Vladimir Putin vai faltar à cimeira do clima em Glasgow
O anúncio da Rússia, o quarto emissor mundial de gases com efeitos de estufa, é um golpe para os objectivos do COP26 e indica a falta de compromisso dos líderes mundiais para as questões climáticas.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, não irá comparecer pessoalmente na cimeira climática COP26, a realizar-se em Glasgow, anunciou o Kremlin esta quarta-feira, sem justificar a decisão. Adiantou, ainda assim, que as alterações climáticas são uma prioridade “importante” para a Rússia, que deverá enviar uma delegação a rondar as 300 pessoas.
Putin já tinha indicado na semana passada estar relutante em participar na cimeira devido ao risco associado ao coronavírus, num momento em que a Rússia enfrenta um momento crítico da pandemia.
“Infelizmente, Putin não irá a Glasgow”, confirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, embora o líder russo deva participar remotamente. “Os temas que serão discutidos em Glasgow neste momento são umas das prioridades da nossa política externa”, continuou.
A cimeira organizada pelo Reino Unido entre 31 de Outubro e 12 de Novembro é encarada como um momento crucial para conter as emissões de gases com efeito de estufa, limitar o aumento da temperatura global e dos efeitos das alterações climáticas.
E se a menos de duas semanas da COP26 “mais de 120” líderes mundiais confirmaram a sua presença, segundo um porta-voz de Downing Street, o anúncio russo é visto como um golpe nos esforços de negociação com os líderes mundiais para a adopção de medidas mais ambiciosas.
A credibilidade e margem de acção da cimeira pode ficar ainda mais comprometida com a incerteza que paira sobre a participação de líderes de países responsáveis por grande parte das emissões de gases. Em concreto, espera-se que o homólogo chinês, Xi Jinping não compareça – pode vir a participar virtualmente – e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ainda não deu a sua confirmação.
“Será mais difícil agora para o Reino Unido argumentar que os líderes mundiais estão totalmente comprometidos na questão, quando o líder do quarto maior emissor de carbono do mundo não vai comparecer”, resume a BBC sobre o impacto do anúncio do Kremlin.
A Rússia assume o quarto lugar na emissão de gases com efeitos de estufa, a seguir à China (emite a maior fatia de gases com efeito de estufa), aos Estados Unidos e à Índia. Além disso, é um grande exportador de petróleo, carvão e gás natural – os principais combustíveis fósseis responsáveis pelas alterações do clima.
Para os especialistas do Climate Action Tracker, que monitorizam as promessas verdes dos países, a estratégia ambiental para 2030 segundo o Acordo de Paris é considerada “altamente insuficiente”.
Apesar disso, Putin anunciou na semana passada um plano para atingir a neutralidade carbónica até 2060. O plano sugere uma prioridade na absorção do carbono emitido pelo país, através das florestas da Sibéria, e prevê um maior uso do hidrogénio, do amónio e do gás natural nos próximos anos para reduzir o uso do carvão e do petróleo.
Enquanto isso, o aquecimento global já se faz notar na Rússia. O país está a aquecer 2,8 vezes mais rápido do que a média global, impulsionando o derretimento do permafrost (solo permanentemente congelado) da Sibéria, o que cobre 65% da área do território russo.