Infografia
O Panteão que agora também acolhe Aristides de Sousa Mendes
Inaugurado em 1966, o Panteão Nacional guarda a memória de portugueses que, pela sua acção, mereceram uma homenagem especial do país. Num acto de desobediência ao regime de António de Oliveira Salazar, Aristides de Sousa Mendes salvou milhares de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial. E pagou um elevado preço por isso. Nesta terça-feira torna-se o mais recente habitante deste espaço, mesmo que de forma simbólica, já que o seu corpo não foi trasladado para Lisboa.
Cenotáfios
Monumento a um morto
sem a presença do corpo
Túmulos
Interactivo
1966
O Panteão Nacional é inaugurado na Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, depois de ter sido criado por decreto mais de 100 anos antes, em 1836. Tem como principal objectivo homenagear e perpetuar a memória de portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade. Os primeiros homenageados chegaram ao Panteão logo em 1966, com a trasladação dos corpos de Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, João de Deus, Óscar Carmona, Sidónio Pais e Teófilo Braga. Em vários casos, contudo, essa trasladação não aconteceu, sendo as "Honras de Panteão" garantidas com a colocação de uma lápide ou monumento alusivo ao homenageado.
Luís de Camões
1524/1525?-1580
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É um dos maiores poetas da língua portuguesa. Terá nascido por volta de 1524/1525. Em Goa, para onde partiu, em 1553, integrado na armada de Fernão Álvares Cabral, escreveu grande parte de Os Lusíadas. Explica o registo histórico do Panteão Nacional que os seus presumíveis restos mortais foram recuperados da Igreja de Santa Ana em Lisboa e levados para o Mosteiro de Belém em 1880, por ocasião da celebração do tricentenário da sua morte, como explica a pequena biografia do poeta no site do Panteão Nacional.
Foi um dos vultos nacionais escolhidos por uma comissão criada em 1965, a Comissão Consultiva para as obras de Santa Engrácia, sob a presidência do historiador Damião Peres. Tal como no caso de Vasco da Gama, D. Nuno Álvares Pereira, Afonso de Albuquerque, Pedro Álvares Cabral e o Infante D. Henrique, optou-se por uma solução memorial apenas evocativa, com base num cenotáfio, sem a presença física dos restos mortais no Panteão Nacional.
Pedro Álvares Cabral
1467/1468-1520/1526
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O navegador português, que terá nascido na Beira Baixa, foi capitão-mor da armada que, em 1500, partiu para a Índia, numa viagem atribulada, acabando por aportar em Terras de Vera Cruz. O Brasil era, assim, oficialmente descoberto a 22 de Abril de 1500. Depois do regresso de Vasco da Gama, em 1498, Álvares Cabral foi nomeado por D. Manuel I comandante da segunda viagem marítima com destino à Índia, que partiria da praia do Restelo a 9 de Março de 1500.
A 14 de Março de 1903, parte dos seus restos mortais foi transportada da Igreja da Graça de Santarém, onde está sepultado, para um jazigo na Antiga Sé do Rio de Janeiro
Infante D. Henrique
1394-1460
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“Quinto filho do rei D. João I e de D. Filipa de Lencastre, cuja descendência directa Camões apelidou de 'Ínclita Geração', nasceu no Porto a 4 de Fevereiro de 1394. Teve um papel determinante nos Descobrimentos Portugueses. Foi uma das figuras mais importantes do início dos Descobrimentos Portugueses, sendo decisiva a sua acção no Norte de África, nas conquistas feitas aos muçulmanos, e no Atlântico, com a descoberta dos arquipélagos da Madeira e dos Açores e o reconhecimento e fixação de entrepostos comerciais na costa ocidental africana.” Assim começa a nota biográfica do Infante que consta da informação disponibilizada ao público pelo Panteão Nacional.
Morreu a 13 de Setembro, na vila de Sagres, com 66 anos. Sepultado provisoriamente na já desaparecida Igreja de Santa Maria da Graça de Lagos, os seus restos mortais foram trasladados para o Mosteiro da Batalha, onde permanece num dos túmulos parietais da Capela do Fundador.
Vasco da Gama
1460/1469?-1524
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O navegador português da época dos Descobrimentos comandou a armada que haveria de alcançar a Índia por mar (1497-1498). Em 1524 D. João III nomeou-o governador da Índia portuguesa, com o título de vice-rei. Morreria nesse mesmo ano, em Cochim, vítima de malária.
Os seus restos mortais foram trasladados para Portugal em 1538/1539, lê-se na nota explicativa do Panteão Nacional. Permaneceram na igreja do Convento de Nossa Senhora das Relíquias até 1880, altura em que foram acolhidos no Mosteiro dos Jerónimos por ocasião da celebração do tricentenário da morte de Luís de Camões.
Afonso de Albuquerque
1453(?)-1515
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Marinheiro, soldado, estadista, administrador e diplomata, de origem fidalga, foi o 2.º governador da Índia Portuguesa (1508-1515) cujas acções políticas e militares foram determinantes para o estabelecimento do império português no Índico.
Morreu no mar a 16 de Dezembro de 1515. Foi sepultado na Igreja de Nossa Senhora da Serra, em Goa, de onde foi trasladado, em 1566, para o panteão familiar na igreja do Convento de Nossa Senhora da Graça, em Lisboa. Com a destruição do cenóbio pelo terramoto de 1755, perdeu-se o túmulo do grande vice-rei, lê-se na nota explicativa do Panteão Nacional.
D. Nuno Álvares Pereira
1360-1431
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Enquanto comandante militar teve um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal lutou pela sua independência face a Castela. Em 1384, foi nomeado por D. João de Avis Condestável de Portugal. “O seu génio guerreiro revelou-se de novo em Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385. Esta batalha viria a ser decisiva para a consolidação da independência portuguesa.” Fundou o Convento de Nossa Senhora do Vencimento do Monte do Carmo em 1389. Foi beatificado em 1918 pelo Papa Bento XV e canonizado pelo Papa Bento XVI, em 2009.
O seu túmulo perdeu-se com a destruição causada pelo terramoto de 1755, mas foram recuperadas algumas ossadas, tomadas como relíquias, hoje divididas entre a Capela da Ordem Terceira, no Largo do Carmo, e a Igreja do Santo Condestável, em Lisboa.
Teófilo Braga
1843-1924
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Nascido na cidade de Ponta Delgada na ilha açoriana de São Miguel, foi político, escritor e ensaísta. Liderou o Governo Provisório formado com a instauração do regime republicano (de 6 de Outubro de 1910 a 3 de Setembro de 1911) e foi Presidente da República em 1915. Autor de uma vasta e variada obra literária composta por mais de três centenas de títulos, escreveu poesia, obras de ficção e vários ensaios dedicados à História Universal, do Direito, do Teatro, da Literatura.
Morreu aos 81 anos e foi sepultado na sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos, onde esteve até à inauguração do Panteão Nacional em 1966, para o qual foram também transferidos da antiga sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos os antigos presidentes da República Sidónio Pais e Óscar Carmona e os escritores Almeida Garrett, João de Deus e Guerra Junqueiro.
Sidónio Pais
1872-1918
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Nasceu em Caminha no primeiro dia de Maio de 1872. Foi como militar e político que se destacou. “Após a implantação da República, exerceu funções de deputado, ministro do Fomento, da Guerra, das Finanças, dos Negócios Estrangeiros, de embaixador de Portugal em Berlim, assumindo a Presidência da República após o golpe de Estado de 1917”, prossegue a biografia disponibilizada pelo Panteão. Em 1918 “obteve uma votação sem precedentes, que contou com o apoio de monárquicos e católicos”. Mas não escaparia à espiral de violência instalada, sendo assassinado a tiro, a 14 de Dezembro de 1918, na Estação do Rossio, por José Júlio da Costa, um militante republicano.
“O seu corpo tumulado, primeiro no Mosteiro de Belém e, depois de 1966, no Panteão Nacional, foi sempre objecto de devota romagem”, informa o site do Panteão Nacional.
Óscar Carmona
1869-1951
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Descendente de militares, nascido em Lisboa, formou-se no Colégio Militar e na Escola do Exército. Ministro da Guerra (1923), ministro dos Negócios Estrangeiros (1926), António Óscar de Fragoso Carmona assumiu as funções de Presidente da República a 16 de Novembro de 1926, vindo a ser o 11.º Presidente da República Portuguesa e, a partir de 1933, o primeiro do Estado Novo. Permaneceu no cargo até à data da sua morte, a 18 de Abril de 1951. Foi o Presidente da República Portuguesa que mais tempo permaneceu em funções.
Sepultado no Mosteiro dos Jerónimos até à conclusão do Panteão Nacional para onde foi trasladado em 1966, aquando da sua inauguração.
Almeida Garrett
1799-1854
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O escritor e político João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, nascido no Porto, educado na ilha Terceira e depois em Coimbra, foi um grande impulsionador do teatro em Portugal, promoveu a edificação do Teatro Nacional e a criação do Conservatório de Arte Dramática. Visando a renovação da dramaturgia portuguesa, escreveu e levou à cena peças de carácter histórico.
“No âmbito do culto patriótico, foi de sua iniciativa a ideia de criação de um Panteão Nacional, a ser instituído no Mosteiro dos Jerónimos, que, à imagem dos modelos francês e inglês, homenageasse alguns dos mais insignes heróis nacionais. Os seus restos mortais viriam a ser ali depositados, em 1903, sendo trasladados para Santa Engrácia em 1966, aquando da inauguração do monumento como Panteão Nacional”, informa o Panteão.
Guerra Junqueiro
1850-1923
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Nasceu em Freixo de Espada à Cinta. Depois de ter passado pelo seminário, escolheu seguir uma carreira literária, distinguindo-se como poeta e escritor. Fez parte do movimento académico de Coimbra, conhecido como Geração de 70, ao lado de Antero de Quental, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, pugnando pela renovação da vida política e cultural portuguesa. Abílio Manuel de Guerra Junqueiro desenvolveu uma intensa actividade política, tendo sido deputado entre 1878 e 1891.
Morreu a 7 de Julho de 1923 e teve exéquias fúnebres nacionais para o Mosteiro dos Jerónimos, de onde foi conduzido para o Panteão Nacional em 1966.
João de Deus
1830-1896
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“Nascido em São Bartolomeu de Messines no Algarve, ingressou no Seminário de Coimbra, mas a falta de vocação eclesiástica levou-o a cursar Direito. Sem gosto particular pela advocacia tornar-se-ia, por vocação, um ilustre poeta lírico. Viria, porém, a alcançar extraordinária popularidade como pedagogo, pelo seu envolvimento nas campanhas de alfabetização, criando um inovador método de ensino da leitura às crianças, assente na Cartilha Maternal, de sua autoria (1876), aprovado, dois anos depois, como o método nacional de aprendizagem da leitura e da escrita da língua portuguesa”, lê na biografia de João de Deus de Nogueira Ramos disponibilizada pelo Panteão Nacional.
Foi inumado neste monumento em 1966, depois de, no ano da sua morte, os seus restos mortais terem sido depositados na capela do baptistério do Mosteiro dos Jerónimos.
Humberto Delgado
1906-1965
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Humberto da Silva Delgado, natural de Torres Novas, concluiu os cursos de Artilharia (1925), de Piloto-Aviador (1928) e de Estado-Maior (1936). “Depois de ter apoiado, durante largos anos, as posições oficiais do Estado Novo, o seu percurso político ficaria marcado pela candidatura à Presidência da República nas eleições presidenciais de 1958.” Foi o único candidato da oposição nas eleições de 1958. Ficou conhecido como o “General sem Medo”.
Foi assassinado pela polícia política perto de Badajoz, em Villanueva del Fresno, a 13 de Fevereiro de 1965. Os seus restos mortais, depois de identificados, foram inumados no cemitério de Villanueva del Fresno. A trasladação para Portugal apenas ocorreu a 23 de Janeiro de 1975, para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Foi nomeado, a título póstumo, marechal da Força Aérea em 1990, altura em os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional.
Amália Rodrigues
1920-1999
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Amália da Piedade Rebordão Rodrigues, nascida na freguesia da Pena, em Lisboa, foi fadista e actriz. A nota biográfica que consta no panteão resume assim esta personalidade: “Dona de uma voz soberba, com uma carreira internacional brilhante, iniciada nos anos 40, jamais igualada por qualquer outro artista português, Amália foi uma das grandes cantoras do século XX. O simbolismo do fado na cultura portuguesa, aliado às qualidades artísticas da obra de Amália Rodrigues e aos contributos que deu para a difusão da cultura e da língua portuguesas em todo o mundo, de Paris a Tóquio, da União Soviética aos Estados Unidos, fez dela uma das mais reconhecidas embaixatrizes de Portugal.”
Morreu a 6 de Outubro de 1999, na sua casa em São Bento (Lisboa). Em 2001, foi-lhe atribuído um lugar no Panteão Nacional.
Manuel de Arriaga
1840-1917
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Foi o primeiro Presidente da República Portuguesa, constitucionalmente eleito. Natural da cidade da Horta, nos Açores, teve uma carreira política intensa, ligada ao Partido Republicano. Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue foi escritor, poeta, Procurador da República. “Eleito Presidente da República a 24 de Agosto de 1911, ocuparia o cargo até 1915, num período bastante agitado, marcado pela sucessão de governos, por uma grande instabilidade entre os partidos e por uma forte tensão internacional que iria desembocar na Primeira Grande Guerra.”
Sepultado em jazigo de família no Cemitério dos Prazeres à data da sua morte ocorrida a 5 de Março de 1917, foi trasladado para o Panteão Nacional a 16 de Setembro de 2004.
Aquilino Ribeiro
1885-1963
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Nasceu em Sernancelhe e estudou em Lamego antes de entrar no Seminário de Beja. Depressa abandonou o meio religioso, fixando-se em Lisboa. “Destacou-se como romancista na primeira metade do século XX, alcançando grande êxito junto do público e da crítica”, resume a nota explicativa do Panteão sobre a vida do autor. A sua actividade jornalística e a sua ligação ao Grande Oriente Lusitano obrigaram-no a exilar-se em diferentes momentos da sua vida, em França, na Alemanha e em Espanha.
Do talhão dos escritores do cemitério dos Prazeres, onde se encontrava sepultado, foi trasladado, em 2007, para o Panteão Nacional.
Sophia de Mello Breyner Andresen
1919-2004
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Um dos nomes maiores da poesia do século XX português, nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919. “Tornou-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política democrática, denunciando o regime salazarista e os seus seguidores. Publicou os primeiros versos em 1940 na revista Cadernos de Poesia, com a qual colaborou”, lê-se na sua biografia. Em 1999 foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa: o Prémio Camões. Recebeu ainda o Prémio Max Jacob em 2001 e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 2003, entre outros.
Morreu aos 84 anos, no dia 2 de Julho de 2004, em Lisboa. Foi trasladada para o Panteão Nacional a 2 de Julho de 2014, dez anos após a sua morte.
Eusébio da Silva Ferreira
1942-2014
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Nasceu em Lourenço Marques, Moçambique. Fixou-se em Portugal aos 17 anos. Foi considerado um dos melhores jogadores de futebol do século XX. O seu extraordinário desempenho, velocidade, técnica e remate fortíssimo tornaram-no conhecido como o “Pantera Negra”. Em 1966 foi o melhor marcador do Campeonato do Mundo, em Inglaterra, sendo reconhecido como um dos melhores marcadores de sempre do futebol mundial. No ano anterior ganhou a Bola de Ouro – Melhor Jogador Europeu. Foi o primeiro jogador a ganhar a Bota de Ouro, em 1968, feito que repetiria em 1973.
Do cemitério do Lumiar, onde foi sepultado à data da sua morte a 5 de Janeiro de 2014, foi trasladado para o Panteão Nacional a 3 de Julho de 2015.
Aristides de Sousa Mendes
1885-1954
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“Ele não era perfeito.” A frase, repetida, amiúde, pelo bisneto de Aristides de Sousa Mendes, Silvério de Sousa Mendes, pretende deixar claro que, ao longo da sua vida pessoal e profissional, o cônsul Aristides de Sousa Mendes cometeu erros e teve falhas. Mas tudo isso fica colocado num plano secundaríssimo, quando comparado com a acção que o leva a merecer, hoje, um lugar no Panteão Nacional: o acto de desobediência ao regime de António de Oliveira Salazar, ao passar milhares de vistos aos refugiados que bateram à porta do consulado português em Bordéus, França, em 1940, quando ali exercia as funções de cônsul.
Gémeo de César de Sousa Mendes, Aristides cursou Direito em Coimbra, como o irmão, e ingressou na carreira diplomática. Teve 14 filhos com a sua mulher Angelina, e a numerosa família acompanhou-o pelos vários países em que exerceu uma posição consular, de Zanzibar a Bordéus. Teve também uma outra filha, fruto de uma relação com a francesa Andrée Cibial, com quem se casaria após a morte da primeira mulher. Alvo de um processo disciplinar pelo seu acto de desobediência, foi afastado da carreira diplomática e impedido de exercer advocacia pelo regime ditatorial. Sem meios dignos de subsistência, morreu na miséria, em Lisboa, na Ordem Terceira de S. Francisco. Reconhecido internacionalmente como herói, tardaria em sê-lo também em Portugal, mas em 1987 o então Presidente da República, Mário Soares, concedeu-lhe a título póstumo a Ordem da Liberdade, e no ano seguinte a Assembleia da República reintegrou-o no serviço diplomático. Marcelo Rebelo de Sousa atribuiu-lhe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade em 2017.