Quem quer pagar 23 euros por um golpe de Estado na Guiné-Bissau?
Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau denunciou que andam a aliciar soldados oferecendo 15 mil francos CFA para se sublevarem. O general Biagué Na N’Tan diz que a denúncia veio dos próprios militares.
O general Biagué Na N’Tan denunciou que na Guiné-Bissau se anda, alegadamente, a preparar um golpe de Estado, tentando aliciar jovens soldados para a causa através da oferta de 15 mil francos CFA, o equivalente a pouco mais de 23 euros.
Falando na cerimónia do dia da Polícia Militar (PM), na quinta-feira, o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas guineense dirigiu-se directamente aos recrutas presentes: “Quero pedir-vos, vocês da Polícia Militar, para não alinharem com as pessoas que estão a mobilizar militares nos quartéis”.
Citado pelo jornal online guineense O Democrata, o general referiu que “todos os jovens mobilizados denunciaram aos seus superiores hierárquicos” o suposto aliciamento. “O vosso futuro não se compara aos dez mil francos CFA que estão a oferecer aos militares para abrirem contas bancárias, não resolverão os vossos problemas nem os da vossa família”, acrescentou.
Num país com um longo historial de golpes e tentativas de golpes de Estado (e de interferência das Forças Armadas no poder político), as denúncias de mobilizações com vista a uma intentona militar nunca são encaradas de ânimo leve, mais ainda num país que tem vivido em permanente clima de tensão desde que Umaro Sissoco Embaló (que está em França em visita oficial, tendo esta sexta-feira se encontrado com o Presidente francês, Emmanuel Macron) chegou ao poder e derrubou o Governo de Aristides Gomes, do PAIGC, que detinha maioria no Parlamento, em Fevereiro do ano passado.
Aos efectivos da PM, batalhão que depende directamente da divisão de operação e treino da Estado-Maior General das Forças Armadas, Biagué Na N’Tan afirmou que “as forças armadas já se afastaram da política”. “Vocês também não devem envolver-se na política. Desistam da política, camaradas”.
O chefe das Forças Armadas garantiu ainda que todos os militares que teriam tentado mobilizar efectivos para levar a cabo um golpe militar “estão identificados”. Sem os denunciar publicamente, o general pediu-lhes para pararem: “Porque quem sairá prejudicado somos nós, os militares, que nessas situações somos detidos e sofremos com cortes de salários e ficamos a mendigar, mas o político fica à vontade”.
Para o comandante a questão é muito simples, os militares têm de “acompanhar essa dinâmica da paz e estabilidade”, porque sem a paz não haverá “investimentos fortes do sector privado” na Guiné-Bissau. Aproveitando ainda para explicar que os militares guineenses têm hoje a oportunidade de se formarem no Senegal e na Rússia.