Quem consegue viajar até Glasgow de forma mais sustentável? O Climes to Go quer descobrir
Organizado pela Earth Watchers em parceria com a Get2C, o Climes to Go desafia 12 jovens a viajar de Cascais a Glasgow da forma mais sustentável, a tempo da COP26. Ganha quem conseguir guardar mais “climas”, a moeda fictícia criada para medir a pegada ecológica.
Quão sustentável pode ser uma viagem de Cascais a Glasgow? É isso que um grupo de 12 jovens vai descobrir — e prepara-se para o fazer já a partir desta sexta-feira, 22 de Outubro, no âmbito do Climes to Go, um projecto da Earth Watchers, em parceria com a Get2C, que vai juntar jovens de diferentes áreas para atingir um objectivo comum: chegar à COP26, que decorre entre os dias 31 de Outubro e 12 de Novembro na Escócia, gastando o menos “climas” (a moeda fictícia criada para medir consumos durante a jornada) possível.
Susana Carvalho, da Earth Watchers, conta ao P3 que esta organização — bastante jovem, nascida “pouco antes da pandemia” — se juntou à consultora em alterações climáticas para criar “um projecto para a sociedade civil, de modo a conseguir envolver as pessoas e falar de assuntos sérios de uma forma divertida, desafiante, aventureira e arrojada”, tendo sempre em mente a “urgência das alterações climáticas”. Foi neste caldo que surgiu o Climes to Go.
Para reunir os 12 participantes, a Earth Watchers aliou-se à Etic (Escola de Tecnologias Inovação e Criação) e à World Academy, para captar “jovens com competências diversificadas, espírito de liderança, ética” e, sobretudo “competências de comunicação”.
Foi nesta rede que Guilherme Costa foi apanhado. Foi um dos que sobreviveram ao “processo exaustivo de selecção” e está de malas feitas para embarcar na viagem. “Para mim, aceitar era a escolha óbvia. Poder participar neste evento, nesta competição que é uma coisa nova, e, a cereja no topo do bolo, poder estar presencialmente na COP26… era impossível dizer não”, conta o jovem de 30 anos, formado em Gestão e Marketing. Mais ainda, depois de já ter viajado pela Índia e pela América do Sul, sentia saudades “da aventura de fazer uma viagem”. “Apesar de o percurso estar bastante planeado, vão sempre existir imprevistos, e o que mais gosto é de improvisar”, afiança.
Os 12 participantes estão organizados em três equipas, cada uma com um tema: Produção e Consumo Sustentável, Energia e Água, na qual Guilherme se insere. A cada uma das equipas vai ser atribuído um orçamento, pago em “climas”, a tal moeda fictícia criada para esta “competição”. “As equipas têm um ponto de partida e um ponto de chegada obrigatórios. A viagem vai durar dez dias. Isto é obrigatório. O que eles fazem para chegar a Glasgow é com eles”, explica Susana.
A equipa de Guilherme já tem uma estratégia definida — que não pode ser desvendada para não ficarem em desvantagem em relação às outras equipas —, mas o jovem adianta que envolve a utilização de vários tipos de transporte, dando prioridade ao comboio. “Também vamos utilizar o autocarro — porque tivemos acesso a um documento com os gastos de Co2 dos vários tipos de transporte e, por vezes, o autocarro pode compensar mais por pessoa, uma vez que vai mais cheio”, refere. “Estamos ainda a pensar alugar um carro eléctrico para uma parte da viagem. Queremos experimentar vários tipos de transporte para, no final, vermos o que realmente compensa e as diferenças em gastos de Co2, monetariamente, porque tudo isto influencia os ‘climas’.”
Mas não só o transporte pesa nesta contabilidade. A alimentação, por exemplo, é outro factor que pode ser crucial na perda de “climas”. “Não têm todos de ser vegan”, assegura a organizadora da iniciativa. Mas o número de “climas” gastos não será o mesmo, se as equipas optarem por um hambúrguer ou por uma salada, certamente. “As pessoas têm de sentir que as suas escolhas são importantes, mas não têm de estar em ansiedade ou radicalismo”, tranquiliza.
Pelo caminho poderão empreender actividades que lhes permitam ganhar “climas” extras, como, por exemplo, voluntariado. “Isto faz com que tenham uma folga no orçamento, mas também que desfrutem da viagem, aprendam, vejam e partilhem experiências com outras comunidades”, diz Susana. E terão ainda desafios, como o de transformar um objecto encontrado no lixo num objecto de valor, para mostrar que, “muitas vezes, o lixo é valor”.
Todos os passos serão monitorizados pela Earth Watchers, através de uma espécie de diário de bordo que os participantes deverão fazer ao longo da viagem. No final, há-de ser escolhida uma equipa vencedora — ainda que a competição entre elas seja mais em modo de cooperação, como Guilherme assegura.
Chegados a Glasgow, todos poderão entrar na COP26, sendo esse o “culminar da experiência”. “Cascais vai ter um evento paralelo em conjunto com outros países e a ideia é que eles partilhem a sua experiência”, conta Susana.
A jornada promete ser longa, mas também necessária. Afinal, esta é uma viagem de aprendizagem, mas também de activismo — porque ele também se pode concretizar na “cidadania activa”, no “ser cidadão”, ao “mostrar a voz”. Neste caso, congratula-se Susana, junta-se “o verdadeiro triângulo da sustentabilidade”: o cidadão comum, as empresas (e associações ou organizações, parceiras do projecto) e o poder político. “Quando todos estes funcionam de forma integrada, é quando tudo funciona melhor”, atira. E quando a “utopia”, uma palavra de que muito gosta, fica mais perto da realidade. “A utopia é o que ainda não aconteceu, mas pode vir a acontecer. É a possibilidade.”