UNESCO e Netflix associam-se em concurso para descobrir novos cineastas africanos
A produção de obras cinematográficas está a crescer em África, graças às tecnologias digitais, mas o potencial económico da indústria permanece “largamente inexplorado”, defende a UNESCO. Em 2022, a Netflix estreará uma série de curtas-metragens apresentada como uma Antologia de Contos Africanos.
A UNESCO e a Netflix lançaram esta quinta-feira uma competição que visa “encontrar a nova geração de cineastas de África”. Os participantes podem concorrer enviando uma proposta de sinopse e o seu currículo até 14 de Novembro, enquanto os vencedores vão ser “formados e aconselhados por profissionais da indústria, e receberão um orçamento de produção de 75 mil dólares [quase 65 mil euros] para criar curtas-metragens que se vão estrear na Netflix, em 2022, como uma Antologia de Contos Africanos”, segundo comunicado da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês).
“Um dos principais objectivos desta competição é descobrir novas vozes e dar visibilidade numa escala global a cineastas emergentes da África subsaariana. Queremos encontrar novas formas corajosas, inteligentes e surpreendentes de contar alguns dos mais amados contos tradicionais de África e partilhá-las com fãs de entretenimento pelo mundo”, acrescenta o comunicado. Para além do orçamento de produção, cada um dos seis vencedores vai receber 25 mil dólares (21.560 euros).
A produção de obras cinematográficas está a crescer em África, graças às tecnologias digitais, mas o potencial económico da indústria permanece “largamente inexplorado”, revelou, na semana passada, um estudo da UNESCO. Segundo o relatório apresentado na terça-feira pelo vice-director-geral Ernesto Ottone, África é o “continente mais mal servido” em termos de distribuição de filmes.
O estudo, que decorreu entre Novembro de 2020 e Maio de 2021, focou-se na indústria cinematográfica e audiovisual africana, e analisou os seus pontos fortes e fracos. Na apresentação do relatório foi destacado o caso de Nollywood (a indústria cinematográfica nigeriana) onde anualmente são realizados cerca de 2.500 filmes. Nollywood permitiu o aparecimento de uma indústria local de produção e difusão com o seu próprio modelo económico, que é privado.
“Ao contrário de Nollywood, a produção cinematográfica africana está a lutar para encontrar um modelo económico que garanta um crescimento sustentável, principalmente devido à dimensão e inadequação dos mercados nacionais”, afirmou Ottone. “As receitas geradas pelo sector audiovisual na maioria dos Estados africanos vão para interesses estrangeiros”, acrescentou. Ottone disse que a indústria “emprega cerca de cinco milhões de pessoas e representa cerca de quatro mil milhões de euros do PIB [Produto Interno Bruto]” de todo o continente.