Pinto Luz pede “novos protagonistas” políticos, mas não “vislumbra” quem

Vice-presidente da Câmara de Cascais lança livro na terça-feira no qual defende que a Europa precisa de novos líderes, mas acrescenta: “Em Portugal, nem vislumbro quem é que poderia fazer parte desse conjunto de novos líderes de que tanta necessidade temos.”

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Miguel Pinto Luz candidatou-se à liderança do PSD em 2020, mas agora está mais próximo de Rangel LUSA/JOSE SENA GOULAO

O ex-candidato à liderança do PSD Miguel Pinto Luz defende, num livro que será apresentado na terça-feira, que são necessários “novos protagonistas para os tempos de hoje” para que os cidadãos voltem a acreditar na política.

O livro Voltar a Acreditar na Política, editado pela Oficina do Livro, será apresentado em Lisboa pelo deputado socialista Sérgio Sousa Pinto, pelo presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, e por Nuno Sebastião, presidente da FeedZai, uma empresa portuguesa dedicada à inteligência artificial.

O lançamento contará com a presença do eurodeputado Paulo Rangel e de várias figuras do centro-direita. Em entrevista à TVI, logo no dia seguinte às autárquicas, Carlos Carreiras afirmou que Pinto Luz não disputará desta vez a presidência do PSD e confirmou existirem “pontes” entre este e Paulo Rangel, que tem deixado a porta aberta a uma nova candidatura à liderança social-democrata.

Na obra, Miguel Pinto Luz (que teve 9,5% dos votos contra Rui Rio e Luís Montenegro em 2020) diz querer aproveitar a sua experiência de político “há mais de vinte anos” para lançar esta reflexão sobre uma nova forma de fazer política, defendendo que “está na hora” de políticos e cidadãos fazerem o seu exame de consciência sobre o que tem falhado. Apesar de assegurar que não deixou de acreditar na política, o também vice-presidente da Câmara de Cascais diagnostica um “divórcio claro” entre eleitos e eleitores e o fechamento dos partidos, entre os quais inclui o PSD.

“Em particular o PSD, o meu partido, (...) nos últimos anos, tem sido incapaz de apresentar um projecto mobilizador e disruptivo, em linha com os tempos de enorme transformação que vivemos no mundo. Os seus líderes foram moldados noutros tempos, noutras realidades e não perceberam que os ventos mudaram”, defende, no capítulo inicial do livro. Esta atitude demonstra, segundo o autor, não só falta de visão destes líderes (sem especificar a quem se refere), como a “incapacidade de mostrar o caminho do progresso e do desenvolvimento”.

Já na parte final do livro, num subcapítulo intitulado “Novas lideranças, precisam-se”, o autarca começa por defender que a Europa precisa de novos líderes, dizendo que “os que não têm medo, como Angela Merkel, estão de saída”.

“Em Portugal, nem vislumbro quem é que poderia fazer parte desse conjunto de novos líderes de que tanta necessidade temos”, defendeu, lamentando que nos últimos 20 anos esses potenciais líderes tivessem ou optado por ir para empresas ou por sair do país.

Pinto Luz defende que esses novos protagonistas têm de ser “líderes com mundividência, com experiência, com cultura, com capacidade de assumir risco, com rasgo, com visão e que digam o que tem de ser dito, que não dependem da política para nada”, criticando a funcionalização dos actuais aparelhos partidários. “Temos de voltar a acreditar na política, mas para isso é necessário encontrar novos protagonistas para os tempos de hoje”, conclui.

Ao longo de cerca de 150 páginas, o autarca aponta alguns caminhos para a nova forma de fazer política que defende, como a aposta em “mensagens simples, compreendidas por todos” e em políticas com “objectivos claros e mensuráveis”, que permitam a todos avaliar os resultados.

Pinto Luz define-se como “um liberal-social”, considerando que tal compatibiliza o seu amor “à liberdade individual, sem perder de vista o bem comum”, e rejeita um Estado que seja “uma mãe galinha de filhos mimados”. “A divisão entre público e privado é uma falácia, o importante é que os serviços existam. Não importa se a educação é fornecida por públicos ou por privados, interessa a qualidade e os custos, nada mais. Na saúde, o racional é igual”, defende.

O social-democrata acusa o PS de ter colocado o país “no congelador” sem reformas estruturais e de impedir o funcionamento do elevador social. “Nós, sociais-democratas, não podemos fugir às nossas responsabilidades nesse combate (...). Não podemos desistir de vencer - e governar - em nome de reformas que só se fazem quando se lideram governos”, afirmou.

Tal como já tinha defendido no seu programa de candidatura à liderança do PSD, Pinto Luz pede um novo contrato social entre o Estado e os cidadãos, que proteja os mais desfavorecidos e assegure liberdade de escolha a todos entre público e privado em áreas como educação, saúde e segurança social. Pinto Luz defende, por exemplo, que o Rendimento Social de Inserção possa ser indexado aos resultados escolares dos filhos de quem dele beneficia, rejeitando “um discurso racista e xenófobo” contra esta prestação.

“Como liberal-social, sonho com um país onde há coesão territorial entre zonas do litoral e do interior, onde há coesão social entre portugueses com maiores e menores rendimentos”, acrescenta.

Pinto Luz pede ainda “uma revolução democrática” na Justiça - por exemplo, o Procurador-Geral da República seria nomeado para um mandato único de dez anos por uma comissão de personalidades de prestígio - e apresenta propostas para várias áreas da governação, como a cultura, a comunicação social, ambiente, mas também ideias sobre o que devem ser as cidades do futuro (com muitos exemplos da sua experiência em Cascais) ou até propostas para “salvar a União Europeia”.

“Primeiro passo fundamental na reconstrução da confiança do projecto europeu é devolver soberania aos Estados”, afirma, dizendo referir-se às “culturas, tradições e legados” de cada Estado-membro, e recusando viver num continente “homogeneizado e higienizado”.

O livro conta com prefácio de Isabel Ayuso, presidente da comunidade de Madrid, que pede um esforço para construir “uma casa comum do centro-direita” para evitar “os males que trouxeram, tanto a Portugal como a Espanha, as coligações de extrema-esquerda”.