicial do Governo brasileiro, defendida até hoje, de permitir que o vírus circulasse entre a população de forma a evitar a aplicação de medidas de confinamento. Queiroga também nada disse acerca da prescrição de medicamentos como a cloroquina para tratar doentes com covid-19 – um método defendido por Bolsonaro, apesar de a generalidade dos estudos indicar não ter qualquer eficácia.

“O Governo do Presidente Bolsonaro tem uma atenção especial à vida”, garantiu Queiroga.

A presença de Queiroga em Lisboa foi alvo de muitas críticas por parte de organizações de imigrantes brasileiros em Portugal e à entrada da faculdade havia alguns manifestantes.

A conferência, que inicialmente seria presencial e aberta, foi transmitida apenas via online e sem a presença de estudantes ou da comunicação social. Não foi dada qualquer justificação para a alteração. Na apresentação que fez a Queiroga, o director da FMUL, Fausto Pinto, não referiu a polémica em torno do convite, referindo apenas a importância de se “pugnar pelo livre pensamento” na universidade.

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