“Tinha solução para os lesados do BES, mas não me deram tempo”, disse Ricardo Salgado ao padre da família
O sacerdote da capela da família testemunhou esta sexta-feira em tribunal. Enquanto decorre o julgamento do ex-banqueiro, no exterior do tribunal ouvem-se buzinas e protestos dos lesados do BES.
O padre da família Salgado testemunhou esta sexta-feira em tribunal, no Campus da Justiça, em Lisboa, no julgamento em que o ex-banqueiro responde por três crimes de abuso de confiança, no âmbito da Operação Marquês. De acordo com o padre Avelino Alves, Ricardo Salgado confidenciou-lhe que “o que mais o fazia sofrer eram os lesados do BES e o facto de na altura ter solução para eles, mas que não lhe deram tempo”. O padre sublinhou que é amigo do ex-banqueiro e que como amigos falavam de muitas coisas.
Avelino Alves foi chamado como testemunha de defesa de Ricardo Salgado. Contou que o conhecia há mais de 20 anos, o mesmo tempo que celebra a missa na capela da família, em Cascais.
O sacerdote disse que considera o ex-banqueiro “um homem íntegro, com valores e regras humanas e sociais bem definidas”. “Convivi com ele nestes momentos mais difíceis porque os amigos não devem fugir nestas ocasiões”, afirmou, sublinhando que Ricardo Salgado lhe tentou contar várias vezes o que aconteceu com o BES, mas que não quis ouvir. “Eu disse que não queria saber. A nossa amizade está acima destas controvérsias.”
O testemunho do padre Avelino Alves não chegou a durar dez minutos. À saída comentou o facto de ter sido diagnosticado a Ricardo Salgado a doença de Alzheimer, referindo que notou que o ex-banqueiro tinha ausências e que muitas vezes era a mulher que o ajudava a retomar o raciocínio, mas achou que tal se devia à surdez.
Ao mesmo tempo que decorre o julgamento, no exterior do tribunal ouvem-se buzinas e protestos. Alguns lesados do BES decidiram manifestar-se junto ao tribunal e reclamar o dinheiro que perderam. Há faixas com frases como: “Roubados”; “Novo Banco, paga o que deves”; “Banco de Portugal irresponsável”.
Já os advogados à chegada ao tribunal esta manhã também comentaram o facto de os juízes terem recusado suspender o julgamento como requereu a defesa de Ricardo Salgado, devido a ter sido diagnosticada ao arguido a doença de Alzheimer, facto comprovado através de um atestado médico.
“Ter Alzheimer não é opção de uma pessoa. Não é o arguido que decide ter Alzheimer”, começou por dizer Francisco Proença de Carvalho, sublinhado que “não foi o doutor Ricardo Salgado que decidiu ter esta doença, limitar a sua defesa e limitar a possibilidade de prestar declarações”
O advogado lembrou que esta é uma doença que afecta muitas pessoas em Portugal e, por consequência, as respectivas famílias.
“A única coisa que quero pedir é que respeitem esta questão da vida pessoal de uma pessoa”, disse, sublinhando que a defesa vai batalhar pela verdade em tribunal e pela preservação da dignidade humana.
Além disso, Francisco Proença de Carvalho deixou uma crítica aos juízes: “O que eu espero dos tribunais é que não julguem como se estivessem numa rede social ou como se estivessem numa caixa de comentários num tablóide”.
A próxima sessão de julgamento está marcada para dia 25 de Novembro. As alegações finais chegaram a estar previstas para esta sexta-feira, mas acabaram por ser adiadas. Uma das testemunhas, um suíço, Jean-Luc Schneider, alto quadro do Grupo Espírito Santo (GES) só está disponível para testemunhar por videoconferência e tem de ser enviada uma carta rogatória para a Suíça.