Governo em silêncio sobre tweets polémicos do Ministério da Cultura

Ministério tutelado por Graça Fonseca usou a conta oficial na rede social Twitter para enaltecer investimentos do PS na cultura, comparando-os aos do Governo PSD/CDS. Choveram críticas à esquerda e à direita.

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Graça Fonseca, ministra da Cultura Daniel Rocha

O primeiro-ministro e a ministra da Cultura mantiveram-se nesta quinta-feira em silêncio sobre os polémicos textos publicados na página oficial do ministério no Twitter em que são feitas comparações sobre os investimentos na cultura por este Governo e pelo executivo PSD/CDS. As críticas vieram da esquerda e da direita, com muitos a considerarem “ilegítima” a utilização de meios do Estado para o que consideram ser propaganda política.

Os dois tweets foram publicados na quarta-feira na conta oficial do Ministério da Cultura e comparam os investimentos feitos no sector em 2015, último ano do Governo PSD/CDS e os que são feitos pelo executivo PS no Orçamento do Estado para 2022. Os vários gráficos mostram que o dinheiro a aplicar no próximo ano é muito superior ao de 2015.

As críticas, principalmente nas redes sociais, surgiram de imediato. Ao final da manhã desta quinta-feira, o PÚBLICO questionou o gabinete do primeiro-ministro e o Ministério da Cultura, não obtendo até ao final da tarde qualquer resposta

Perto das 21h desta quinta-feira, já a notícia estava publicada, um assessor da ministra da Cultura, Bruno Fraga, entrou em contacto com o PÚBLICO afirmando não ter recebido nenhum e-mail com perguntas sobre este assunto. Afinal, o endereço para onde tinham sido enviados as perguntas não era o correcto. O PÚBLICO voltou a enviar as perguntas para o novo endereço electrónico dado pelo colaborador do ministério, estando a aguardar as respostas.

Também contactado pelo PÚBLICO, Alexandre Quintanilha, deputado do PS e presidente da Comissão Parlamentar de Cultura, optou por não fazer qualquer comentário.

“Lamentável” e “condenável”

Quem não ficou calado foi o também deputado do PS Pedro Delgado Alves. No programa Linhas Vermelhas, na SICN, o tema foi chamado ao debate pelo social-democrata Miguel Morgado, que, na noite de quarta-feira, considerou que aqueles textos e gráficos eram “uma perfeita aldrabice” e “um uso ilegítimo de meios do Governo para fazer propaganda política.

Pedro Delgado Alves, respondeu, igualmente de forma crítica. “Este tweet é lamentável, condenável e não justificável em contexto algum. Não compete a uma conta oficial do Governo entrar num debate comparativo com um governo anterior”, afirmou o deputado socialista.

Ainda à esquerda, Daniel Oliveira, comentador político e antigo militante do BE, utilizou a sua conta no Twitter para comentar as publicações. “Os orçamentos para a Cultura têm sido vergonhosos. Mas isso nem é um debate quando um perfil de uma rede social do Estado é usado para propaganda descaradamente partidária, ainda mais no meio de uma negociação. A pressa para entrar na fase da campanha eleitoral parece ser grande”, afirmou.

"Enorme desonestidade"

Já à direita, Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS, afirmou ao jornal I que a “publicação em causa revela uma enorme desonestidade intelectual e uma manipulação populista sem qualquer freio”.

Disse ainda ser de uma “desfaçatez inqualificável” por “fazer comparações entre escalas diferentes, entre percentagens e valores absolutos”. “O que é ainda mais inacreditável é que se usem plataformas oficiais do Governo para fazer propaganda sectária e partidária. O descaramento desta governação começa mesmo a atingir níveis absurdos” disse ainda ao I.

Michael Seufert, antigo deputado centrista, também usou a sua conta no Twitter para considerar a publicação como “propaganda nos órgãos de Estado”.

Na mesma rede social, Carlos Guimarães Pinto, ex-líder do Iniciativa Liberal, partilhou a imagem, considerando-a um “exemplo de utilização de meios do Estado para propaganda partidária por parte do PS”.

Por fim, também no Twitter, Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD e candidato derrotado à presidência da Câmara de Sintra, questionou se aquela seria “mesmo a conta oficial do Governo”. 

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